Período literário
O
que chamamos de período literário é um segmento determinado de tempo em
que predominou um estilo na literatura. Cada um desses períodos recebeu um nome
cujo significado você vai conhecer. Por exemplo: Barroco, Arcadismo,
Romantismo, etc. são estilos de época da história de várias literaturas,
incluindo a brasileira.
Descrever
um período literário ou estilo de época é identificar o início, o ponto culminante
e o declínio de um estilo, isto é, o momento em que passam a surgir novas
tendências.
Por
exemplo: o período literário ou estilo de época chamado de Romantismo predominou
no Brasil de 1836 a 1881. É imprescindível saber que as datas que delimitam um
estilo devem ser consideradas apenas pontos de referência na história
literária, ou seja, elas não demarcam rigorosamente o estilo.
Dinâmica dos estilos
Com
o passar do tempo, um estilo começa a declinar, a não provocar mais o interesse
do leitor, no caso da literatura. Ao mesmo tempo, vão surgindo novidades que
marcam o início de um novo estilo. Há zonas fronteiriças entre um estilo e
outro, ou seja, momentos em que duas ou mais tendências coexistem: um estilo
que declina e outro que surge.
Na
verdade, um estilo nunca desaparece. Ele se incorpora à cultura e, mesmo quando
já não se manifesta de forma relevante, continua fazendo parte do amplo conjunto
de realizações humanas. Em um determinado momento, dependendo de circunstâncias
históricas específicas, traços desse estilo podem ressurgir.
A
história da Arquitetura fornece bons exemplos para ilustrar essa dinâmica.
Veja
a semelhança entre as três edificações a seguir. A primeira é da Grécia, a
segunda da França (que à época era posse do Império Romano). Vinte séculos mais
tarde, traços desse estilo foram recuperados pela Arquitetura, como se pode
verificar na terceira edificação. Obviamente, não se trata de construções idênticas,
mas estilisticamente semelhantes.
O
mesmo ocorre com os estilos de época na literatura. Às vezes, em um determinado
momento histórico, reaparecem traços de um estilo que já havia predominado em
época anterior.
Templo
grego de Hefesto, em Atenas, construído em 449 a.C.
Monumento
Maison Carrée, em Nimes, na França, de aproximadamente 12 a.C.
Edifício
da Suprema Corte dos Estados Unidos em Washington, construído em 1932, com arquitetura
neoclássica.
Na
literatura, para citar um exemplo, características do estilo de época conhecido
como Classicismo, que predominou na Europa nos séculos XV e XVI, vão ser
retomadas no século XVIII com o nome de Neoclassicismo ou Arcadismo.
A
dinâmica dessa retomada pode ser representada desta forma:
O Neoclassicismo (neo = ‘novo’ + Classicismo) foi uma retomada do Classicismo.
Estilos
de época da literatura portuguesa e da literatura brasileira
Como
se sabe, nosso país foi colônia de Portugal, de quem herdamos a língua e, com
ela, toda uma maneira de expressar o mundo.
Costuma-se
comparar as manifestações literárias brasileiras com as portuguesas, em cada
período literário, não só para destacar semelhanças como também para
identificar o momento em que nossa literatura adquiriu autonomia, desprendendo-se
dos modelos portugueses.
No nosso caso interessa apenas uma visão panorâmica dos estilos de época nos dois países. Sempre que necessário, faremos referências à literatura portuguesa, mas nosso objetivo de estudo é a literatura brasileira.
As
primeiras manifestações literárias em língua portuguesa: Trovadorismo
O
texto literário considerado por muitos estudiosos como o mais antigo da literatura
em língua portuguesa data do século XII e é uma cantiga escrita nesse século,
conhecida como A Ribeirinha, dedicada pelo poeta Paio Soares de Taveirós
à amante de um nobre da época.
Apresentamos
abaixo a cantiga em linguagem modernizada e sua versão original, escrita em
galego-português.
As
cantigas medievais são poemas cantados, como as canções de hoje. A partitura de
quase todas essas cantigas se perdeu. Por isso, com raras exceções, as cantigas
só podem hoje ser lidas como poemas. Os poetas que compunham essas cantigas
eram os trovadores.
EXERCÍCIO 1
Leia mais
um exemplo de cantiga medieval com a linguagem modernizada e responda às
questões propostas.
a) A voz
que fala no poema acima (o eu lírico ou eu poético) é a de um
homem. Ele se dirige a Deus, fazendo-lhe uma súplica. Qual?
b) Se não
puder ser atendido, que solução ele sugere?
c) O que
esse pedido do eu lírico revela sobre ele em relação ao que sente por sua
amada?
d) No quarto verso, o eu lírico afirma: “Essa que é a luz destes olhos meus”. Reflita e responda: nos dias de hoje, identificar a amada com “a luz dos olhos” é uma metáfora original ou já se transformou em um clichê?
Nas
duas cantigas, a voz que se projeta como enunciador é masculina, isto é, o eu
lírico do texto é masculino.
Mas
nem sempre é assim: há cantigas em que o eu lírico é uma voz feminina, que se
dirige ao namorado distante. É a cantiga de amigo (amigo = namorado).
Muitas
canções do nosso cancioneiro popular, escritas por homens, dialogam com as
cantigas de amigo, empregando esse recurso do eu lírico feminino. Também não é
raro o mesmo caso na poesia contemporânea:
Período
de transição: Humanismo
No
período seguinte ao Trovadorismo – o Humanismo – as cantigas continuam prevalecendo
como forma de expressão poética, porém agora sem partitura, já lidas como
poemas, particularmente, ou declamadas nos salões da corte. São as chamadas cantigas
palacianas. Veja um exemplo, retirado de uma obra de 1516.
Classicismo
Já
o Classicismo português é marcante sobretudo pela presença daquele que é
considerado um dos maiores e mais influentes poetas portugueses de todos os tempos:
Luís Vaz de Camões, cuja obra pode ser dividida em poesia épica (Os lusíadas)
e poesia lírica (principalmente sonetos).
Camões
e a poesia lírica
Houve,
no século XVI, uma expressiva produção de poemas líricos. Camões é o grande
nome na poesia lírica, em que trata de temas universais como o amor, o
sofrimento, a morte, a força do destino, a desarmonia do mundo.
EXERCÍCIO 2
Leia um
soneto camoniano e responda às questões que seguem.
a) O texto lido é um soneto. Justifique essa afirmação.
b) Qual
parece ser o objetivo do eu lírico desse poema?
c) Identifique
antíteses no texto lido e copie-as no caderno.
d) Releia o
poema e identifique os recursos que, em sua opinião, são responsáveis pelo
ritmo do texto.
e) Releia:
É servir a
quem vence, o vencedor;
É ter com
quem nos mata lealdade. (versos 10 e 11)
• Escreva
no caderno esses versos na ordem direta e explique o sentido de cada um deles.
• Em sua
opinião, o amor é mesmo capaz de causar sensações tão contraditórias em quem
ama?
Camões
e a poesia épica
Com
seu sucesso nas navegações ao longo do Renascimento, Portugal assumiu papel
fundamental na expansão marítima europeia e alcançou prestígio, o que levou a
nação a grande euforia. A literatura da época absorve essa euforia na epopeia
produzida por Luís Vaz de Camões, Os lusíadas, que narra as conquistas do
povo português e enaltece o valor, a bravura e a coragem da nação.
Narrativa
em versos que relata os feitos extraordinários de um povo, a epopeia é o gênero
literário que se destaca no Classicismo, marcado pela retomada de princípios da
arte clássica.
Em
seu poema Os lusíadas, publicado em 1572, Luís de Camões narra um grande
e heroico feito: a descoberta, pelo navegante Vasco da Gama (1460?-1524) e sua tripulação,
do caminho marítimo de Portugal até a Índia.
No
trecho a seguir a personagem de Vasco da Gama narra a aparição do gigante Adamastor
durante essa viagem, com a descrição de sua figura monumental e do medo que
provocou nos navegantes portugueses.
O
herói da narrativa é Vasco da Gama, comandante da frota portuguesa, que enfrenta
grandes dificuldades para cumprir seu intento; entre elas, passar pelo cabo das
Tormentas, um dos maiores obstáculos para a chegada à Índia por mar, e aportar
em Calicute. Na epopeia camoniana, esse cabo é personificado pelo gigante
Adamastor, que tenta impedir os portugueses de passarem por ele.
EXERCÍCIO 3
Para
compreender melhor a sequência de fatos narrados no texto de Os Lusíadas,
identifique e escreva no caderno a estrofe em que se narra cada um dos fatos
sintetizados nos itens a seguir.
a) Do meio
da nuvem escura surge uma figura monstruosa, descrita em detalhes.
b) A nuvem
provoca medo nos navegantes. Vasco da Gama “conversa” com a nuvem.
c) A nuvem
escurece os ares e surpreende os navegantes.
d) O
Gigante admira-se da ousadia dos portugueses e conta que ninguém jamais passou
por ali sem naufragar.
e) O
Gigante relata aos portugueses que lhes custará caro seu atrevimento.
f) O
Gigante é comparado a uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Ele começa a
falar e amedronta os portugueses.
g) O
Gigante promete que se vingará do navegador que o descobriu.
h) O
Gigante promete que todos os navios que fizerem a mesma viagem de Vasco
encontrarão no cabo um inimigo.
O
Classicismo foi o estilo que predominou em Portugal durante o Renascimento,
época em que o país atingiu o ápice de seu poder e riqueza, vindas sobretudo
das Grandes Navegações, das quais resultou o descobrimento do Brasil.
O
início da literatura brasileira: literatura de informação
Quando
os portugueses aqui chegaram, depararam com um mundo que lhes parecia em tudo
estranho. Em oposição ao regime capitalista mercantil em que viviam,
encontraram comunidades em que o trabalho era coletivo e se desconhecia a
propriedade privada; ao cristianismo opunham-se as práticas religiosas desconhecidas
do homem europeu; ao contrário de uma língua única em que se comunicavam, o
português, os descobridores viram-se diante de um aglomerado de línguas locais,
com predominância do tupi.
Havia
apenas a cultura oral, transmitida sobretudo pelos pajés e homens mais velhos
das tribos. No primeiro século de vida do Brasil, a produção intelectual foi
mínima. Mas muita coisa foi escrita sobre o Brasil nesse período, a
começar pela carta de Caminha. Escrita por um português, em uma língua que não
era a dos nativos, a carta é considerada, no entanto, a “certidão de batismo”
do Brasil e inaugura nosso primeiro período literário: a chamada literatura
de informação.
A seguir,
leia um trecho da carta em linguagem modernizada, em que Caminha comenta o
primeiro encontro entre portugueses e indígenas, ocorrido em 23 de abril de
1500.
EXERCÍCIO 4
Agora,
responda às questões propostas.
a) Nessa
carta, relata-se o primeiro choque cultural que ocorreu entre o europeu e o
indígena que habitava as terras que hoje conhecemos como Brasil. O que chocou o
europeu?
b) Releia
este trecho:
Ali não
pôde deles haver fala nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na costa.
[...] (linhas 28-29)
Segundo
Caminha, o que impediu que os portugueses ouvissem a fala dos indígenas?
Vários
viajantes europeus passaram pelo Brasil e fizeram registros sobre a natureza e
a vida dos indígenas.
A
partir do século XVII, as manifestações literárias no Brasil seguem em paralelo
com a literatura portuguesa. Os poucos escritores sofriam influência do que
ocorria em Portugal e durante alguns séculos nossa literatura moldou-se pela
portuguesa.