Os gregos já estavam
exaustos das lutas. A vitória era praticamente dos troianos. Juno, que tal
desfecho não desejava para a longa guerra, resolveu utilizar-se de ardil para
iludir o esposo e impedi-lo de continuar protegendo os soldados de Tróia.
Encerrou-se, então, em seus aposentos e deu início aos preparativos.
Primeiramente untou o belo corpo com perfumado
óleo divino. Em pesadas tranças prendeu os sedosos cabelos. Depois vestiu a
magnífica túnica que a própria Minerva havia bordado. Adornou-se de preciosas
jóias. Calçou as delicadas sandálias de ouro. E por fim envolveu-se em fino véu
dourado. Apenas um ornamento lhe faltava para obter êxito em sua trama: o cinto
de Vênus.
Juno procurou, pois, a deusa do amor e contou-lhe
que desejava usar o cinto para conciliar Oceano e Tétis, seus pais adotivos,
que há longo tempo viviam separados por infindáveis querelas.
Pela causa do amor, Vênus tudo concedia. E, sem
desconfiar das verdadeiras intenções de Juno, sorrindo retirou da cintura a
mágica faixa bordada de encantos e conselhos, e entregou-a à esposa de Júpiter.
A majestosa deusa cingiu-a e imediatamente saiu
em busca do Sono: “Sono, governante de todos os deuses e de todos os homens, já
atendeste antes aos meus apelos, portanto atende-me de novo e ser-te-ei grata
por todos os meus dias. Faze com que os brilhantes olhos de Júpiter durmam para
mim, sob suas sobrancelhas, logo que eu esteja deitada ao seu lado para o amor.
Dar-te-ei presentes: um belo trono de ouro indestrutível. Vulcano, meu filho
coxo, há de construí-lo com cuidado, e ajustará embaixo dele um escabelo, para
que possas descansar, no banquete, teus brilhantes pés”.
O Sono temia adormecer o senhor do Olimpo e ser
punido. Mas Juno afinal conseguiu convencê-lo, prometendo-lhe como esposa
Pasitéia, a mais jovem das Graças.
Tendo obtido o que queria, a deusa apresentou-se
ao esposo que, encantado com sua resplendente beleza, perguntou-lhe aonde ia
tão enfeitada. “Vou visitar, nos confins da ubérrima terra, Oceano, pai dos
deuses, e a Mãe Tétis, que me acolheram e me criaram em sua casa”, respondeu
Juno.
Mas Júpiter não se conteve, e disse-lhe: “Poderia
ir lá mais tarde. Agora, porém vem e que nos regozijemos deitando-nos juntos
para o amor, pois jamais o amor por uma deusa ou por uma mulher dominou a tal
ponto o coração dentro do mu peito...”
E assim foi o grande Júpiter para o leito com sua
mulher. Mal tinham acabado de amar-se, chegou o Sono sorrateiramente e fechou
os lhos do senhor do Olimpo.
Enquanto dormia, a guerra mudava de feição. E
quando o dia chegou ao fim, os gregos, antes quase vencidos, recomeçaram os
ataques com forças novas e repeliram os troianos para dentro dos muros da
cidade.
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