Hécuba tem a fronte
febril. A hora do parto se aproxima. Dores lancinantes contraem-lhe o ventre. A
rainha tenta gritar, chamar pelo marido, pela escrava...
Na sala do palácio, Príamo, o rei, conversa com
os ministros sobre negócios de Estado e nem imagina a agonia da esposa.
Aos poucos, ela concilia o sono. Um pesadelo
tumultua sua cabeça exausta e das entranhas ensanguentadas Hécuba vê emergir
uma tocha acesa. Ela toca o archote para ver se tem corpo – o corpo de uma
criança. Não tem. Seu filho é apenas fogo vivo, sem carne, sem ossos.
A claridade misteriosa ultrapassa as janelas do
quarto. Como se um comando superior os dirigisse, atira-se impiedosamente sobre
Tróia adormecida. E incendeia tudo. Carne e muralhas transformam-se em ruínas
flamejantes.
Suada, em pânico, Hécuba acorda. Corre para a
sala, abraça o marido, chorando convulsamente, e conta-lhe o pesadelo. Depois,
sozinho o rei, segue até a casa do profeta Ésaco e pede-lhe que decifre o
estranho sonho da esposa.
Ésaco não hesita. Conta o que sabe: a criança que
sesta por nascer será Paris; e sua paixão há de arruinar Tróia. É preciso
fazê-lo desaparecer antes que incendeie a cidade com seu desespero.
Nenhum comentário:
Postar um comentário