18 julho 2023

O MITO DE ENÉIAS GLORIFICA AS ORIGENS OBSCURAS DA CIVILIZAÇÃO ROMANA

Com a expansão de Roma, os escritores tentaram criar uma tradição mítica que pudesse fundamentar-se na Antiguidade e na ascendência divina. Dessa forma, os romanos procuraram vencer seu contentamento face à superioridade cultural dos gregos que não sucumbiu a eles. É exatamente o herói que encarna o sentimento de rejeição à grandeza helênica. Incorporando à sua tradição o mito de Enéias, personagem homérica de origem divina – era filho de Afrodite-Vênus, os romanos respondiam a duas necessidades fundamentais de sua cultura: por um lado, impunham-se como um mundo separado da Grécia, cuja grandeza provocava neles uma hostilidade mesclada de inveja.

Enéias saiu de tróia e estabeleceu-se no Lácio. Após sua morte, seu filho Ascânio sucedeu-o no governo de Lavínia. Em Alba Longa (fundada por Ascânio), nasceriam Rômulo e Remo, os gêmeos fundadores de Roma.

O poeta Virgílio (70-19 a.C.) que deu às várias versões da lenda de Enéias a forma em que permanece até nossos dias. A Eneida, sua obra-prima, incorpora essas diferentes tradições, apresentando Enéias como símbolo não só do curso da história romana, mas também da carreira e da política do próprio Augusto (63 a.C. – 14 d.C.), o primeiro imperador romano, que se declarava descendente de Ascânio.

A ascensão de Augusto teve lugar no clima de tensão e desordem que se seguiu ao assassinato de César (101-44 a.C.). Com firmeza, ele pôs fim a guerras civis e estabeleceu uma paz que durou cerca de cem anos. Seu governo caracterizou-se pela reconstrução das instituições esfaceladas no fim da república: Augusto reformou a administração, solidificou as conquistas romanas, embelezou a cidade, fez construir estradas e favoreceu a arquitetura e a literatura.

Assim como outros de sua geração, Virgílio inflamou-se de entusiasmo pela nova ordem, e pôs-se a escrever a Eneida com o intuito de exaltar o Império e dotar sua raça de um herói nacional e de um fundador. Enéias retrata a persistência, o sacrifício de si mesmo, a dedicação a um objetivo mais alto – qualidades que, segundo o poeta, possibilitaram a construção de Roma. Seu herói pertence à mesma categoria de Heitor ou Aquiles, as grandes personagens descritas por Homero (séc. IX a.C.).




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