QUESTÃO 01
Cenário “instagramável”: deixa a casa pronta para
fotos e lives na rede social
Disponível em:
https://extra.globo.com/mulher/decoracao/cenario-instagramavel-deixe-casa-pronta-para-fotos-lives-na-rede-social-24509328.html. Acesso em: 14 dez. 2021.
No
título da notícia, há uma nova palavra, criada para atender a uma demanda do
universo das redes sociais, caracterizadas, em geral, pela exposição de fotos e
vídeos. Ao observar o processo de formação do neologismo “instagramável”,
verifica-se que esse é formado por
a) composição por
justaposição.
b) composição por
aglutinação.
c) derivação
parassintética.
d) derivação sufixal.
e) derivação prefixal.
QUESTÃO 02
Em
agosto de 2005, a Revista Língua fez
uma entrevista com Millôr Fernandes, o escritor escolhido para ser o
homenageado da FLIP 2014. Eis, aqui, alguns trechos desta entrevista.
Língua – Fazer humor é
levar a sério as palavras ou brincar com elas?
Millôr – Humor, você tem ou
não tem. Pode ser do tipo mais profundo, mais popular, mas tem de ter. Você vai
fazendo e, sem querer, a coisa sai engraçada. Dá para perceber quando a
construção é forçada. Tenho uma capacidade muito natural de perceber bobagem e
destruir a coisa.
Língua – Com que língua
você mais gosta de trabalhar?
Millôr – Não aprendi
línguas até hoje (risos). Gosto de trabalhar com o português, embora inglês
seja a que eu mais leio. Nunca tive temor de nada. Deve-se julgar as obras pelo
que elas têm de qualidade, não por serem de fulano ou beltrano. Shakespeare fez
muita besteira, mas tem três ou quatro obras perfeitas, e Macbeth é uma delas.
Língua – Na sua opinião,
quais vantagens o português possui em comparação a outras línguas que você
conhece?
Millôr – A principal
vantagem é a de ser a minha língua. Ninguém fala duas línguas. Essa ideia de um
espião que fala múltiplas línguas não passa de mentira. Vai lá no meio do jogo
dizer “salame minguê, um sorvete colorê...” ou “velho guerreiro”. Os modismos
da língua, as coisas ocasionais, não são acessíveis a quem não é nativo. Toda
pessoa tem habilidade só no seu idioma. Você pode aprender uma, dez, sei lá
quantas expressões de outra língua, mas ainda existirão outras mil – como é que
se vai fazer? A língua portuguesa tem suas particularidades. Como outras
também. Aprendi desde cedo a ter o cuidado de não rimar ao escrever uma frase.
Sobretudo em “-ão”.
Língua – Quais as normas
mais loucas ou mais despropositadas da língua portuguesa?
Millôr – Toda pesquisa de
linguagem é perigosa porque tem o caráter de induzir o sentido. Não tenho
nenhum carinho especial por gramáticos. Na minha vida inteira sempre fui
violento [no ataque às regras do idioma], porque a língua é a falada, a outra é
apenas uma forma de você registrar a fala. Se todo mundo erra na crase é a
regra da crase que está errada, como aliás está. Se você vai a Portugal, pode
até encontrar uma reverberação que indica a crase. Não aqui. Aqui, no Brasil, a
crase não existe.
Língua – Mas a fala
brasileira é mutante e díspar, cada região tem sua peculiaridade. Como romper
regras da língua sem cair no vale-tudo?
Millôr – Se não houver
norma, não há como transgredir. A língua tem variantes, mas temos de ensinar a
escrever o padrão. Quem transgride tem nome ou peito, que o faça e arque com as
consequências. Mas insisto que a escrita é apenas o registro da língua falada.
De Machado de Assis pra cá, tudo mudou. A língua alemã fez reforma ortográfica
há 50 anos, correta. Aqui, na minha geração, já foram três reformas do gênero,
uma mais maluca que a outra. Botaram acento em “boemia”, escreveram “xeque”
quando toda língua busca lembrar o árabe shaik, insistiram que o certo é
“veado” quando o Brasil inteiro pronuncia “viado”. Como chegaram a tais
conclusões? Essas coisas são idiotas e cabe a você aceitar ou não. Veja o caso
da crase. A crase, na prática, não existe no português do Brasil. Já vi tábuas
de mármore com crase errada. Se todo mundo erra, a crase é quem está errada. Se
vamos atribuir crase ao masculino “dar àquele”, por que não fazer o mesmo com
“dar alguém”? Não podemos.
Disponível em:
http://revistalingua.uol.com.br/textos/97/millor-fernandeso-senhor-das-palavras-247893-1.asp.
Acesso em: 13 jun. 2014 (adaptado).
Quanto
aos aspectos semânticos e efeitos de sentido alcançados pelo vocabulário
utilizado no texto, assinale a alternativa correta.
a) Os dois empregos do
hiperônimo “coisa” (2º parágrafo) expressam o mesmo tom pejorativo.
b) Recursos de ironia,
como “risos” e vocábulos coloquiais (“fulano”, “besteira”), marcam o 4º parágrafo:
o leitor deve compreender que, na verdade, Millôr fala diversas línguas e
considera perfeita toda a obra de Shakespeare.
c) No texto, “a fala
brasileira é mutante e díspar” (9º parágrafo) equivale a “a fala brasileira é
inconstante e disparatada”, ou seja, “sem normas ou regras”.
d) Vocábulos como
“língua”, “português”, “idioma”, “gramáticos”, entre outros, pertencem a um
mesmo campo semântico e contribuem, assim, para a construção da unidade de
sentido ao longo do texto
e) Vocábulos como
“destruir” (2º parágrafo), “despropositadas” (7º parágrafo), “acessíveis” (6º parágrafo)
e “induzir” (8º parágrafo) apresentam prefixos de traço semântico com valor de
negação: “des-”, “a-” e “in-”.
QUESTÃO 03
[...] Entretanto, das portas surgiam
cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o
marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras
a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros;
trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se
conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro
das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso
rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se
saber onde, grasnar de
marrecos, cantar de galos, cacarejar
de galinhas. De alguns quartos saiam mulheres que vinham pendurar cá fora, na
parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos,
cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma
aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara,
incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco
palmos. O chão inundava-se. [...]
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço.
O cortiço é uma das mais emblemáticas obras do Naturalismo no Brasil. No fragmento lido, há a descrição do comportamento das personagens ao amanhecer nesse espaço coletivo. Os três termos em destaque, que contribuem para a apresentação da cena ao leitor, foram criados a partir do processo de
a) derivação sufixal,
para que o zoomorfismo fique em destaque nos verbos indicadores das ações
coletivas.
b) aglutinação, a fim
de que a repetição dos sons reforce a descrição mecanizada dos indivíduos do
cortiço.
c) onomatopeização, com
o fito de destacar os comportamentos individuais de forma animalizada.
d) aglutinação, com o
objetivo de tornar mais sonora a caracterização das personagens.
e) onomatopeização, a
fim de reforçar a animalização das personagens.
QUESTÃO 04
TEXTO I
Era
uma moça de dezesseis a dezessete anos, delgada sem magreza, estatura um pouco
acima de mediana, talhe elegante e atitudes modestas. A face, de um
moreno-pêssego, tinha a mesma imperceptível penugem da fruta de que tirava a
cor; naquela ocasião tingiam-na uns longes cor-de-rosa, a princípio mais
rubros, natural efeito do abalo. As linhas puras e severas do rosto parecia que
as traçara a arte religiosa. Se os cabelos, castanhos como os olhos, em vez de
dispostos em duas grossas tranças lhe caíssem espalhadamente sobre os ombros, e
se os próprios olhos alçassem as pupilas ao céu, disséreis um daqueles anjos
adolescentes que traziam a Israel as mensagens do Senhor.
ASSIS, Machado de. Helena. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000202.pdf.
Acesso em: 14 dez. 2021.
TEXTO II
Não
podia tirar os olhos daquela criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia,
apertada em um vestido de chita, meio desbotado. Os cabelos grossos, feitos em
duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à moda do tempo, desciam-lhe
pelas costas. Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a
boca fina e o queixo largo.
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv00180a.pdf. Acesso em: 14
dez. 2021.
Nos dois fragmentos, há a descrição de personagens femininas criadas por Machado de Assis: Helena e Capitu, respectivamente. Ao comparar o modo como são apresentadas ao leitor nesses trechos, nota-se que
a) ambas as personagens
são descritas de modo objetivo, sem emprego de metáforas, conforme as
características do Realismo.
b) Helena e Capitu são
descritas de modo irônico, já que representam seres que têm a aparência em
total contraste com a essência.
c) o aspecto
psicológico ganha destaque na descrição, fazendo com que não haja a valorização
da aparência física das personagens.
d) Helena é descrita de
modo mais romântico a partir de comparações subjetivas, enquanto Capitu é
caracterizada de modo mais objetivo e realista.
e) as duas personagens
são descritas de forma idealizada, de modo que o narrador se coloque como
vassalo dessas mulheres, conforme os preceitos Romantismo.
QUESTÃO 05
Naquela
mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu
chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das
sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o
atordoara nas matas brasileiras; [...].
AZEVEDO, Aluísio de. O cortiço. Disponível em:
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000015.pdf. Acesso em: 14 dez. 2021.
Entre
os recursos expressivos empregados no excerto para descrever Rita Baiana, tem
papel preponderante a figura de linguagem denominada
a) metonímia, já que a
personagem representa um coletivo.
b) sinestesia, devido à
mistura de referências sensoriais na descrição.
c) hipérbole, tendo em
vista que as feições faciais da personagem são evidenciadas com exagero.
d) prosopopeia, pois há
a atribuição de sentimentos a seres inanimados ao longo da caracterização.
e) eufemismo, porque a
personagem tem seus traços psicológicos suavizados ao longo da caracterização.
QUESTÃO 06
- É o diabo!... praguejava entre dentes o
brutalhão, enquanto atravessava o corredor ao lado do Conselheiro, enfiando às
pressas o seu inseparável sobretudo de casimira alvadia. - É o diabo! Esta
menina já devia ter casado!
- Disso sei eu... balbuciou o outro. - E não
é por falta de esforços de minha parte, creia!
- Diabo! Faz lástima que um organismo tão
rico e tão bom para procriar, se sacrifique deste modo! Enfim - ainda não é
tarde; mas se ela não casar quanto antes - um um! Não respondo pelo resto!
- Então o doutor acha que...?
O Lobão inflamou-se: Oh o Conselheiro não
podia imaginar o que eram aqueles temperamentozinhos impressionáveis!... eram
terríveis, eram violentos, quando alguém tentava contrariá-los! Não pediam —
exigiam! — reclamavam!
AZEVEDO, Aluísio. O homem. Disponível em:
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bi000022.pdf . Acesso em: 14 dez.
2021.
O Homem é um romance naturalista, escrito por Aluísio Azevedo, em 1887. No excerto, a passagem “um organismo tão rico e tão bom para procriar” reforça que a mulher é condicionada a ser reprodutora. Essa afirmação evidencia a seguinte característica naturalista:
a) Análise coletiva de
grupos sociais.
b) Reificação da
personagem.
c) Abordagem
determinista.
d) Descrição sensorial.
e) Enredos alineares.
QUESTÃO 07
Polícia interrompe
marcha de coronacéticos em Berlim
Manifestantes de diferentes grupos dizem que
restrições do governo ferem seus direitos básicos
Disponível em:
www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/08/policia-interrompe-marcha-de-coronaceticos-em-berlim.shtml.
Acesso em: 22 nov. 2021.
A
pandemia da Covid-19 teve e tem como consequência diversas mudanças de comportamento.
No nível linguístico, esse difícil cenário também trouxe a necessidade de criar
palavras que transmitissem um valor semântico específico para o momento. Esse é
o caso do neologismo “coronacéticos”, formado por aglutinação. Tendo como base
o sentido das palavras aglutinadas e o contexto da manchete, depreende-se que
esse neologismo nomeia
a) indivíduos que
duvidam da existência e/ou da gravidade do coronavírus.
b) pessoas que lutam
pelo direito de ir e vir durante a pandemia do coronavírus.
c) cidadãos que
reforçam a necessidade de posturas que embarreirem a disseminação do vírus.
d) doutrina que defende
a urgência de medidas de distanciamento social para combater a pandemia.
e) um comportamento
contrário às medidas sanitárias do governo para conter a transmissão do vírus.
QUESTÃO 08
Onça ruge para “proteger”
filhotes de bombeiros em rio de MS
Os
vídeos foram feitos pelo sargento do Corpo de Bombeiros Eder Amador, que fazia
inspeção no Rio Ivinhema para impedir focos de incêndio na região.
Durante
uma inspeção de rotina, com o olhar atento na mata, o sargento do Corpo de
Bombeiros Eder Armado foi surpreendido com um rugido de uma “mamãe”
onça-pintada, ao proteger dois filhotes entre galhos, flagrados às margens do
Rio Ivinhema.
Disponível em: g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2021/09/20/onca-ruge-para-proteger-filhotes-de-bombeiros-em-rio-de-ms-veja-o-video.ghtml.
Acesso em: 22 nov. 2021 (adaptado).
A
manchete, em um primeiro momento, causa estranhamento devido à ambiguidade
sintática que apresenta. No entanto, tal impressão rapidamente é descontruída
ao ler a notícia. Tendo em vista a correta informação a ser passada pela
manchete, assinale a alternativa que apresenta a(s) necessária(s)
alteração(ões) a ser(em) feita(s) no enunciado.
a) A oração “para
proteger filhotes” deveria ser deslocada, com vírgula, para o início do
período; e a preposição "de" deveria ser substituída por “para”.
b) A oração “para
proteger filhotes de bombeiro” deveria ser deslocada para o final do período a
fim de esclarecer o sentido pretendido.
c) O termo “de
bombeiros” deveria estar no início da frase, isolado por vírgulas, para
transmitir o sentido pretendido pelo criador do texto.
d) O adjunto adverbial
de lugar – “em rio de MS” – deveria ser deslocado para o início do período para
desfazer o mal-entendido.
e) O verbo “proteger”,
entre aspas, na manchete, é o gerador da ambiguidade; logo, deveria ser
substituído por “salvar”.
QUESTÃO 09
[...] Jorge enrolou um cigarro, e muito
repousado, muito fresco na sua camisa de chita, sem colete, o jaquetão de
flanela azul aberto, os olhos no teto, pôs-se a pensar na sua jornada ao
Alentejo. Era engenheiro de minas, no dia seguinte devia partir para Beja, para
Évora, mais para o sul até São Domingos; e aquela jornada, em julho
contrariava-o como uma interrupção, afligia-o como uma injustiça. [...]
QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio.
Nesse fragmento de O primo Basílio, determinado tipo de sujeito foi empregado a fim de promover a coesão textual e a economia linguística. Trata-se do sujeito
a) simples.
b) composto.
c) desinencial.
d) inexistente.
e) indeterminado.
QUESTÃO 10
No
entanto, o Grilo e outro escudeiro, pôr trás dos biombos de Quioto, de sedas
lavradas, manobravam, com perícia e vigor, os aparelhos do lavatório – que era
apenas um resumo das máquinas monumentais da Sala de banho, a mais estremada
maravilha do 202. Nestes mármores simplificados, existiam unicamente dois jatos graduados desde zero até cem;
as duas duchas, fina e grossa, para a cabeça; e ainda botões discretos, que,
roçados, desencadeavam esguichos, cascatas cantantes, ou um leve orvalho
estival. Desse recanto temeroso, onde delgados tubos mantinham em disciplina e
servidão tantas águas ferventes, tantas águas violentas, saía enfim o meu
Jacinto enxugando as mãos a uma toalha de felpo, a uma toalha de linho, a outra
de corda entrançada para restabelecer a circulação, a outra de seda frouxa para
repolir a pele. Depois deste rito derradeiro que lhe arrancava ora um suspiro,
ora um bocejo, Jacinto, estendido num divã, folheava uma agenda, onde se
arrolavam, inscritas pelo Grilo ou pôr ele, as ocupações do seu dia, tão
numerosas pôr vezes que cobriam duas laudas.
QUEIRÓS, Eça de. A cidade e as Serras.
Nesse
fragmento do romance português A cidade e
as Serras, ao descrever os mármores, o autor empregou o verbo
"existir". Caso esse verbo fosse substituído por um sinônimo a
fim de manter o sentido original, o trecho sublinhado, segundo a norma-padrão,
deveria ser:
a) haviam unicamente
dois jatos
b) havia unicamente dois
jatos
c) tinha unicamente
dois jatos
d) tinham unicamente
dois jatos
e) haveriam unicamente
dois jatos
QUESTÃO 11
Soneto
Já
da morte o palor me cobre o rosto,
Nos
lábios meus o alento desfalece,
Surda
agonia o coração fenece,
E
devora meu ser mortal desgosto!
Do
leito embalde no macio encosto
Tento
o sono reter!... já esmorece
O
corpo exausto que o repouso esquece...
Eis
o estado em que a mágoa me tem posto!
O
adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem
que insano do viver me prive
E
tenha os olhos meus na escuridade,
Dá-me
a esperança com que o ser mantive!
Volve
ao amante os olhos por piedade,
Olhos
por quem viveu quem já não vive!
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos Vinte Anos. Disponível em:
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000021.pdf.Acesso em: 22 nov. 2021.
Hipérbato é uma figura de linguagem sintática que consiste na alteração da ordem direta dos termos de uma oração. Esse recurso que, em geral, traz maior complexidade ao texto foi empregado em diversos versos do poema romântico de Álvares de Azevedo. Para compreender melhor o sentido de tais estruturas sintáticas, colocá-las em ordem direta é um excelente recurso.
Assinale
a alternativa que apresenta o segundo verso em ordem direta.
a) Nos meus
lábios desfalece o alento.
b) Desfalece nos lábios
meus o alento.
c) Desfalece o alento
nos meus lábios.
d) O alento desfalece
nos meus lábios.
e) O alento nos meus
lábios desfalece.
QUESTÃO 12
Leia
a charge do cartunista Duke para responder à questão a seguir:
a) Têm sido praticado
atividades físicas? Mudaram-se hábitos alimentares?
b) Vêm-se praticando
atividades físicas? Mudou-se hábitos alimentares?
c) Têm sido praticadas
atividades físicas? Mudaram hábitos alimentares?
d) Atividades físicas
tem sido praticadas? Mudou-se hábitos alimentares?
e) Atividades físicas
vem sendo praticadas? Mudou hábitos alimentares?
QUESTÃO 13
Leia
a crônica “Inconfiáveis cupins”, de
Moacyr Scliar, para responder à questão a seguir:
Havia um homem que odiava Van Gogh. Pintor desconhecido,
pobre, atribuía todas suas frustrações ao artista holandês. Enquanto existirem
no mundo aqueles horríveis girassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles
ciprestes deformados, dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu instinto
criador.
Decidiu mover uma guerra implacável, sem
quartel, às telas de Van Gogh, onde quer que estivessem. Começaria pelas mais
próximas, as do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Seu plano era de uma simplicidade diabólica.
Não faria como outros destruidores de telas que entram num museu armados de
facas e atiram-se às obras, tentando destruí-las; tais insanos não apenas não
conseguem seu intento, como acabam na cadeia. Não, usaria um método científico,
recorrendo a aliados absolutamente insuspeitados: os cupins.
Deu-lhe muito trabalho, aquilo. Em primeiro
lugar, era necessário treinar os cupins para que atacassem as telas de Van
Gogh. Para isso, recorreu a uma técnica pavloviana. Reproduções das telas do
artista, em tamanho natural, eram recobertas com uma solução açucarada. Dessa
forma, os insetos aprenderam a diferenciar tais obras de outras.
Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um
tipo de cupim que só queria comer Van Gogh. Para ele era repulsivo, mas para os
insetos era agradável, e isso era o que importava.
Conseguiu introduzir os cupins no museu e
ficou à espera do que aconteceria. Sua decepção, contudo, foi enorme. Em vez de
atacar as obras de arte, os cupins preferiram as vigas de sustentação do
prédio, feitas de madeira absolutamente vulgar. E por isso foram detectados.
O homem ficou furioso. Nem nos cupins se pode
confiar, foi a sua desconsolada conclusão. É verdade que alguns insetos foram
encontrados próximos a telas de Van Gogh. Mas isso não lhe serviu de consolo.
Suspeitava que os sádicos cupins estivessem querendo apenas debochar dele.
Cupins e Van Gogh, era tudo a mesma coisa.
O imaginário cotidiano, 2002.
Tendo
em vista a ordem inversa da frase, verifica-se o emprego de vírgula para
separar um termo que exerce a função de sujeito em:
a) “Deu-lhe muito trabalho,
aquilo.” (4º parágrafo)
b) “Em vez de atacar as
obras de arte, os cupins preferiram as vigas de sustentação do prédio, feitas
de madeira absolutamente vulgar.” (6º parágrafo)
c) “Para ele era
repulsivo, mas para os insetos era agradável, e isso era o que importava.” (5º
parágrafo)
d) “Não, usaria um
método científico, recorrendo a aliados absolutamente insuspeitados: os
cupins.” (3º parágrafo)
e) “Para isso, recorreu
a uma técnica pavloviana.” (4º parágrafo)
QUESTÃO 14
Prefácio
São os primeiros cantos de um pobre poeta.
Desculpai-os. As primeiras vozes do sabiá não têm a doçura dos seus cânticos de
amor.
É uma lira, mas sem cordas; uma primavera,
mas sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço.
Cantos espontâneos do coração, vibrações
doridas da lira interna que agitava um sonho, notas que o vento levou, – como
isso dou a lume essas harmonias.
São
as páginas despedaçadas de um livro não lido...
E agora que despi a minha musa saudosa dos
véus do mistério do meu amor e da minha solidão, agora que ela vai seminua e
tímida por entre vós, derramar em vossas almas os últimos perfumes de seu
coração, ó meus amigos, recebei-a no peito, e amai-a como o consolo que foi de
uma alma esperançosa, que depunha fé na poesia e no amor – esses dois raios
luminosos do coração de Deus.
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra
completa. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p.
120.
Se,
ao invés de usar períodos compostos, como em “É uma lira, mas sem cordas; uma
primavera, mas sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço.”, o autor tivesse
escolhido períodos simples: “É uma lira sem cordas. É uma primavera sem flores.
É uma coroa de folhas sem viço.”, a imagem construída a respeito de sua obra
não seria a mesma, porque
a) o pressuposto
produzido pelo uso do termo sem indica a impossibilidade de os poemas
retratarem a completude das coisas do mundo.
b) a oposição entre os
objetos naturais e os produzidos pelo homem autoriza a interpretação de que a
natureza seja a musa inspiradora dos poemas.
c) o subentendido
produzido pelo uso do mas leva o leitor ao entendimento de que a obra é comparada
a produções rudimentares.
d) a contradição
marcada pelo uso do mas permite a compreensão de que a essência das coisas se
mantém mesmo quando lhes falta o atributo principal.
e) a antítese
instaurada na comparação entre realidade e ficção produz a ideia de que a
poesia deva realçar a aparência das coisas.
QUESTÃO 15
O
que caracteriza o período é a vitória da concepção de mundo própria das
ciências naturais e do pensamento racionalista e tecnológico sobre o idealismo
e a tradição romântica. Por decorrência, a literatura deriva seus critérios
para a construção de um mundo ficcional regido pela probabilidade científica. A
verdade psicológica das personagens baseia-se no princípio de causalidade; a
criação do ambiente apoia-se no princípio de que tudo que ocorre é determinado
por condições e motivos [...].
Lígia Cademartori. Períodos literários, 1987.
O
texto trata da literatura
a) realista.
b) árcade.
c) modernista.
d) barroca.
e) simbolista.
QUESTÃO 16
Leia
o trecho extraído de uma fala do personagem Quincas Borba, do romance Quincas Borba:
- […] O encontro de duas expansões, ou a
expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas,
rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é condição da
sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e
comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de
batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das
tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra
vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em
paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de
inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das
tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os
hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações
bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se,
pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou
vantajoso, e pelo=motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que
virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.
[...] Aparentemente, há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes
que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício,
não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como
porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa. A higiene é filha
de podridões seculares; devemo-la a milhões de corrompidos e infectos. Nada se
perde, tudo é ganho.
ASSIS, Machado de. Quincas Borba, 1891.
Considerando o contexto histórico de produção, verifica-se no trecho uma alusão irônica à
a) teoria darwiniana.
b) filosofia idealista.
c) ideologia
capitalista.
d) filosofia
iluminista.
e) ideologia
socialista.
QUESTÃO 17
Leia
o trecho do conto-prefácio “Hipotrélico”, que integra o livro Tutameia, de João Guimarães Rosa:
Há o hipotrélico. O termo é novo, de
impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o
significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prática, tome-se
hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou, talvez,
vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a
opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante
se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se
negar nominalmente a própria existência.
Somos todos, neste ponto, um tento ou cento
hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, quase ofende.
Perspica-nos a inércia que soneja em cada canto do espírito, e que se refestela
com os bons hábitos estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo a
empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a língua tida e herdada?
Assenta-nos bem à modéstia achar que o novo não valerá o velho; ajusta-se à
melhor prudência relegar o progresso no passado. [...]
Já outro, contudo, respeitável, é o caso –
enfim – de “hipotrélico”, motivo e base desta fábula diversa, e que vem do bom
português. O bom português, homem-de-bem e muitíssimo inteligente, mas que,
quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas.
Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum
sicrano, terceiro, ausente:
– E ele é muito hiputrélico...
Ao que, o indesejável maçante, não se
contendo, emitiu o veto:
– Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto
perplexo:
– Como?!... Ora... Pois se eu a estou a
dizer?
– É. Mas não existe.
Aí, o bom português, ainda meio enfigadado,
mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório:
– O senhor também é hiputrélico...
E ficou havendo.
ROSA, João Guimarães.Tutameia, 1979.
O
efeito cômico do texto deriva, sobretudo, da ambiguidade da expressão
a) “homem-de-bem”.
b) “bom português”.
c) “indesejável
maçante”.
d) “necessidades
íntimas”.
e) “indivíduo pedante”.
QUESTÃO 18
O nada que é
Um canavial tem a
extensão
ante a qual todo
metro é vão.
Tem o escancarado do
mar
que existe para
desafiar
que números e seus
afins
possam prendê-lo nos
seus sins.
Ante um canavial a
medida
métrica é de todo
esquecida,
porque embora todo
povoado
povoa-o o pleno
anonimato
que dá esse efeito
singular:
de um nada prenhe
como o mar.
NETO, João Cabral de Melo. Museu de tudo e depois,
1988.
No
título do poema – O nada que é –,
ocorre a substantivação do pronome “nada”. Esse processo de formação de
palavras também se verifica em:
a) A arquitetura do poema
em João Cabral define-lhe o
processo de criação.
b) A poética de João
Cabral assume traços do Barroco gongórico.
c) Poema algum de João Cabral escapa de
seu processo rigoroso de composição.
d) Em Morte e Vida
Severina, João Cabral expressa o homem como coisa.
e) A poesia de João
Cabral tem um quê de
despoetização.
QUESTÃO 19
Leia
o trecho do conto Pai contra mãe, de
Machado de Assis (1839-1908):
A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos,
como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos
senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o
ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia
perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três
buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um
cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente
era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam
dois pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal
máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e
alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das
lojas. Mas não cuidemos de máscaras.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos
fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à direita ou à
esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente,
mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que
andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado.
Há meio século, os escravos fugiam com
frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia
ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada.
Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de
padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade
moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto.
Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado
no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam
para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse
aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando.
Quem perdia um escravo por fuga dava algum
dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais
do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico, se o tinha, o bairro por onde
andava e a quantia de gratificação. Quando não vinha a quantia, vinha promessa:
“gratificar-se-á generosamente” – ou “receberá uma boa gratificação”. Muita vez
o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço,
correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor
da lei contra quem o acoitasse.
Ora, pegar escravos fugidios era um ofício do
tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantêm a
lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das ações
reivindicadoras. Ninguém se metia em tal ofício por desfastio ou estudo; a
pobreza, a necessidade de uma achega, a inaptidão para outros trabalhos, o
acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por outra via, davam o
impulso ao homem que se sentia bastante rijo para pôr ordem à desordem.
Contos: uma antologia, 1998.
Embora
não participe da ação, o narrador intromete-se de forma explícita na narrativa
em:
a) “Há meio século, os
escravos fugiam com frequência.” (3º parágrafo)
b) “O ferro ao pescoço
era aplicado aos escravos fujões.” (2º parágrafo)
c) “A máscara fazia
perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca.” (1º
parágrafo)
d) “Mas não cuidemos de
máscaras.” (1º parágrafo)
e) “Eram muitos, e nem
todos gostavam da escravidão.” (3º parágrafo)
QUESTÃO 20
a) onomatopeia.
b) neologismo.
c) estrangeirismo.
d) hibridismo.
e) composição.
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