09 junho 2022

AVALIAÇÃO BIMESTRAL 2 - 1ª SÉRIE 2022

QUESTÃO 01





Tendo como objetivo aumentar o estoque de sangue do HEMORIO, a campanha publicitária faz uso dos seguintes recursos linguísticos:

a) Intertextualidade e prosopopeia.

b) Ambiguidade e paradoxo.

c) Neologia e polissíndeto.

d) Ambiguidade e paronímia.

e) Intertextualidade e polissemia.

 

QUESTÃO 02


O efeito de humor presente nas falas das personagens decorre do(a)

a) quebra de expectativa gerada pela polissemia.

b) ambiguidade causada pela antonímia.

c) contraste provocado pela fonética.

d) contraste introduzido pela neologia.

e) estranhamento devido à morfologia.

 

 QUESTÃO 03

Gosto e preciso de ti,

Mas quero logo explicar,

Não gosto porque preciso.

Preciso sim, por gostar.

LAGO, Mário. Disponível em: www.encantosepaixoes.com.br. Acesso em: 17 fev. 2022.

 

A relação de sentido existente na preposição “por” no último verso, é de:

a) modo.

b) consequência.

c) conteúdo.

d) posse.

e) causa.

 

QUESTÃO 04


O efeito de sentido do cartaz é provocado pela combinação de aspectos verbais e não verbais. Nas frases “Construa acessos. Derrube barreiras”, o produtor do texto, para atingir o público-alvo, recorreu, essencialmente, à

a) paronímia ao suavizar a ideia entre os dois verbos.

b) ironia ao empregar a palavra “barreira” com sentido pejorativo.

c) polissemia ao estabelecer os vários sentidos da palavra “acessos”.

d) antonímia ao retratar a oposição entre os verbos e os substantivos.

e) sinonímia ao aproximar o sentido das palavras “acessos” e “barreiras”.

 

QUESTÃO 05


O efeito de sentido da charge é provocado pela combinação de informações visuais e recursos linguísticos. No contexto da ilustração, a frase proferida recorre à

a) polissemia, ou seja, aos múltiplos sentidos da expressão “rede social” para transmitir a ideia que pretende veicular.

b) ironia para conferir um novo significado ao termo “outra coisa”.

c) homonímia para opor, a partir do advérbio de lugar, o espaço da população pobre e o espaço da população rica.

d) personificação para opor o mundo real pobre ao mundo virtual rico.

e) antonímia para comparar a rede mundial de computadores com a rede caseira de descanso da família.

 

QUESTÃO 06

Entre todas as palavras do momento, a mais flamejante talvez seja desigualdade. E nem é uma boa palavra, incomoda. Começa com des. Des de desalento, des de desespero, des de desesperança. Des, definitivamente, não é um bom prefixo.

Desigualdade. A palavra do ano, talvez da década, não importa em que dicionário. Doravante ouviremos falar muito nela.

De-si-gual-da-de. Há quem não veja nem soletre, mas está escrita no destino de todos os busões da cidade, sentido centro/subúrbio, na linha reta de um trem. Solano Trindade, no sinal fechado, fez seu primeiro rap, “tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome”, somente com esses substantivos. Você ainda não conhece o Solano? Corra, dá tempo. Dá tempo para você entender que vivemos essa desigualdade. Pegue um busão da Avenida Paulista para a Cidade Tiradentes, passe o vale-transporte na catraca e simbora – mais de 30 quilômetros. O patrão jardinesco vive 23 anos a mais, em média, do que um humaníssimo habitante da Cidade Tiradentes, por todas as razões sociais que a gente bem conhece.

Evitei as estatísticas nessa crônica. Podia matar de desesperança os leitores, os números rendem manchete, mas carecem de rostos humanos. Pega a visão, imprensa, só há uma possibilidade de fazer a grande cobertura: mire-se na desigualdade, talvez não haja mais jeito de achar que os pontos da bolsa de valores signifiquem a ideia de fazer um país.

Xico Sá, A vidinha sururu da desigualdade brasileira. Em El País, 28/10/2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/28/opinion/1572287747_637859.html. Acesso em: 25 maio 2020. (Adaptado).

 

Assinale a alternativa que identifica corretamente recursos linguísticos explorados pelo autor nessa crônica.

a) Uso de verbos no imperativo, linguagem informal, texto impessoal.

b) Marcas de coloquialidade, uso de primeira pessoa, linguagem objetiva.

c) Marcas de oralidade, uso expressivo de recursos ortográficos, subjetividade do autor.

d) Uso de variação linguística, linguagem neutra, apelo ao tom coloquial.

e) Emprego de gírias, objetividade na abordagem do assunto e impessoalidade.

 

QUESTÃO 07

A máquina extraviada

Você sempre pergunta pelas novidades daqui deste sertão, e finalmente posso lhe contar uma importante. Fique o compadre sabendo que agora temos aqui uma máquina imponente, que está entusiasmando todo o mundo. Desde que ela chegou – não me lembro quando, não sou muito bom em lembrar datas – quase não temos falado em outra coisa; e da maneira que o povo aqui se apaixona até pelos assuntos mais infantis, é de admirar que ninguém tenha brigado ainda por causa dela, a não ser os políticos. [...]

Já existe aqui um movimento para declarar a máquina monumento municipal. [...] Dizem que a máquina já tem feito até milagre, mas isso – aqui para nós – eu acho que é exagero de gente supersticiosa, e prefiro não ficar falando no assunto. Eu – e creio que também a grande maioria dos munícipes – não espero dela nada em particular; para mim basta que ela fique onde está, nos alegrando, nos inspirando, nos consolando.

VEIGA, J. J. A máquina extraviada: contos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.

 

Qual procedimento composicional caracteriza a construção do texto?

a) As intervenções explicativas do narrador.

b) A descrição de uma situação hipotética.

c) As referências à crendice popular.

d) A objetividade irônica do relato.

e) As marcas de interlocução.

 

QUESTÃO 08

Naquela manhã de céu limpo e ar leve, devido à chuva torrencial da noite anterior, sai a caminhar com o sol ainda escondido para tomar tenência dos primeiros movimentos da vida na roça. Num demorou nem um tiquinho e o cheiro intenso do café passado por Dona Linda me invadiu as narinas e fez a fome se acordar daquela rema letárgica derivada da longa noite de sono. Levei as mãos até a água que corria pela bica feita de bambu e o contato gelado foi de arrepiar. Mas fui em frente e levei as mãos em concha até o rosto. Com o impacto, recuei e me faltou o fôlego por alguns instantes, mas o despertar foi imediato. Já aceso, entrei na cozinha na buscação de derrubar a fome e me acercar do aconchego do calor do fogão à lenha. Foi quando dei reparo da figura esguia e discreta de uma senhora acompanhada de um garoto aparentando uns cinco anos de idade já aboletada na ponta da mesa em proseio íntimo com a dona da casa. Depois de um vigoroso “Bom dia!”, de um vaporoso aperto de mãos nas apresentações de praxe, fiquei sabendo que Dona Flor de Maio levava o filho Adão para tratamento das feridas que pipocavam por seu corpo, provocando pequenas pústulas de bordas avermelhadas.

GUIÃO, M. Disponível em: www.revistaecologico.com.br. Acesso em: 10 mar. 2014. (Adaptado).

 

A variedade linguística da narrativa é adequada à descrição dos fatos. Por isso, a escolha de determinadas palavras e expressões usadas no texto está a serviço da

a) localização dos eventos de fala no tempo ficcional.

b) composição da verossimilhança do ambiente retratado.

c) restrição do papel do narrador à observação das cenas relatadas.

d) construção mística das personagens femininas pelo autor do texto.

e) caracterização das preferências linguísticas da personagem masculina.


QUESTÃO 09

Ricos esquimós

O aquecimento global e o derretimento das geleiras, acredite, têm enriquecido os habitantes do Polo Norte. Localizada no extremo norte da América, a Groelândia é a maior ilha do mundo. Nela, 80% do território é coberto por geleiras e os termômetros marcam uma média de 22° negativos. Essa calota polar cujo volume é de 2,85 milhões de km3 está derretendo. Agora, a surpresa: criadores e pescadores começam a comemorar porque com isso eles estão ganhando dinheiro.

ISTOÉ. São Paulo: Editora Três, n. 1922. 23 ago. 2006, p. 26. (Adaptado).

 

No texto, os usos de “acredite” e “agora” têm o objetivo de

a) destacar a opinião do autor pela apresentação de evidências estatísticas.

b) indicar a criação de um espaço hipotético para o conteúdo do texto.

c) delimitar a ocorrência dos eventos destacados em um plano temporal.

d) mostrar aos interlocutores o caráter inverossímil dos fatos mencionados.

e) estabelecer uma relação de proximidade entre o autor do texto e os interlocutores.

 

QUESTÃO 10

Singular ocorrência

– Há ocorrências bem singulares. Está vendo aquela dama que vai entrando na igreja da Cruz? Parou agora no adro para dar uma esmola.

– De preto?

– Justamente; lá vai entrando; entrou.

– Não ponha mais na carta. Esse olhar está dizendo que a dama é uma recordação de outro tempo, e não há de ser muito tempo, a julgar pelo corpo: é moça de truz.

– Deve ter quarenta e seis anos.

– Ah! conservada. Vamos lá; deixe de olhar para o chão e conte-me tudo. Está viúva, naturalmente?

– Não.

– Bem; o marido ainda vive. É velho?

– Não é casada.

– Solteira?

– Assim, assim. Deve chamar-se hoje D. Maria de tal. Em 1860 florescia com o nome familiar de Marocas. Não era costureira, nem proprietária, nem mestra de meninas; vá excluindo as profissões e chegará lá. Morava na Rua do Sacramento. Já então era esbelta, e, seguramente, mais linda do que hoje; modos sérios, linguagem limpa.

ASSIS, M. Machado de Assis: seus 30 melhores contos. Rio de Janeiro: Aguilar, 1961.

 

No diálogo, descortinam-se aspectos da condição da mulher em meados do século XIX. O ponto de vista dos personagens manifesta conceitos segundo os quais a mulher

a) encontra um modo de dignificar-se na prática da caridade.

b) preserva a aparência jovem conforme seu estilo de vida.

c) condiciona seu bem-estar à estabilidade do casamento.

d) tem sua identidade e seu lugar referendados pelo homem.

e) renuncia à sua participação no mercado de trabalho.

  

QUESTÃO 11

A volta do marido pródigo

– Bom dia, seu Marrinha! Como passou de ontem?

– Bem. Já sabe, não é? Só ganha meio dia. [...]

Lá além, Generoso cotuca Tercino:

 [...] Vai em festa, dorme que-horas, e, quando chega, ainda é todo enfeitado e salamistrão!

 – Que é que hei de fazer, seu Marrinha... Amanheci com uma nevralgia... Fiquei com cisma de apanhar friagem...

– Hum...

– Mas o senhor vai ver como eu toco o meu serviço e ainda faço este povo trabalhar...

 [...]

Pintão suou para desprender um pedrouço, e teve de pular para trás, para que a laje lhe não esmagasse um pé.

Pragueja:

– Quem não tem brio engorda!

– É... Esse sujeito só é isso, e mais isso... – opina Sidu.

– Também, tudo p’ra ele sai bom, e no fim dá certo... – diz Correia, suspirando e retomando o enxadão.

– “P’ra uns, as vacas morrem ... p’ra outros até boi pega a parir...”.

Seu Marra já concordou:

– Está bem, seu Laio, por hoje, como foi por doença, eu aponto o dia todo. Que é a última vez!... E agora, deixa de conversa fiada e vai pegando a ferramenta!

ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967.

 

Esse texto tem importância singular como patrimônio linguístico para a preservação da cultura nacional devido

a) à menção a enfermidades que indicam falta de cuidado pessoal.

b) à referência a profissões já extintas que caracterizam a vida no campo.

c) aos nomes de personagens que acentuam aspectos de sua personalidade.

d) ao emprego de ditados populares que resgatam memórias e saberes coletivos.

e) às descrições de costumes regionais que desmistificam crenças e superstições.

 

QUESTÃO 12

O pavão vermelho

 

Ora, a alegria, este pavão vermelho,

está morando em meu quintal agora.

Vem pousar como um sol em meu joelho

quando é estridente em meu quintal a aurora.

 

Clarim de lacre, este pavão vermelho

sobrepuja os pavões que estão lá fora.

É uma festa de púrpura. E o assemelho

a uma chama do lábaro da aurora.

 

É o próprio doge a se mirar no espelho.

E a cor vermelha chega a ser sonora

neste pavão pomposo e de chavelho.

 

Pavões lilases possuí outrora.

Depois que amei este pavão vermelho,

os meus outros pavões foram-se embora.

COSTA, S. Poesia completa: Sosígenes Costa. Salvador: Conselho Estadual de Cultura. 2001.

 

Glossário

Doge: magistrado das antigas repúblicas de Veneza e Gênova, tinha poderes quase absolutos.

 

Na construção do soneto, as cores representam um recurso poético que configura uma imagem com a qual o eu lírico

a) revela a intenção de isolar-se em seu espaço.

b) simboliza a beleza e o esplendor da natureza.

c) experimenta a fusão de percepções sensoriais.

d) metaforiza a conquista de sua plena realização.

e) expressa uma visão de mundo mística e espiritualizada.

 

QUESTÃO 13

Comportamento geral

 

Você deve estampar sempre um ar de alegria

E dizer: tudo tem melhorado

Você deve rezar pelo bem do patrão

E esquecer que está desempregado

 

 Você merece

Você merece

Tudo vai bem, tudo legal

Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé

Se acabarem com teu carnaval

 

Você deve aprender a baixar a cabeça

E dizer sempre: muito obrigado

São palavras que ainda te deixam dizer

Por ser homem bem disciplinado

 

Deve pois só fazer pelo bem da nação

Tudo aquilo que for ordenado

Pra ganhar um fuscão no juízo final

E diploma de bem-comportado

GONZAGUINHA. Luiz Gonzaga Jr. Rio de Janeiro: Odeon. 1973 (fragmento).

 

Pela análise do tema e dos procedimentos argumentativos utilizados na letra da canção composta por Gonzaguinha na década de 1970, infere-se o objetivo de

a) ironizar a incorporação de ideias e atitudes conformistas.

b) convencer o público sobre a importância dos deveres cívicos.

c) relacionar o discurso religioso à resolução de problemas sociais.

d) questionar o valor atribuído pela população às festas populares.

e) defender uma postura coletiva indiferente aos valores dominantes.

 

QUESTÃO 14

A escrita faz de tal modo parte de nossa civilização que poderia servir de definição dela própria. A história da humanidade se divide em duas imensas eras: antes e a partir da escrita. Talvez venha o dia de uma terceira era – depois da escrita. Vivemos os séculos da civilização escrita. Todas as nossas sociedades baseiam-se no escrito. A lei escrita substitui a lei oral, o contrato escrito substitui a convenção verbal, a religião escrita se seguiu à tradição lendária. E sobretudo não existe história que não se funde sobre textos.

Charles Higounet. A história da escrita. (Adaptado).

 

A locução conjuntiva “de tal modo…que” e o advérbio “sobretudo”, respectivamente, expressam noção de

a) conformidade e dúvida.

b) consequência e realce.

c) condição e negação.

d) consequência e negação.

e) condição e realce.

 

QUESTÃO 15

TEXTO I

Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas não é por disfarçar, não pense. De grave, na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. Não crio receio. O senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr denúncia. E meus feitos já revogaram, prescrição dita. Tenho meu respeito firmado. Agora, sou anta empoçada, ninguém me caça. Da vida pouco me resta – só o deo-gratias; e o troco. Bobeia. Na feira de São João Branco, um homem andava falando: – “A pátria não pode nada com a velhice...” Discordo. A pátria é dos velhos, mais. Era um homem maluco, os dedos cheios de anéis velhos sem valor, as pedras retiradas – ele dizia: aqueles todos anéis davam até choque elétrico... Não. Eu estou contando assim, porque é o meu jeito de contar. Guerras e batalhas? Isso é como jogo de baralho, verte, reverte. Os revoltosos depois passaram por aqui, soldados de Prestes, vinham de Goiás, reclamavam posse de todos os animais de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em São Romão, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos anos adiante, um roceiro vai lavrar um pau, encontra balas cravadas. O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto. [...] Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe.

Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas, 2015.

 

TEXTO II

Dupla negação: emprego conjugado de palavras negativas.

Celso Pedro Luft. Abc da língua culta, 2010. (Adaptado).

 

Observa-se a ocorrência de dupla negação no trecho:

a) “Mas não é por disfarçar, não pense.”

b) “O senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr denúncia.”

c) “A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam.”

d) “Agora, sou anta empoçada, ninguém me caça.”

e) "De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa.”

 

QUESTÃO 16

O enigma

As pedras caminhavam pela estrada. Eis que uma forma obscura lhes barra o caminho. Elas se interrogam, e à sua experiência mais particular. Conheciam outras formas deambulantes, e o perigo de cada objeto em circulação na terra. Aquele, todavia, em nada se assemelha às imagens trituradas pela experiência, prisioneiras do hábito ou domadas pelo instinto imemorial das pedras. As pedras detêm-se. No esforço de compreender, chegam a imobilizar-se de todo. E na contenção desse instante, fixam-se as pedras – para sempre – no chão, compondo montanhas colossais, ou simples e estupefatos e pobres seixos desgarrados.

Mas a coisa sombria – desmesurada, por sua vez – aí está, à maneira dos enigmas que zombam da tentativa de interpretação. É mal de enigmas não se decifrarem a si próprios. Carecem de argúcia alheia que os liberte de sua confusão amaldiçoada. E repelem-na ao mesmo tempo, tal é a condição dos enigmas. Esse travou o avanço das pedras, rebanho desprevenido, e amanhã fixará por igual as árvores, enquanto não chega o dia dos ventos, e o dos pássaros, e o do ar pululante de insetos e vibrações, e o de toda vida, e o da mesma capacidade universal de se corresponder e se completar, que sobrevive à consciência. O enigma tende a paralisar o mundo.

Talvez que a enorme Coisa sofra na intimidade de suas fibras, mas não se compadece nem de si nem daqueles que reduz à congelada expectação.

Ai! de que serve a inteligência – lastimam-se as pedras. Nós éramos inteligentes; contudo, pensar a ameaça não é removê-la; é criá-la.

Ai! de que serve a sensibilidade – choram as pedras. Nós éramos sensíveis, e o dom da misericórdia se volta contra nós, quando contávamos aplicá-lo a espécies menos favorecidas.

Anoitece, e o luar, modulado de dolentes canções que preexistem aos instrumentos de música, espalha no côncavo, já pleno de serras abruptas e de ignoradas jazidas, melancólica moleza.

Mas a Coisa interceptante não se resolve. Barra o caminho e medita, obscura.

 

Carlos Drummond de Andrade. Poesia 1930-62, 2012.

 

Glossário

Deambular: andar à toa; vaguear, passear.

 

Em “Aquele, todavia, em nada se assemelha às imagens trituradas pela experiência, prisioneiras do hábito ou domadas pelo instinto imemorial das pedras” (1º parágrafo), o termo sublinhado pode ser substituído, sem prejuízo para o sentido do texto, por:

CONY, C. H. Crônicas para ler na escola. São Paulo: Objetiva, 2009 (adaptado).

 

a) por conseguinte

b) sem dúvida

c) inclusive

d) além disso

e) não obstante

 

QUESTÃO 17

KOSUTH J. One and Three Chairs. Museu Reina Sofia, Espanha, 1965.

 

A obra de Joseph Kosuth data de 1965 e se constitui por uma fotografia de cadeira, uma cadeira exposta e um quadro com o verbete “Cadeira”. Trata-se de um exemplo de arte conceitual que revela o paradoxo entre verdade e imitação, já que a arte

a) não é a realidade, mas uma representação dela.

b) fundamenta-se na repetição, construindo variações.

c) não se define, pois depende da interpretação do fruidor.

d) resiste ao tempo, beneficiada por múltiplas formas de registro.

e) redesenha a verdade, aproximando-se das definições lexicais.

 

QUESTÃO 18

“O que desejava... Ah! Esquecia-se. Agora se discordava da viagem que tinha feito pelo sertão, a cair de fome.”

Graciliano Ramos

 

A alternativa em que a preposição “de” expressa a mesma ideia que possui em “a cair de fome” é:

a) De tanto gritar, sua voz ficou rouca.

b) De grão em grão, a galinha enche o papo.

c) De noite todos os gatos são pardos.

d) Chegaram cedo de Cruzeiro do Sul.

e) Trazia no bolso uma caneta de prata.

 

 

QUESTÃO 19

 [...] Um exemplo da permanência de arcaísmos na fala atual é o uso de “aonde” e “donde” com sentido estático, isto é, significando “onde”. [...] No Renascimento, mesmo clássicos como João de Barros empregavam as três formas como equivalentes, e isso não era considerado erro.

Mais tarde, com a normatização gramatical, decidiu-se que “aonde” só se emprega com verbos que rejam a preposição “a” e “donde” só com verbos que rejam “de”. Por sinal, os brasileiros da atualidade usam preferentemente “de onde” a “donde”, mas a confusão entre “onde” e “aonde” continua e, longe de ser mero indício de ignorância, é resquício de um uso ancestral, que na oralidade popular tem passado incólume pelas reformas gramaticais.

Revista Língua Portuguesa, n.º 114, p. 18, abril de 2015.

 

Considerando a exposição feita no texto anterior, é de uso eminentemente popular e contrário às normas gramaticais o período:

a) Aonde eu devo levar as meninas amanhã?

b) Onde moram aqueles funcionários?

c) De onde provêm esses andarilhos?

d) Aonde você quer chegar com essa argumentação?

e) Onde você pensa que vai com esse vaso?

 

QUESTÃO 20


As classificações gramaticais de uma mesma palavra podem variar de acordo com o contexto em que a empregamos. A palavra que tem sua classe gramatical modificada no contexto da tirinha é

a) “prato”.

b) “você”.

c) “ursinho”.

d) “rápido”.

e) “Isso”.


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