1. No final do século
XIX e início do século XX, há uma necessidade de repensar as possibilidades de
representação do mundo por meio da arte. Essa necessidade se deve
principalmente
a) às mudanças na natureza das relações
interpessoais e de trabalho, marcadas pela transitoriedade e superficialidade,
no fenômeno que viria a ser chamado de “modernidade líquida”.
b) ao aumento do número de colecionadores e
agentes responsáveis pela comercialização de obras de arte, que passam a ser
produzidas em série e influenciam o estilo dos artistas inseridos nesse
contexto.
c) à arquitetura modernista e à gentrificação, que
reconfiguram as características de grandes centros urbanos como Paris e Nova
Iorque e levam os artistas a explorarem novas formas de representação.
d) às sucessivas crises econômicas que
desencadeiam a Segunda Guerra Mundial, o que produz uma nova mentalidade
artística e, consequentemente, novas formas de representação da realidade.
e) à necessidade de desenvolver formas de representação
que correspondessem ao mal-estar causado, entre outros fatores, pela expansão
do imperialismo e pela eclosão da Primeira Guerra Mundial.
2. Um dos mais célebres movimentos de vanguarda do
início do século XX explora, nas artes visuais, um tipo de “deformação da
realidade” que se caracteriza pelo uso de formas geométricas,
unidimensionalidade e exploração de planos e ângulos assimétricos na representação
de figuras humanas e cenários. Trata-se do
a) Expressionismo, em que se destacam artistas
como Edvard Munch e Joan Miró.
b) Surrealismo, praticado por artistas como Piet
Mondrian e Luis Buñuel.
c) Futurismo, fundado por
Filippo Marinetti e seguido por artistas como Georges Braque.
d) Cubismo, estética que marca a produção de
artistas como Pablo Picasso e Tarsila do Amaral.
e) Dadaísmo, movimento em que se enquadram as
obras de Francis Picabia e Henri Matisse.
3. A exaltação ao movimento e à força são
preceitos do Futurismo, bem como um agressivo e arrogante elogio ao presente e
ao futuro daquele momento histórico. Leia a seguir alguns trechos do “Manifesto
Futurista” (1909), de Filippo Marinetti, e identifique aquele que melhor
expressa esse elogio.
a) “Nós queremos glorificar a guerra − única
higiene do mundo −, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos
libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.”
b) “Museus: cemitérios!... Idênticos, na
verdade, pela sinistra promiscuidade de tantos corpos que não se conhecem.
Museus: dormitórios públicos em que se descansa para sempre junto a seres
odiados ou desconhecidos!”
c) “Nós estamos no promontório extremo dos
séculos!... Por que haveríamos de olhar para trás, se queremos arrombar as
misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem, estamos vivendo
no absoluto, pois já criamos a eterna velocidade onipresente.”
d) “E o que mais se pode ver, num velho
quadro, senão a fatigante contorção do artista que se esforçou para infringir
as insuperáveis barreiras opostas ao desejo de exprimir inteiramente seu
sonho?...”
e) Não há mais beleza, a não ser na luta.
Nenhuma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A
poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças
desconhecidas, para obrigá-las a prostar-se diante do homem.”
4. O conceito ready-made, ou seja, transformar um
objeto fabricado em série, apropriar-se dele e expô-lo como obra de arte, é
característico de um dos movimentos europeus de vanguarda do início do século
XX. Qual?
a)
Surrealismo.
b) Dadaísmo.
c) Expressionismo.
d) Simbolismo.
e) Romantismo.
5. O movimento expressionista, organizado na
Alemanha durante a década de 1910, é caracterizado pela expressão fortemente
pessimista e subjetiva na representação da realidade. Na pintura e no cinema,
percebe-se o uso de linhas curvas, figuras humanas deformadas e uma atmosfera
de horror e angústia. Algumas dessas características também estão presentes na
literatura expressionista. Leia as alternativas a seguir e identifique o
trecho que segue padrões dessa estética.
a) Chora-se no mundo / Como se o bom Deus
houvesse morrido, / E a plúmbea sombra que cai / Pesa como um túmulo. / Venha,
vamos nos esconder bem juntos... / A vida jaz nos corações de todos / Como em
esquifes. / Ei! Vamos nos beijar sofregamente – / Uma saudade palpita no mundo;
/ Por sua causa morreremos. (“Fim do mundo”, Else Lasker-Schüler. Trad.: Tercio
Redondo)
b) Não sou nada. / Nunca serei nada. / Não posso
querer ser nada. / À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. (“Tabacaria”, Álvaro
de Campos [Fernando Pessoa])
c) Saltos recordes / Cavalos da Penha / Correm
jóqueis de Higienópolis / Os magnatas / As meninas / E a orquestra toca / Chá /
Na sala de cocktails. (“Hípica”,
Oswald de Andrade)
d) Eu sou o olhar que penetra nas camadas do
mundo, / ando debaixo da pele e sacudo os sonhos. / Não desprezo nada que tenha
visto, / todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola. / Toco nas
flores, nas almas, nos sons, nos movimentos, / destelho as casas penduradas na
terra, / tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando. (“Cantiga de Malazarte”,
Murilo Mendes)
e) Estás apaixonado. Até o mês de agosto. / Fisgado.
– Ela com teus sonetos se diverte. / Os amigos se vão: és tipo de mau gosto. / –
Um dia, a amada enfim se digna de escrever-te!… / Nesse dia, ah! meu Deus… –
com teus ares ufanos, / Regressas aos cafés, ao chope, à limonada… / – Não se
pode ser sério aos dezessete anos / Quando a tília perfuma as aléias da
estrada. (“Minha
boêmia”, Arthur Rimbaud. Trad.: Ivo Barroso)
6. Em obras como A persistência da memória,
vemos algumas figuras enigmáticas, como os relógios derretendo e uma espécie
de rosto humano deitado numa planície. São imagens provenientes não da
realidade, mas de um outro plano existencial, muito explorado pelos artistas
ligados ao movimento de vanguarda do qual Dalí fez parte. Como se chama esse
movimento e o que esses artistas exploravam para conceber suas obras?
7. Há uma série de autores brasileiros que,
no início do século XX, fogem aos padrões do Romantismo, do Naturalismo, do
Realismo, do Simbolismo e do Parnasianismo – “escolas” literárias do século
anterior –, e não se encaixam totalmente nos padrões estéticos do Modernismo
brasileiro. Que nome é dado a esse grupo de escritores e em que período
histórico produziram suas obras?
Leia o trecho a seguir de “O homem que sabia
javanês”, de Lima Barreto.
Em uma confeitaria, certa vez, ao meu amigo
Castro, contava eu as partidas que havia pregado às convicções e às
respeitabilidades, para poder viver.
Houve mesmo, uma dada ocasião, quando estive
em Manaus, em que fui obrigado a esconder a minha qualidade de bacharel, para
mais confiança obter dos clientes, que afluíam ao meu escritório de feiticeiro
e adivinho. Contava eu isso.
O meu
amigo ouvia-me calado, embevecido, gostando daquele meu Gil Blas vivido,
até que, em uma pausa da conversa, ao esgotarmos os copos, observou a esmo:
— Tens
levado uma vida bem engraçada, Castelo!
— Só
assim se pode viver... Isto de uma ocupação única: sair de casa a certas horas,
voltar a outras, aborrece, não achas? Não sei como me tenho aguentado lá, no
consulado!
—
Cansa-se; mas, não é disso que me admiro. O que me admira, é que tenhas corrido
tantas aventuras aqui, neste Brasil imbecil e burocrático.
— Qual!
Aqui mesmo, meu caro Castro, se podem arranjar belas páginas de vida. Imagina
tu que eu já fui professor de javanês!
—
Quando? Aqui, depois que voltaste do consulado?
— Não;
antes. E, por sinal, fui nomeado cônsul por isso.
— Conta
lá como foi. Bebes mais cerveja?
— Bebo.
BARRETO,
Lima. O homem que sabia javanês. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br.
8. Lima
Barreto é autor de algumas das obras mais importantes do chamado
Pré-Modernismo. No trecho do conto “O homem que sabia javanês”, é possível
observar algumas das características desse momento literário, como o uso de
linguagem coloquial e um olhar crítico sobre os costumes e a sociedade
brasileira. Explique como esse olhar se apresenta e que tipo de crítica é feito
nesse trecho.
Augusto dos Anjos é um poeta considerado
pré-modernista por ser autor de uma obra que sintetiza várias tendências estéticas
da literatura do século XIX sem, no entanto, ser reduzido a uma delas. Leia o
poema “Versos íntimos”, um dos mais famosos de Augusto dos Anjos, para
responder às questões 9 e 10.
Vês!
Ninguém assistiu ao formidável
Enterro
de tua última quimera.
Somente
a Ingratidão − esta pantera –
Foi tua
companheira inseparável!
Acostuma-te
à lama que te espera!
O
Homem, que, nesta terra miserável,
Mora
entre feras, sente inevitável
Necessidade
de também ser fera.
Toma um
fósforo. Acende teu cigarro!
O
beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão
que afaga é a mesma que apedreja.
Se a
alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja
essa mão vil que te afaga,
Escarra
nessa boca que te beija!
ANJOS,
Augusto dos. Eu e outras poesias. 42. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1998. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br
9. Aponte
características parnasianas presentes no poema e retire exemplos que
justifiquem sua resposta.
10. Chama a
atenção em “Versos íntimos” a reflexão do eu poético sobre a existência humana.
Caracterize, com suas palavras, essa reflexão e o que é sugerido ao leitor como
reação aos desafios que essa existência propõe.