24 julho 2023

VANGUARDAS EUROPEIAS E PRÉ-MODERNISMO BRASILEIRO

1. No final do século XIX e início do século XX, há uma ne­cessidade de repensar as possibilidades de representa­ção do mundo por meio da arte. Essa necessidade se deve principalmente

a) às mudanças na natureza das relações interpessoais e de trabalho, marcadas pela transitoriedade e su­perficialidade, no fenômeno que viria a ser chamado de “modernidade líquida”.

b) ao aumento do número de colecionadores e agentes responsáveis pela comercialização de obras de arte, que passam a ser produzidas em série e influenciam o estilo dos artistas inseridos nesse contexto.

c) à arquitetura modernista e à gentrificação, que re­configuram as características de grandes centros ur­banos como Paris e Nova Iorque e levam os artistas a explorarem novas formas de representação.

d) às sucessivas crises econômicas que desencadeiam a Segunda Guerra Mundial, o que produz uma nova mentalidade artística e, consequentemente, novas formas de representação da realidade.

e) à necessidade de desenvolver formas de represen­tação que correspondessem ao mal-estar causado, entre outros fatores, pela expansão do imperialismo e pela eclosão da Primeira Guerra Mundial.

 

2. Um dos mais célebres movimentos de vanguarda do início do século XX explora, nas artes visuais, um tipo de “deformação da realidade” que se caracteriza pelo uso de formas geométricas, unidimensionalidade e ex­ploração de planos e ângulos assimétricos na represen­tação de figuras humanas e cenários. Trata-se do

a) Expressionismo, em que se destacam artistas como Edvard Munch e Joan Miró.

b) Surrealismo, praticado por artistas como Piet Mon­drian e Luis Buñuel.

c) Futurismo, fundado por Filippo Marinetti e seguido por artistas como Georges Braque.

d) Cubismo, estética que marca a produção de artistas como Pablo Picasso e Tarsila do Amaral.

e) Dadaísmo, movimento em que se enquadram as obras de Francis Picabia e Henri Matisse.

 

3. A exaltação ao movimento e à força são preceitos do Futurismo, bem como um agressivo e arrogante elogio ao presente e ao futuro daquele momento histórico. Leia a seguir alguns trechos do “Manifesto Futurista” (1909), de Filippo Marinetti, e identifique aquele que melhor expressa esse elogio.

a) “Nós queremos glorificar a guerra − única higiene do mundo −, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.”

b) “Museus: cemitérios!... Idênticos, na verdade, pela sinistra promiscuidade de tantos corpos que não se conhecem. Museus: dormitórios públicos em que se descansa para sempre junto a seres odiados ou des­conhecidos!”

c) “Nós estamos no promontório extremo dos sécu­los!... Por que haveríamos de olhar para trás, se que­remos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem, estamos vi­vendo no absoluto, pois já criamos a eterna velocida­de onipresente.”

d) “E o que mais se pode ver, num velho quadro, senão a fatigante contorção do artista que se esforçou para infringir as insuperáveis barreiras opostas ao desejo de exprimir inteiramente seu sonho?...”

e) Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostar-se diante do homem.”


4. O conceito ready-made, ou seja, transformar um objeto fabricado em série, apropriar-se dele e expô-lo como obra de arte, é característico de um dos movimentos europeus de vanguarda do início do século XX. Qual?

a) Surrealismo.

b) Dadaísmo.

c) Expressionismo.

d) Simbolismo.

e) Romantismo.

 

5. O movimento expressionista, organizado na Alemanha durante a década de 1910, é caracterizado pela expres­são fortemente pessimista e subjetiva na representa­ção da realidade. Na pintura e no cinema, percebe-se o uso de linhas curvas, figuras humanas deformadas e uma atmosfera de horror e angústia. Algumas dessas características também estão presentes na literatura ex­pressionista. Leia as alternativas a seguir e identifique o trecho que segue padrões dessa estética.

a) Chora-se no mundo / Como se o bom Deus houvesse morrido, / E a plúmbea sombra que cai / Pesa como um túmulo. / Venha, vamos nos esconder bem juntos... / A vida jaz nos corações de todos / Como em esquifes. / Ei! Vamos nos beijar sofregamente – / Uma saudade palpita no mundo; / Por sua causa morreremos. (“Fim do mundo”, Else Lasker-Schüler. Trad.: Tercio Redondo)

b) Não sou nada. / Nunca serei nada. / Não posso querer ser nada. / À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. (“Tabacaria”, Álvaro de Campos [Fernando Pessoa])

c) Saltos recordes / Cavalos da Penha / Correm jóqueis de Higienópolis / Os magnatas / As meninas / E a orquestra toca / Chá / Na sala de cocktails. (“Hípica”, Oswald de Andrade)

d) Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo, / ando debaixo da pele e sacudo os sonhos. / Não desprezo nada que tenha visto, / todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola. / Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos, / destelho as casas penduradas na terra, / tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando. (“Cantiga de Malazarte”, Murilo Mendes)

e) Estás apaixonado. Até o mês de agosto. / Fisgado. – Ela com teus sonetos se diverte. / Os amigos se vão: és tipo de mau gosto. / – Um dia, a amada enfim se digna de escrever-te!… / Nesse dia, ah! meu Deus… – com teus ares ufanos, / Regressas aos cafés, ao chope, à limonada… / – Não se pode ser sério aos dezessete anos / Quando a tília perfuma as aléias da estrada. (“Minha boêmia”, Arthur Rimbaud. Trad.: Ivo Barroso)

 

6. Em obras como A persistência da memória, vemos algu­mas figuras enigmáticas, como os relógios derretendo e uma espécie de rosto humano deitado numa planície. São imagens provenientes não da realidade, mas de um outro plano existencial, muito explorado pelos artistas ligados ao movimento de vanguarda do qual Dalí fez parte. Como se chama esse movimento e o que esses artistas exploravam para conceber suas obras?

7. Há uma série de autores brasileiros que, no início do sé­culo XX, fogem aos padrões do Romantismo, do Natura­lismo, do Realismo, do Simbolismo e do Parnasianismo – “escolas” literárias do século anterior –, e não se encai­xam totalmente nos padrões estéticos do Modernismo brasileiro. Que nome é dado a esse grupo de escritores e em que período histórico produziram suas obras?

 

Leia o trecho a seguir de “O homem que sabia java­nês”, de Lima Barreto.

Em uma confeitaria, certa vez, ao meu amigo Castro, contava eu as partidas que havia pregado às convicções e às respeitabilidades, para poder viver.

Houve mesmo, uma dada ocasião, quando estive em Manaus, em que fui obrigado a esconder a minha quali­dade de bacharel, para mais confiança obter dos clientes, que afluíam ao meu escritório de feiticeiro e adivinho. Contava eu isso.

O meu amigo ouvia-me calado, embevecido, gostando daquele meu Gil Blas vivido, até que, em uma pausa da conversa, ao esgotarmos os copos, observou a esmo:

— Tens levado uma vida bem engraçada, Castelo!

— Só assim se pode viver... Isto de uma ocupação única: sair de casa a certas horas, voltar a outras, aborre­ce, não achas? Não sei como me tenho aguentado lá, no consulado!

— Cansa-se; mas, não é disso que me admiro. O que me admira, é que tenhas corrido tantas aventuras aqui, neste Brasil imbecil e burocrático.

— Qual! Aqui mesmo, meu caro Castro, se podem arranjar belas páginas de vida. Imagina tu que eu já fui professor de javanês!

— Quando? Aqui, depois que voltaste do consulado?

— Não; antes. E, por sinal, fui nomeado cônsul por isso.

— Conta lá como foi. Bebes mais cerveja?

— Bebo.

BARRETO, Lima. O homem que sabia javanês. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br.

 

8. Lima Barreto é autor de algumas das obras mais im­portantes do chamado Pré-Modernismo. No trecho do conto “O homem que sabia javanês”, é possível obser­var algumas das características desse momento literá­rio, como o uso de linguagem coloquial e um olhar críti­co sobre os costumes e a sociedade brasileira. Explique como esse olhar se apresenta e que tipo de crítica é feito nesse trecho.

 

Augusto dos Anjos é um poeta considerado pré-mo­dernista por ser autor de uma obra que sintetiza várias tendências estéticas da literatura do século XIX sem, no entanto, ser reduzido a uma delas. Leia o poema “Ver­sos íntimos”, um dos mais famosos de Augusto dos An­jos, para responder às questões 9 e 10.

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão − esta pantera –

Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 42. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br

 

9. Aponte características parnasianas presentes no poe­ma e retire exemplos que justifiquem sua resposta.

10. Chama a atenção em “Versos íntimos” a reflexão do eu poético sobre a existência humana. Caracterize, com suas palavras, essa reflexão e o que é sugerido ao leitor como reação aos desafios que essa existência propõe.










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