O galante Peleu
acabara de herdar o rico reino da Ftia. Foi no mesmo tempo em que falecera sua
esposa Antígona, a filha do rei Euritão. Muito poderoso, mas muito sozinho em
sua viuvez, Peleu começara a procurar outra mulher que lhe pudesse fazer
companhia. E um dia deparou, na praia, com a bela Tétis, a mais célebre das
Nereidas que habitavam os mares.
Tinha sido ela cortejada pelo próprio Júpiter,
que só não insistira na conquista porque uma profecia o prevenira: o filho de
Tétis venceria o pai. E o senhor de Olimpo temeu gerar essa criança.
Mal tinha Júpiter desistido da nereida quando a
encontrou Peleu. E como o viúvo se mostrasse fiel e paciente, além de muito
dedicado, Tétis resolveu aceitá-lo como esposo.
Assim realizou-se a boda numa festa das mais
suntuosas, à qual até os deuses compareceram. O próprio Júpiter esteve
presente, abençoando a união.
Mas, em meio à alegre festa quando tudo tinha
para tornar-se inesquecível, aconteceu um fato cujo mau presságio todos logo
perceberam. Éris, a deusa da discórdia, que por descuido não foi convidada,
tomou um pomo de ouro da árvore do jardim das Hespérides, escreveu nele as
palavras: “Para a mais bela”, e atirou-o no meio dos presentes ofertados ao
casal.
Deuses e mortais calaram-se e tudo o mais
silenciou. Sumiram os risos nos rostos aflitos e perplexos. Já a discórdia
vinha perturbar aquela boda tão intensamente festejada. As frases
descompromissadas, fáceis e felizes logo foram substituídas pelo burburinho dos
comentários murmurados a meia voz. Seria a bela prenda para a linda esposa,
diziam alguns. E muitos outros afirmavam que certamente o fruto de ouro se
destinava a uma deusa.
O grande Júpiter, incomodado com a situação
geral, resolveu agir: ao que tudo indicava, a disputa teria de ser decidida
entre as três deusas que, de modo geral, os convidados apontavam como
merecedoras do pomo “para a mais bela”: Juno, Minerva e Vênus. Não queria,
porém, comprometer-se com a escolha em disputa de tal natureza. O melhor, o
mais imparcial e o mais correto seria encarregar um mortal da decisão. Após
trocar muita ideia com Mercúrio que conhecia a todos na terra, Júpiter passou a
incumbência a Páris, filho de Príamo, o rei de Tróia.
Vivia o moço na encosta do monte Ida, na
Dardânia, a guardar os rebanhos do pai, descuidado do que lhe reservara o
destino. Pois tudo lhe corria bem: entre os outros pastores era tido como
valente pela força e conhecimento na luta contra os lobos que ameaçavam os
rebanhos. Além disso, sabia resolver disputas dos companheiros com inteligência
e sabedoria. Para completar a felicidade, era casado com Enone, a filha do deus
dos rios, a quem amava intensamente.
O encargo de Júpiter destruiu-lhe a paz. A partir
do dia em que Mercúrio conduziu as três deusas para apresentá-las ao julgamento
do pastor, num bosque da montanha, nunca mais Páris pôde ser feliz.
Cada uma das vaidosas divindades ofereceu-lhe
alguma coisa em troca de ser apontada como a destinatária do fruto de ouro
“para a mais bela”. Juno garantiu-lhe o poder sobre a Ásia. Minerva, a vitória
em todas as batalhas. Vênus, linda como nunca se viu, deixou cair a túnica que
a revestia e mostrou-se nua, na totalidade de sua beleza.
Então Páris, sem hesitar, entregou o pomo a
Vênus, cometendo assim uma grande imprudência. Pois com seu gosto magoou Juno,
a rainha do Olimpo e Minerva, a deusa da sabedoria, que muito irritadas,
decidiram armar uma vingança.
Como prêmio, Vênus prometeu ao pastor a mais
formosa mortal como esposa. E cumpriu a promessa: Páris foi recompensado com o
amor da bela Helena. Mas o ódio das outras duas deusas também se cumpriu; com
muito sangue, muita morte, muita lágrima: porque, sendo Helena casada com outro
homem, para obtê-la Páris precisou raptá-la, e com esse rapto desencadeou a
terrível guerra de Tróia.
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