João da Cruz e Sousa nasceu no dia 24 de
novembro de 1861, em Nossa Senhora do Desterro (hoje Florianópolis). O pai, Guilherme
de Sousa, mestre pedreiro, era escravo do marechal-de-campo Guilherme Xavier de
Sousa, herói da Guerra do Paraguai; a mãe, Carolina Eva da Conceição, “crioula
liberta”, era quituteira e lavadeira, trabalhando na casa do velho militar e de
sua esposa, Clarinda Fagundes Xavier de Sousa. Foi nesse ambiente que o futuro
poeta cresceu e se desenvolveu. Ainda menino ingressou na escola primária, onde
aprendeu a ler e escrever. Frequentou também o Colégio da Conceição, para em
seguida, por requerimento de seu pai, “pobre jornaleiro, que tudo sacrifica
pela educação” dos filhos (o outro era Norberto da Conceição Sousa), de acordo
com documento da época, entrou para o Ateneu Provincial Catarinense, onde
cursou Humanidades, concluindo o curso com brilhantismo. Na província iniciou
seus primeiros vôos poéticos, publicando em O Artista, jornal local, um
soneto. Esta publicação o animou Cruz e Sousa, que não mais parou de escrever e
publicar. Filiou-se à campanha abolicionista e foi “ponto” da Companhia Teatral
Dramática Julieta dos Santos, que percorreu o país de Norte a Sul. Esteve
algumas vezes no Rio de Janeiro, até fixar residência definitiva a partir de
1890, graças à ajuda de amigos, como Oscar Rosas e Emiliano Perneta, que
conseguiram empregá-lo na função de noticiarista do jornal Cidade do Rio, de
José do Patrocínio. Influenciado pelas escolas européias, sobretudo francesa,
logo aderiu ao movimento simbolista. Publicou os livros Missal, de
prosa, e Broquéis, de versos, ambos em 1893, considerados inauguradores
do simbolismo no Brasil. Publicou ainda Julieta dos Santos: homenagem
ao gênio brasileiro (com Virgílio Várzea e Santos Lostada), Tropos e
fantasias (com Virgílio Várzea), em 1885. E póstumos saíram Evocações (1898)
e Faróis e últimos sonetos (Paris, 1905). Cruz e Sousa morreu no ano de
1898, de tuberculose, aos 36 anos, em Sítio, Minas Gerais. Seu corpo voltou
para o Rio a bordo de um trem de carregar cavalos. Da mesma doença morreram
Gavita, a esposa, e seus quatro fiihos.
Alphonsus de Guimaraens, um dos ícones do simbolismo,
nasceu em 1870, em Ouro Preto. Depois de uma ligeira fase boêmia na juventude, iniciou
o curso de Engenharia, mas logo o abandonou e formou-se em Direito. Aos 18
anos, presenciou um fato que marcaria sua vida e sua poesia: a morte de Constança, sua prima e noiva, às
vésperas do casamento. O poeta nunca conseguiria superar o trauma da perda, e
toda sua obra parece refletir essa amargura, mas sua poesia é repleta de lirismo
e suavidade. Colaborou com jornais diversos e, após casar-se e ingressar
na magistratura, mudou-se para Mariana, de onde raramente saía. Como analisa
Ivo Barroso, “Alphonsus de Guimaraens possuía domínio absoluto das formas
métricas do simbolismo e das escolas anteriores, e até mesmo influenciou as práticas
libertárias do modernismo subsequente”. Faleceu aos 51 anos de idade. Sua poesia
ainda não foi amplamente estudada. Seus livros mais importantes são Dona
mística (1899) e Kyriale (1902),
mas também publicou Septenário das dores
de Nossa Senhora e Câmara ardente (1899) e Pauvre lyre (1921),
além de Pastoral dos crentes do amor e da morte (1923), A escada de
Jacó (1938), Pulvis (1938), e Os mendigos (em prosa), livros
que só foram editados após sua morte.