16 dezembro 2021

BIOGRAFIA

 Vinícius de Moraes

 

Em 1938, o governo britânico concedeu uma bolsa para Vinícius de Moraes estudar Direito em Oxford. A concessão implicava em uma série de regras muito rigorosas, como é do gosto dos ingleses, e uma delas era só aceitar alunos solteiros. Apaixonado por Beatriz de Mello, a Tati, o poeta estava decidido a casar-se com ela, mas não queria perder a bolsa. De fato, uniu-se legalmente com Tati (seu único casamento no civil, embora tenha tido nove companheiras), mas só depois de providenciar a matrícula em Oxford. Para não levantar suspeitas, arranjou uma casa para Tati no bairro londrino Chelsea, já que o poeta tinha a obrigação de morar nos alojamentos estudantis. A distância não atrapalhou sua vida marital. Três vezes por semana, Vinícius fugia do campus sem que os inspetores de alunos notassem. Corria para pegar o trem que o levaria para Tati. Enfrentava duas horas de viagem e voltava para a aula na manhã seguinte. O esforço compensou. Foi neste período que Vinícius escreveu um dos mais importantes poemas de sua carreira, Os telhados de Chelsea. Pouco dedicou-se ao Direito, porque foi em Oxford que Vinícius mais estudou poesia, retornando ao Brasil em 1939, quando a Segunda Guerra ameaçava eclodir.

Aprendiz convencido. Poeta, compositor e diplomata, Vinícius de Moraes (nascido a 19 de outubro de 1913, no Rio de Janeiro) iniciou sua carreira de escritor aos 20 anos, lançando O caminho para a distância, livro que o pai o ajudara a publicar, pagando todo o custo da impressão. Dois anos mais tarde, concorreu e ganhou o prêmio Felipe de Oliveira, o mais importante na categoria com Forma e exegese, disputando com Jorge Amado. Por essas e outras, nessa fase juvenil, passou a considerar-se um poeta genial, até que críticos como Manuel Bandeira, seu grande amigo mais tarde, e João Ribeiro o pusessem em seu devido lugar, como ele explicou mais tarde. Aconselharam o “aprendiz” a trabalhar melhor os versos e garantiram ao jovem poeta convencido que os sonetos estavam longe da condição ideal. Segundo Vinícius, as críticas o ajudaram muito e o resultado foi sua consagração como um dos poetas mais importantes do Brasil.

Quando exerceu a diplomacia no Itamaraty (de 1943 a 1969), aproveitou para realizar dois de seus mais incontroláveis desejos, o de viajar e fazer amigos. Diplomata em Los Angeles, entre 1946 e 1951, tornou-se íntimo de várias personalidades do cinema, como Orson Welles, frequentando com ele os estúdios de Hollywood, e Walt Disney.

Um poeta no armário. Circulando entre os famosos, ganhou notoriedade na mídia internacional, tendo seu rosto estampado em várias publicações, até que um dia um desses jornais parou na mesa do presidente Costa e Silva. O marechal não teve dúvidas, demitiu Vinícius, acusando-o de ostentar um comportamento não condizente com a profissão diplomática. “Ponha esse vagabundo para trabalhar”, ordenou Costa e Silva. Na verdade, os militares que governavam o País estavam atrás de um pretexto para afastar Vinícius, naquela altura, nos anos 60, uma pedra no sapato da ditadura, com sua postura informal e sua atitude contestadora como poeta e letrista da música popular.

Além de genial, Vinícius foi também o mais apaixonado e inseguro dos poetas. Nos anos 50, quando namorou a escritora Hilda Hilst, na época com metade da idade de Vinícius, morria de dúvidas quanto ao fato de ser correspondido ou não, Certa vez, combinou com os amigos um tira-teima para comprovar se a amada lhe tinha o afeto desejado. Escondeu-se dentro de um guarda-roupa, no intuito de flagrar uma declaração de amor secreta, enquanto Hilda conversava com as pessoas num jantar. Assim que Hilda deixou escapar que sentia a falta dele, Vinícius saltou para fora do armário e gritou, contente: “Está vendo, você me ama, pela primeira vez ouvi você dizer que me ama!”

Mais conhecido em função das letras que compôs para canções de sucesso, especialmente na época da bossa nova (entre outras, Chega de saudade. Desafinado e Garota de Ipanema), Vinícius foi um poeta de lirismo arrebatado. Sabia manejar a métrica e a rima com rigor e sensibilidade. Diabético, sofreu uma isquemia, em 1979, na Itália. Foi obrigado a trocar o uísque pelo vinho, mas o estado de saúde complicou e, na madrugada de 9 de julho de 1980, ele morreu em sua casa, de edema pulmonar.

 

VOCÊ SABIA?

Casado com Lila Bosco, no início dos nos 50, Vinícius morava num minúsculo apartamento em Copacabana. Não tinha geladeira. Para aguentar o calor, chupava uma bala de hortelã e, em seguida, bebia um copo de água para ter a sensação refrescante na boca.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

MATÉRIA RELACIONADA AO LIVRO "CEM ANOS DE SOLIDÃO"

  Massacre das Bananeiras: conheça história real que inspirou “Cem Anos de Solidão ” O governo colombiano, para proteger uma empresa dos E...