O gênero no qual Cecília Meireles se baseou
para escrever o seu Romanceiro, originalmente se caracteriza como um conjunto de romances,
denominados “romances tradicionais”, que são formas poético-narrativas
medievais de origem ibérica. Esses romances tinham origem na tradição oral e
eram musicados, e, embora fossem populares em seu tempo, atualmente restam
poucos registros escritos dessas formas.
O romanceiro, desta forma, pode ser
entendido como sendo um poema narrativo, de assunto histórico-épico com caráter
popular. No Brasil, esse gênero chegou com seus colonizadores, reduzidas,
muitas vezes, às cantigas de ninar. Muitos autores defendem seu prolongamento
nos cantadores de cordel, que são caracterizados pela continuação da cultura
oral e cantada, e a utilização de rimas simples, de fácil assimilação.
Cecília teria se inspirado no romance
medieval de Amadis de Gaula, retomando a tradição de origem ibérica para escrever Amor em Leonoreta no
ano de 1951, antes da publicação do Romanceiro
da Inconfidência, em 1953.
Apesar dessa tendência ao resgate do
passado na sua escolha formal, o romanceiro de Cecília não se limita aos
padrões. Encontramos em sua obra moldes formais de referências diversas, desde
requintes de uma poesia culta até esquemas resgatados da cultura popular.
O Romanceiro
da Inconfidência apresenta caráter épico-lírico, ou seja,
caracteriza-se, ao mesmo tempo, pela presença da reflexão e pelo conteúdo
narrativo apoiado em fatos históricos. Ao investigarmos sua constituição,
levamos em conta sua herança medieval, mas, sobretudo, os aspectos modernos no
arranjo da forma e também na expressão de conteúdo. Assim, os traços líricos e
épicos que se combinam e levam o leitor a transitar entre o factual histórico e
o caráter universal proporcionado pelas reflexões líricas presentes na obra.
Adaptado de: https://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rel/article/view/415