18 julho 2023

PÁRIS ESCOLHE A MAIS BELA DEUSA

O galante Peleu acabara de herdar o rico reino da Ftia. Foi no mesmo tempo em que falecera sua esposa Antígona, a filha do rei Euritão. Muito poderoso, mas muito sozinho em sua viuvez, Peleu começara a procurar outra mulher que lhe pudesse fazer companhia. E um dia deparou, na praia, com a bela Tétis, a mais célebre das Nereidas que habitavam os mares.

Tinha sido ela cortejada pelo próprio Júpiter, que só não insistira na conquista porque uma profecia o prevenira: o filho de Tétis venceria o pai. E o senhor de Olimpo temeu gerar essa criança.

Mal tinha Júpiter desistido da nereida quando a encontrou Peleu. E como o viúvo se mostrasse fiel e paciente, além de muito dedicado, Tétis resolveu aceitá-lo como esposo.

Assim realizou-se a boda numa festa das mais suntuosas, à qual até os deuses compareceram. O próprio Júpiter esteve presente, abençoando a união.

Mas, em meio à alegre festa quando tudo tinha para tornar-se inesquecível, aconteceu um fato cujo mau presságio todos logo perceberam. Éris, a deusa da discórdia, que por descuido não foi convidada, tomou um pomo de ouro da árvore do jardim das Hespérides, escreveu nele as palavras: “Para a mais bela”, e atirou-o no meio dos presentes ofertados ao casal.

Deuses e mortais calaram-se e tudo o mais silenciou. Sumiram os risos nos rostos aflitos e perplexos. Já a discórdia vinha perturbar aquela boda tão intensamente festejada. As frases descompromissadas, fáceis e felizes logo foram substituídas pelo burburinho dos comentários murmurados a meia voz. Seria a bela prenda para a linda esposa, diziam alguns. E muitos outros afirmavam que certamente o fruto de ouro se destinava a uma deusa.

O grande Júpiter, incomodado com a situação geral, resolveu agir: ao que tudo indicava, a disputa teria de ser decidida entre as três deusas que, de modo geral, os convidados apontavam como merecedoras do pomo “para a mais bela”: Juno, Minerva e Vênus. Não queria, porém, comprometer-se com a escolha em disputa de tal natureza. O melhor, o mais imparcial e o mais correto seria encarregar um mortal da decisão. Após trocar muita ideia com Mercúrio que conhecia a todos na terra, Júpiter passou a incumbência a Páris, filho de Príamo, o rei de Tróia.

Vivia o moço na encosta do monte Ida, na Dardânia, a guardar os rebanhos do pai, descuidado do que lhe reservara o destino. Pois tudo lhe corria bem: entre os outros pastores era tido como valente pela força e conhecimento na luta contra os lobos que ameaçavam os rebanhos. Além disso, sabia resolver disputas dos companheiros com inteligência e sabedoria. Para completar a felicidade, era casado com Enone, a filha do deus dos rios, a quem amava intensamente.

O encargo de Júpiter destruiu-lhe a paz. A partir do dia em que Mercúrio conduziu as três deusas para apresentá-las ao julgamento do pastor, num bosque da montanha, nunca mais Páris pôde ser feliz.

Cada uma das vaidosas divindades ofereceu-lhe alguma coisa em troca de ser apontada como a destinatária do fruto de ouro “para a mais bela”. Juno garantiu-lhe o poder sobre a Ásia. Minerva, a vitória em todas as batalhas. Vênus, linda como nunca se viu, deixou cair a túnica que a revestia e mostrou-se nua, na totalidade de sua beleza.

Então Páris, sem hesitar, entregou o pomo a Vênus, cometendo assim uma grande imprudência. Pois com seu gosto magoou Juno, a rainha do Olimpo e Minerva, a deusa da sabedoria, que muito irritadas, decidiram armar uma vingança.

Como prêmio, Vênus prometeu ao pastor a mais formosa mortal como esposa. E cumpriu a promessa: Páris foi recompensado com o amor da bela Helena. Mas o ódio das outras duas deusas também se cumpriu; com muito sangue, muita morte, muita lágrima: porque, sendo Helena casada com outro homem, para obtê-la Páris precisou raptá-la, e com esse rapto desencadeou a terrível guerra de Tróia.





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