ELES NÃO USAM BLACK-TIE, DE GIANFRANCESCO GUARNIERI
Primeira peça de Gianfrancesco
Guarnieri, Eles não usam black-tie,
de 1958, foi encenada pela primeira vez quando o movimento Cinema Novo começava
a surgir [...]. No lugar de cenários pomposos e figurinos luxuosos, ficaram
apenas os elementos de cena indispensáveis. Ao invés de personagens ricos e
nobres, operários e moradores do morro tomaram o palco. Ali, em plenos anos 50,
negros eram cidadãos comuns. Pela primeira vez, os conflitos da realidade
brasileira ganhavam espaço na caixa cênica.
Eles
não usam black-tie situa-se
[...] tem como tema a greve, e [...] como pano de fundo um debate sobre as
grandes verdades eternas, reflexões universais sobre a frágil condição humana, [...].
É a história de um choque entre pai e filho com posições ideológicas e morais
completamente opostas e divergentes [...].
O pai, Otávio, é operário de carreira, um
sonhador, um idealista, leitor de autores socialistas e, ao mesmo tempo um
revolucionário por convicção e consciente de suas lutas. Forte e corajoso entre
os seus companheiros, experimentou várias lideranças, algumas prisões, com isso
ganha destaque entre os seus transformando-se num dos cabeças do movimento
grevista.
O filho, Tião, [...] é criado [...] longe do morro,
com os padrinhos, sem conviver com esse mundo de luta e reivindicação da classe
operária. Hoje adulto e morando no morro com os pais, vive um dos maiores
conflitos de sua vida. Em primeiro lugar não quer aderir à greve [...]. Em
segundo lugar pretende se casar com Maria, moça simples, porém determinada e
leal ao seu povo, e está esperando um filho seu. Desta forma, Tião está mais
preocupado com o seu futuro do que com a luta de seus companheiros [...]. Para
Tião, greve é algo utópico. Ele [...] precisa resolver seus problemas de
imediato, ou seja, se casar.
Eles
não usam black-tie é
um texto político e social, sempre atual no qual Gianfracesco Guarnieri criou
de um lado, personagens marcantes e populares [...] que nos revelam um mundo
alegre, descontraído e aparentemente feliz. Já por outro lado a peça se
apresenta forte e densa revelando de maneira real os conflitos que atormentam
personagens [...]. Assim, se por um lado mostra um olhar profundo dentro da
sociedade brasileira, por outro esse olhar vem embalado por um valor poético
materializado na visão romântica do mundo de seus personagens.
Embora, na convencional teoria de dramaturgia
teatral não se enquadre essa abordagem, o drama social é de natureza épica e por
isso mesmo uma contradição em si mesma. Aqui, novamente Guarnieri quebrou
também outra regra essencial, presente nos manuais do “bom drama”: ao invés de
trazer personagens “superiores” como protagonistas, ele se utilizou de gente
humilde, trabalhadores comuns, para conduzir sua história. [...]
A temática não é política, muito menos
panfletária. O que discorre são relações de amor, solidariedade e esperança
diante dos percalços de uma vida miserável. Assim, a peça alia temas como greve
e vida operária com preocupações e reflexões universais do ser humano. [...]
Eles
não usam black-tie é
um marco do teatro de temática social. Foi com a encenação de Eles não usam black-tie, que se
iniciou uma produção sistemática e crítica de textos dispostos a representar as
classes subalternas, com ênfase para a representação do proletariado. Nesse
sentido, a peça de Guarnieri insere-se num quadro que se ampliou a partir da
década de 1950, quando surgiu uma dramaturgia com preocupações ligadas à
representação de uma camada específica da sociedade brasileira e, para além
disso, em busca da construção de uma identidade nacional pautada em variedades
culturais internas.
Adaptado
de: https://www.passeiweb.com/eles_nao_usam_black_tie/
Nenhum comentário:
Postar um comentário