O fato
Luciana acordou
cedo e, enquanto tomava o café da manhã, leu o jornal. Depois
disso, chamou um táxi e dirigiu-se
ao aeroporto, onde tomou um avião para o Rio de Janeiro.
Observe
que, normalmente, os fatos narrados aparecem em ordem cronológica (geralmente
do passado para o presente). Primeiro ela acordou, leu o jornal e tomou café;
depois tomou um táxi, em seguida dirigiu-se ao aeroporto e, finalmente, tomou o
avião.
Os personagens
O narrador
É
importante você distinguir o narrador do autor. O autor é a
pessoa que escreveu a história; portanto ele pertence ao mundo real. Já o
narrador é, geralmente, uma criação do autor e pertence, portanto, ao mundo da
ficção. O narrador é o dono da voz, é o falante, é quem
“conversa” com o leitor.
Você
poderá ler uma história de um autor que já morreu há muitos anos, mas no
momento em que está lendo a história, o narrador está bem vivo lhe contando os
fatos.
O cenário
Além
disso, a história pode ser ambientada num único cenário (a história inteira
ocorre num único lugar) ou acontecer em vários cenários diferentes.
O tempo
O
tempo nas narrações pode ser definido ou vago. Certamente, você já ouviu
histórias que começam mais ou menos assim: “Numa quarta-feira do mês de janeiro
de 1997, Heloísa tomou um avião para o Recife. Lá chegando...” (tempo
definido).
Outras
narrações podem começar assim: “Há muito tempo, na longínqua Grécia...” (tempo
indefinido). As narrativas dos contos de fada costumam se desenvolver num
espaço de tempo bastante vago, indefinido. Geralmente elas começam por “Era uma
vez...”.
O conflito
Pense
nas histórias de filmes, novelas, desenhos de TV, peças de teatro. Pense nos
vilões, nos “bandidos”, nos inimigos que estão sempre criando problemas para o
“mocinho”. E, então, nosso herói reage enfrentando as dificuldades criadas
pelos vilões. Essa disputa, essa luta que se estabelece entre as duas partes, é
o que chamamos de conflito.
Vamos
tomar como exemplo a clássica história de Romeu e Julieta, do escritor inglês
William Shakespeare, escrita em 1594: Romeu e Julieta são dois adolescentes que
se amam, sonham em viver juntos. Mas logo se estabelece o conflito: como suas
famílias são inimigas, eles não podem realizar seu sonho. O final você conhece:
Julieta toma um tranqüilizante e parece morta; Romeu, acreditando ter perdido a
sua amada, se suicida. Julieta acorda e, ao perceber Romeu morto, também se
mata.
A
partir da história e Romeu e Julieta, podemos dizer que, na seqüência dos
fatos, ao viver um conflito, os personagens têm suas vidas alteradas.
A narração
O
acontecimento é vivido por personagens (você e seus amigos, um turista e
uma aeromoça, um príncipe e uma princesa etc.), num determinado local (o cenário)
e num determinado espaço de tempo.
O
tipo de composição que apresenta essas características é chamado de narração.
Vamos
ler, agora, um texto narrativo de Stanislaw Ponte Preta.
A estranha passageira
Depois
pediu que eu me sentasse ao seu lado, pois me achava muito calmo e isto iria
fazer-lhe bem. Lá se ia a oportunidade de ler o romance policial que eu
comprara no aeroporto, para me distrair na viagem. Suspirei e fiz o bacano
respondendo que estava às suas ordens.
Madama
entrou no avião sobraçando um monte de embrulhos, que segurava
desajeitadamente. Gorda como era, custou a se encaixar na poltrona e arrumar
todos aqueles pacotes. Depois não sabia como amarrar o cinto e ou tive que
realizar essa operação em sua farta cintura.
Afinal
estava ali pronta para viajar. Os outros passageiros estavam já se divertindo
às minhas custas, a zombar do meu embaraço ante as perguntas que aquela senhora
me fazia aos berros, como se estivesse em sua casa, entre pessoas íntimas. A
coisa foi ficando ridícula:
-
Para que esse saquinho aí? - foi a pergunta que fez, num tom de voz que parecia
que ela estava no Rio e eu em São Paulo.
-
É para a senhora usar em caso de necessidade - respondi baixinho. Tenho certeza
de que ninguém ouviu minha resposta, mas todos adivinharam qual foi porque ela
arregalou os olhos e exclamou:
-
Uai... as necessidades neste saquinho? No avião não tem banheiro?
Alguns
passageiros riram, outros - por fineza - fingiram ignorar o lamentável equívoco
da incômoda passageira de primeira viagem. Mas ela era um azougue (embora com
tantas carnes parecesse mais um açougue) e não parava de badalar. Olhava para
trás, olhava para cima, mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou
a alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás e esparramando
embrulhos para todos os lados.
O
comandante já esquentara os motores e a aeronave estava parada, esperando
ordens para ganhar a pista de decolagem. Percebi que minha vizinha de banco
apertava os olhos e lia qualquer coisa. Logo veio a pergunta:
-
Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra ela?
Expliquei
que emergência não era ninguém, a porta é que era de emergência, isto é, em
caso de necessidade, saía-se por ela.
Madama sossegou e os outros passageiros já
estavam conformados com o término do “show”. Mesmo os que mais se divertiam com
ele resolveram abrir jornais, revistas ou se acomodaram para tirar uma pestana
durante a viagem.
Foi
quando madama deu o último vexame. Olhou pela janela (ela pedira para ficar do
lado da janela para ver a paisagem) e gritou:
-
Puxa Vida!!!
Todos
olharam para ela, inclusive eu. Madama apontou para a janela e disse:
-
Olha lá embaixo.
Eu
olhei. E ela acrescentou: - Como nós estamos voando alto, moço. Olha só... o
pessoal lá embaixo até parece formiga.
Suspirei
e lasquei:
-
Minha senhora, aquilo são formigas mesmo. O avião ainda não levantou vôo.
Responda no seu caderno:
1. O narrador participa dos acontecimentos ou
é um mero observador?
2. O texto fornece algumas características do
narrador. Defina como é o seu comportamento.
3. Qual é o cenário dessa narrativa?
4. Caracterize a passageira.
5. As atitudes da passageira impediram o
narrador de realizar o que tinha planejado. O que ele deixou de fazer?
6. Por ser gorda, a passageira enfrentou
algumas dificuldades. Cite uma delas.
7. Emergência também é um personagem da
história? Explique.
8. Escreva duas passagens do texto que
demonstram que a mulher falava alto.