É fim de tarde. À sombra de uma árvore, Fáustulo,
o pastor, descansa dos trabalhos de um dia fatigante. Leve a brisa refresca-lhe
o corpo suado. O sono aproxima-se, pouco a pouco, envolvendo-o mansamente.
As pálpebras cerram-se. Fáustulo está prestes a
mergulhar no mundo dos sonhos, quando o despertam gritos alegres.
O pastor abre os olhos: duas crianças, rosadas e
belas, brincam com uma loba, sem demonstrar receio. Acariciam as patas do
animal, puxam-lhe os pêlos, amamentam-se de seu leite. Enquanto a loba, como se
também fosse humana, consente em servir-lhes de mãe.
Curioso, Fáustulo ergue-se de seu leito de relva
e caminha em direção ao grupo. A certa distância, contudo, pára. Olha para a
loba, tentando perceber-lhes os sentimentos. O animal retribui o olhar, com
mansidão.
Não há perigo. O pastor aproxima-se das três
estranhas criaturas. Ajoelha-se junto a ela e mudo de emoção ante tão grande
mistério, põe-se a contemplá-las.
O tempo
transcorre calmo e quieto. A noite se faz densa quando Fáustulo toma uma
decisão. Apanha as crianças nos braços, com um olhar respeitoso despede-se da loba
e parte rumo à sua cabana. Aca Larência, sua esposa, recebe os pequenos
desconhecidos como se fossem os filhos que em vão rogara aos deuses durante
muitos anos. Logo trata de banhá-los em água morna. Aconchega-os em lençóis
macios. Acalenta-os com doces cantigas de ninar.
Na casa do pastor, Rômulo e Remo aprendem os
costumes humanos. Entretanto, não perdem a divina força que herdaram do seu
pai, o deus Marte. Nem deixam apagar em si o corajoso vigor que lhes
transmitira o leite da loba, sua primeira ama sobre a terra.
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