QUESTÃO 01
a) Intertextualidade e prosopopeia.
b) Ambiguidade e paradoxo.
c) Neologia e polissíndeto.
d) Ambiguidade e paronímia.
e) Intertextualidade e polissemia.
O efeito de humor presente nas falas das
personagens decorre do(a)
a) quebra de expectativa
gerada pela polissemia.
b) ambiguidade causada
pela antonímia.
c) contraste provocado
pela fonética.
d) contraste introduzido
pela neologia.
e) estranhamento devido à
morfologia.
Gosto e
preciso de ti,
Mas quero
logo explicar,
Não gosto
porque preciso.
Preciso sim,
por gostar.
LAGO, Mário. Disponível
em: www.encantosepaixoes.com.br. Acesso em: 17 fev. 2022.
A relação de sentido existente na preposição
“por” no último verso, é de:
a) modo.
b) consequência.
c) conteúdo.
d) posse.
e) causa.
QUESTÃO 04
a) paronímia ao suavizar a
ideia entre os dois verbos.
b) ironia ao empregar a
palavra “barreira” com sentido pejorativo.
c) polissemia ao
estabelecer os vários sentidos da palavra “acessos”.
d) antonímia ao retratar a
oposição entre os verbos e os substantivos.
e) sinonímia ao aproximar
o sentido das palavras “acessos” e “barreiras”.
QUESTÃO 05
O efeito de sentido da charge é provocado pela combinação de informações visuais e recursos linguísticos. No contexto da ilustração, a frase proferida recorre à
a) polissemia, ou seja,
aos múltiplos sentidos da expressão “rede social” para transmitir a ideia que
pretende veicular.
b) ironia para conferir um
novo significado ao termo “outra coisa”.
c) homonímia para opor, a
partir do advérbio de lugar, o espaço da população pobre e o espaço da
população rica.
d) personificação para
opor o mundo real pobre ao mundo virtual rico.
e) antonímia para comparar
a rede mundial de computadores com a rede caseira de descanso da família.
QUESTÃO 06
Entre todas
as palavras do momento, a mais flamejante talvez seja desigualdade. E nem é uma
boa palavra, incomoda. Começa com des. Des de desalento, des de desespero, des
de desesperança. Des, definitivamente, não é um bom prefixo.
Desigualdade.
A palavra do ano, talvez da década, não importa em que dicionário. Doravante
ouviremos falar muito nela.
De-si-gual-da-de.
Há quem não veja nem soletre, mas está escrita no destino de todos os busões da
cidade, sentido centro/subúrbio, na linha reta de um trem. Solano Trindade, no
sinal fechado, fez seu primeiro rap, “tem gente com fome, tem gente com fome,
tem gente com fome”, somente com esses substantivos. Você ainda não conhece o
Solano? Corra, dá tempo. Dá tempo para você entender que vivemos essa
desigualdade. Pegue um busão da Avenida Paulista para a Cidade Tiradentes,
passe o vale-transporte na catraca e simbora – mais de 30 quilômetros. O patrão
jardinesco vive 23 anos a mais, em média, do que um humaníssimo habitante da
Cidade Tiradentes, por todas as razões sociais que a gente bem conhece.
Evitei as
estatísticas nessa crônica. Podia matar de desesperança os leitores, os números
rendem manchete, mas carecem de rostos humanos. Pega a visão, imprensa, só há
uma possibilidade de fazer a grande cobertura: mire-se na desigualdade, talvez
não haja mais jeito de achar que os pontos da bolsa de valores signifiquem a
ideia de fazer um país.
Xico Sá, A vidinha sururu
da desigualdade brasileira. Em El País, 28/10/2019. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/28/opinion/1572287747_637859.html.
Acesso em: 25 maio 2020. (Adaptado).
Assinale a alternativa que identifica
corretamente recursos linguísticos explorados pelo autor nessa crônica.
a) Uso de verbos no
imperativo, linguagem informal, texto impessoal.
b) Marcas de
coloquialidade, uso de primeira pessoa, linguagem objetiva.
c) Marcas de oralidade,
uso expressivo de recursos ortográficos, subjetividade do autor.
d) Uso de variação
linguística, linguagem neutra, apelo ao tom coloquial.
e) Emprego de gírias,
objetividade na abordagem do assunto e impessoalidade.
QUESTÃO 07
A máquina extraviada
Você sempre
pergunta pelas novidades daqui deste sertão, e finalmente posso lhe contar uma importante.
Fique o compadre sabendo que agora temos aqui uma máquina imponente, que está
entusiasmando todo o mundo. Desde que ela chegou – não me lembro quando, não
sou muito bom em lembrar datas – quase não temos falado em outra coisa; e da
maneira que o povo aqui se apaixona até pelos assuntos mais infantis, é de
admirar que ninguém tenha brigado ainda por causa dela, a não ser os políticos.
[...]
Já existe
aqui um movimento para declarar a máquina monumento municipal. [...] Dizem que
a máquina já tem feito até milagre, mas isso – aqui para nós – eu acho que é
exagero de gente supersticiosa, e prefiro não ficar falando no assunto. Eu – e
creio que também a grande maioria dos munícipes – não espero dela nada em
particular; para mim basta que ela fique onde está, nos alegrando, nos
inspirando, nos consolando.
VEIGA, J. J. A máquina extraviada: contos. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.
Qual procedimento composicional caracteriza a
construção do texto?
a) As intervenções
explicativas do narrador.
b) A descrição de uma
situação hipotética.
c) As referências à
crendice popular.
d) A objetividade irônica
do relato.
e) As marcas de
interlocução.
QUESTÃO 08
Naquela
manhã de céu limpo e ar leve, devido à chuva torrencial da noite anterior, sai
a caminhar com o sol ainda escondido para tomar tenência dos primeiros
movimentos da vida na roça. Num demorou nem um tiquinho e o cheiro intenso do
café passado por Dona Linda me invadiu as narinas e fez a fome se acordar
daquela rema letárgica derivada da longa noite de sono. Levei as mãos até a
água que corria pela bica feita de bambu e o contato gelado foi de arrepiar.
Mas fui em frente e levei as mãos em concha até o rosto. Com o impacto, recuei
e me faltou o fôlego por alguns instantes, mas o despertar foi imediato. Já
aceso, entrei na cozinha na buscação de derrubar a fome e me acercar do
aconchego do calor do fogão à lenha. Foi quando dei reparo da figura esguia e
discreta de uma senhora acompanhada de um garoto aparentando uns cinco anos de
idade já aboletada na ponta da mesa em proseio íntimo com a dona da casa.
Depois de um vigoroso “Bom dia!”, de um vaporoso aperto de mãos nas
apresentações de praxe, fiquei sabendo que Dona Flor de Maio levava o filho Adão
para tratamento das feridas que pipocavam por seu corpo, provocando pequenas
pústulas de bordas avermelhadas.
GUIÃO, M. Disponível em:
www.revistaecologico.com.br. Acesso em: 10 mar. 2014. (Adaptado).
A variedade linguística da narrativa é
adequada à descrição dos fatos. Por isso, a escolha de determinadas palavras e
expressões usadas no texto está a serviço da
a) localização dos eventos
de fala no tempo ficcional.
b) composição da
verossimilhança do ambiente retratado.
c) restrição do papel do
narrador à observação das cenas relatadas.
d) construção mística das
personagens femininas pelo autor do texto.
e) caracterização das
preferências linguísticas da personagem masculina.
QUESTÃO 09
Ricos esquimós
O
aquecimento global e o derretimento das geleiras, acredite, têm
enriquecido os habitantes do Polo Norte. Localizada no extremo norte da
América, a Groelândia é a maior ilha do mundo. Nela, 80% do território é
coberto por geleiras e os termômetros marcam uma média de 22° negativos. Essa
calota polar cujo volume é de 2,85 milhões de km3 está derretendo. Agora,
a surpresa: criadores e pescadores começam a comemorar porque com isso eles
estão ganhando dinheiro.
ISTOÉ. São Paulo: Editora Três,
n. 1922. 23 ago. 2006, p. 26. (Adaptado).
No texto, os usos de “acredite” e “agora” têm
o objetivo de
a) destacar a opinião do
autor pela apresentação de evidências estatísticas.
b) indicar a criação de um
espaço hipotético para o conteúdo do texto.
c) delimitar a ocorrência
dos eventos destacados em um plano temporal.
d) mostrar aos
interlocutores o caráter inverossímil dos fatos mencionados.
e) estabelecer uma relação
de proximidade entre o autor do texto e os interlocutores.
QUESTÃO 10
Singular ocorrência
– Há
ocorrências bem singulares. Está vendo aquela dama que vai entrando na igreja
da Cruz? Parou agora no adro para dar uma esmola.
– De preto?
– Justamente;
lá vai entrando; entrou.
– Não ponha
mais na carta. Esse olhar está dizendo que a dama é uma recordação de outro
tempo, e não há de ser muito tempo, a julgar pelo corpo: é moça de truz.
– Deve ter
quarenta e seis anos.
– Ah!
conservada. Vamos lá; deixe de olhar para o chão e conte-me tudo. Está viúva,
naturalmente?
– Não.
– Bem; o
marido ainda vive. É velho?
– Não é
casada.
– Solteira?
– Assim,
assim. Deve chamar-se hoje D. Maria de tal. Em 1860 florescia com o nome
familiar de Marocas. Não era costureira, nem proprietária, nem mestra de
meninas; vá excluindo as profissões e chegará lá. Morava na Rua do Sacramento.
Já então era esbelta, e, seguramente, mais linda do que hoje; modos sérios,
linguagem limpa.
ASSIS, M. Machado de
Assis: seus 30 melhores contos. Rio de Janeiro: Aguilar, 1961.
No diálogo, descortinam-se aspectos da
condição da mulher em meados do século XIX. O ponto de vista dos personagens manifesta
conceitos segundo os quais a mulher
a) encontra um modo de
dignificar-se na prática da caridade.
b) preserva a aparência
jovem conforme seu estilo de vida.
c) condiciona seu
bem-estar à estabilidade do casamento.
d) tem sua identidade e
seu lugar referendados pelo homem.
e) renuncia à sua
participação no mercado de trabalho.
QUESTÃO 11
A volta do marido pródigo
– Bom dia,
seu Marrinha! Como passou de ontem?
– Bem. Já
sabe, não é? Só ganha meio dia. [...]
Lá além,
Generoso cotuca Tercino:
– [...] Vai em festa, dorme que-horas, e, quando
chega, ainda é todo enfeitado e salamistrão!
– Hum...
– Mas o
senhor vai ver como eu toco o meu serviço e ainda faço este povo trabalhar...
[...]
Pintão suou
para desprender um pedrouço, e teve de pular para trás, para que a laje lhe não
esmagasse um pé.
Pragueja:
– Quem não
tem brio engorda!
– É... Esse
sujeito só é isso, e mais isso... – opina Sidu.
– Também,
tudo p’ra ele sai bom, e no fim dá certo... – diz Correia, suspirando e
retomando o enxadão.
– “P’ra uns,
as vacas morrem ... p’ra outros até boi pega a parir...”.
Seu Marra já
concordou:
– Está bem,
seu Laio, por hoje, como foi por doença, eu aponto o dia todo. Que é a última
vez!... E agora, deixa de conversa fiada e vai pegando a ferramenta!
ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio,
1967.
Esse texto tem importância singular como
patrimônio linguístico para a preservação da cultura nacional devido
a) à menção a enfermidades
que indicam falta de cuidado pessoal.
b) à referência a
profissões já extintas que caracterizam a vida no campo.
c) aos nomes de
personagens que acentuam aspectos de sua personalidade.
d) ao emprego de ditados
populares que resgatam memórias e saberes coletivos.
e) às descrições de
costumes regionais que desmistificam crenças e superstições.
QUESTÃO 12
O pavão vermelho
Ora, a
alegria, este pavão vermelho,
está morando
em meu quintal agora.
Vem pousar
como um sol em meu joelho
quando é estridente
em meu quintal a aurora.
Clarim de
lacre, este pavão vermelho
sobrepuja os
pavões que estão lá fora.
É uma festa
de púrpura. E o assemelho
a uma chama
do lábaro da aurora.
É o próprio doge a se mirar no espelho.
E a cor
vermelha chega a ser sonora
neste pavão
pomposo e de chavelho.
Pavões
lilases possuí outrora.
Depois que
amei este pavão vermelho,
os meus
outros pavões foram-se embora.
COSTA, S. Poesia
completa: Sosígenes Costa. Salvador: Conselho Estadual de Cultura. 2001.
Glossário
Doge: magistrado das antigas
repúblicas de Veneza e Gênova, tinha poderes quase absolutos.
Na construção do soneto, as cores representam
um recurso poético que configura uma imagem com a qual o eu lírico
a) revela a intenção de
isolar-se em seu espaço.
b) simboliza a beleza e o
esplendor da natureza.
c) experimenta a fusão de
percepções sensoriais.
d) metaforiza a conquista
de sua plena realização.
e) expressa uma visão de
mundo mística e espiritualizada.
QUESTÃO 13
Comportamento geral
Você deve
estampar sempre um ar de alegria
E dizer:
tudo tem melhorado
Você deve
rezar pelo bem do patrão
E esquecer
que está desempregado
Você merece
Você merece
Tudo vai
bem, tudo legal
Cerveja,
samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem
com teu carnaval
Você deve
aprender a baixar a cabeça
E dizer
sempre: muito obrigado
São palavras
que ainda te deixam dizer
Por ser
homem bem disciplinado
Deve pois só
fazer pelo bem da nação
Tudo aquilo
que for ordenado
Pra ganhar
um fuscão no juízo final
E diploma de
bem-comportado
GONZAGUINHA. Luiz Gonzaga
Jr. Rio de Janeiro: Odeon. 1973 (fragmento).
Pela análise do tema e dos procedimentos
argumentativos utilizados na letra da canção composta por Gonzaguinha na década
de 1970, infere-se o objetivo de
a) ironizar a incorporação
de ideias e atitudes conformistas.
b) convencer o público
sobre a importância dos deveres cívicos.
c) relacionar o discurso
religioso à resolução de problemas sociais.
d) questionar o valor
atribuído pela população às festas populares.
e) defender uma postura
coletiva indiferente aos valores dominantes.
QUESTÃO 14
A escrita faz de tal modo parte de nossa civilização que poderia servir de definição dela própria. A história da
humanidade se divide em duas imensas eras: antes e a partir da escrita. Talvez
venha o dia de uma terceira era – depois da escrita. Vivemos os séculos da
civilização escrita. Todas as nossas sociedades baseiam-se no escrito. A lei
escrita substitui a lei oral, o contrato escrito substitui a convenção verbal,
a religião escrita se seguiu à tradição lendária. E sobretudo não existe história que não se funde sobre textos.
Charles Higounet. A
história da escrita. (Adaptado).
A locução conjuntiva “de tal modo…que” e o
advérbio “sobretudo”, respectivamente, expressam noção de
a) conformidade e dúvida.
b) consequência e realce.
c) condição e negação.
d) consequência e negação.
e) condição e realce.
QUESTÃO 15
TEXTO I
Sei que
estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas não é por disfarçar, não
pense. De grave, na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. Não crio receio.
O senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr
denúncia. E meus feitos já revogaram, prescrição dita. Tenho meu respeito
firmado. Agora, sou anta empoçada, ninguém me caça. Da vida pouco me resta – só
o deo-gratias; e o troco. Bobeia. Na feira de São João Branco, um homem andava
falando: – “A pátria não pode nada com a velhice...” Discordo. A pátria é dos
velhos, mais. Era um homem maluco, os dedos cheios de anéis velhos sem valor,
as pedras retiradas – ele dizia: aqueles todos anéis davam até choque
elétrico... Não. Eu estou contando assim, porque é o meu jeito de contar.
Guerras e batalhas? Isso é como jogo de baralho, verte, reverte. Os revoltosos
depois passaram por aqui, soldados de Prestes, vinham de Goiás, reclamavam
posse de todos os animais de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em
São Romão, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos
anos adiante, um roceiro vai lavrar um pau, encontra balas cravadas. O que
vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos
diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem
não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa
importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar,
cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido
desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto. [...] Tem horas antigas que
ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor
mesmo sabe.
Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas, 2015.
TEXTO II
Dupla negação: emprego conjugado de palavras
negativas.
Celso Pedro Luft. Abc da língua culta, 2010. (Adaptado).
Observa-se a ocorrência de dupla negação no
trecho:
a) “Mas não é por
disfarçar, não pense.”
b) “O senhor é homem de
pensar o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr denúncia.”
c) “A lembrança da vida da
gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns
com os outros acho que nem não misturam.”
d) “Agora, sou anta
empoçada, ninguém me caça.”
e) "De cada vivimento
que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu
era como se fosse diferente pessoa.”
QUESTÃO 16
O enigma
As pedras
caminhavam pela estrada. Eis que uma forma obscura lhes barra o caminho. Elas
se interrogam, e à sua experiência mais particular. Conheciam outras formas
deambulantes, e o perigo de cada objeto em circulação na terra. Aquele,
todavia, em nada se assemelha às imagens trituradas pela experiência,
prisioneiras do hábito ou domadas pelo instinto imemorial das pedras. As pedras
detêm-se. No esforço de compreender, chegam a imobilizar-se de todo. E na
contenção desse instante, fixam-se as pedras – para sempre – no chão, compondo
montanhas colossais, ou simples e estupefatos e pobres seixos desgarrados.
Mas a coisa
sombria – desmesurada, por sua vez – aí está, à maneira dos enigmas que zombam
da tentativa de interpretação. É mal de enigmas não se decifrarem a si
próprios. Carecem de argúcia alheia que os liberte de sua confusão amaldiçoada.
E repelem-na ao mesmo tempo, tal é a condição dos enigmas. Esse travou o avanço
das pedras, rebanho desprevenido, e amanhã fixará por igual as árvores,
enquanto não chega o dia dos ventos, e o dos pássaros, e o do ar pululante de
insetos e vibrações, e o de toda vida, e o da mesma capacidade universal de se
corresponder e se completar, que sobrevive à consciência. O enigma tende a
paralisar o mundo.
Talvez que a
enorme Coisa sofra na intimidade de suas fibras, mas não se compadece nem de si
nem daqueles que reduz à congelada expectação.
Ai! de que
serve a inteligência – lastimam-se as pedras. Nós éramos inteligentes; contudo,
pensar a ameaça não é removê-la; é criá-la.
Ai! de que
serve a sensibilidade – choram as pedras. Nós éramos sensíveis, e o dom da
misericórdia se volta contra nós, quando contávamos aplicá-lo a espécies menos
favorecidas.
Anoitece, e
o luar, modulado de dolentes canções que preexistem aos instrumentos de música,
espalha no côncavo, já pleno de serras abruptas e de ignoradas jazidas,
melancólica moleza.
Mas a Coisa
interceptante não se resolve. Barra o caminho e medita, obscura.
Carlos Drummond de
Andrade. Poesia 1930-62, 2012.
Glossário
Deambular: andar à
toa; vaguear, passear.
Em “Aquele, todavia, em nada se
assemelha às imagens trituradas pela experiência, prisioneiras do hábito ou
domadas pelo instinto imemorial das pedras” (1º parágrafo), o termo sublinhado
pode ser substituído, sem prejuízo para o sentido do texto, por:
CONY, C. H. Crônicas para
ler na escola. São Paulo: Objetiva, 2009 (adaptado).
a) por conseguinte
b) sem dúvida
c) inclusive
d) além disso
e) não obstante
A obra de Joseph Kosuth data de 1965 e se
constitui por uma fotografia de cadeira, uma cadeira exposta e um quadro com o
verbete “Cadeira”. Trata-se de um exemplo de arte conceitual que revela o
paradoxo entre verdade e imitação, já que a arte
a) não é a realidade, mas
uma representação dela.
b) fundamenta-se na
repetição, construindo variações.
c) não se define, pois
depende da interpretação do fruidor.
d) resiste ao tempo,
beneficiada por múltiplas formas de registro.
e) redesenha a verdade,
aproximando-se das definições lexicais.
QUESTÃO 18
“O que desejava... Ah! Esquecia-se. Agora se
discordava da viagem que tinha feito pelo sertão, a cair de fome.”
Graciliano Ramos
A alternativa em que a preposição “de”
expressa a mesma ideia que possui em “a cair de fome” é:
a) De tanto gritar, sua
voz ficou rouca.
b) De grão em grão, a
galinha enche o papo.
c) De noite todos os gatos
são pardos.
d) Chegaram cedo de
Cruzeiro do Sul.
e) Trazia no bolso uma
caneta de prata.
QUESTÃO 19
[...] Um exemplo da permanência de arcaísmos
na fala atual é o uso de “aonde” e “donde” com sentido estático, isto é,
significando “onde”. [...] No Renascimento, mesmo clássicos como João de Barros
empregavam as três formas como equivalentes, e isso não era considerado erro.
Mais tarde,
com a normatização gramatical, decidiu-se que “aonde” só se emprega com verbos
que rejam a preposição “a” e “donde” só com verbos que rejam “de”. Por sinal,
os brasileiros da atualidade usam preferentemente “de onde” a “donde”, mas a
confusão entre “onde” e “aonde” continua e, longe de ser mero indício de
ignorância, é resquício de um uso ancestral, que na oralidade popular tem
passado incólume pelas reformas gramaticais.
Revista Língua
Portuguesa, n.º 114, p. 18, abril de 2015.
Considerando a exposição feita no texto
anterior, é de uso eminentemente popular e contrário às normas gramaticais o
período:
a) Aonde eu devo levar as
meninas amanhã?
b) Onde moram aqueles
funcionários?
c) De onde provêm esses
andarilhos?
d) Aonde você quer chegar
com essa argumentação?
e) Onde você pensa que vai
com esse vaso?
QUESTÃO 20
As classificações gramaticais de uma mesma palavra podem variar de acordo com o contexto em que a empregamos. A palavra que tem sua classe gramatical modificada no contexto da tirinha é
a) “prato”.
b) “você”.
c) “ursinho”.
d) “rápido”.
e) “Isso”.
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