Vinícius de Moraes
Em 1938, o governo britânico concedeu uma bolsa para
Vinícius de Moraes estudar Direito em Oxford. A concessão implicava em uma
série de regras muito rigorosas, como é do gosto dos ingleses, e uma delas era
só aceitar alunos solteiros. Apaixonado por Beatriz de Mello, a Tati, o poeta
estava decidido a casar-se com ela, mas não queria perder a bolsa. De fato,
uniu-se legalmente com Tati (seu único casamento no civil, embora tenha tido
nove companheiras), mas só depois de providenciar a matrícula em Oxford. Para
não levantar suspeitas, arranjou uma casa para Tati no bairro londrino Chelsea,
já que o poeta tinha a obrigação de morar nos alojamentos estudantis. A
distância não atrapalhou sua vida marital. Três vezes por semana, Vinícius
fugia do campus sem que os inspetores de alunos notassem. Corria para pegar o
trem que o levaria para Tati. Enfrentava duas horas de viagem e voltava para a
aula na manhã seguinte. O esforço compensou. Foi neste período que Vinícius
escreveu um dos mais importantes poemas de sua carreira, Os telhados de
Chelsea. Pouco dedicou-se ao Direito, porque foi em Oxford que Vinícius
mais estudou poesia, retornando ao Brasil em 1939, quando a Segunda Guerra
ameaçava eclodir.
Aprendiz convencido. Poeta,
compositor e diplomata, Vinícius de Moraes (nascido a 19 de outubro de 1913, no
Rio de Janeiro) iniciou sua carreira de escritor aos 20 anos, lançando O
caminho para a distância, livro que o pai o ajudara a publicar, pagando
todo o custo da impressão. Dois anos mais tarde, concorreu e ganhou o prêmio
Felipe de Oliveira, o mais importante na categoria com Forma e exegese, disputando
com Jorge Amado. Por essas e outras, nessa fase juvenil, passou a considerar-se
um poeta genial, até que críticos como Manuel Bandeira, seu grande amigo mais
tarde, e João Ribeiro o pusessem em seu devido lugar, como ele explicou mais
tarde. Aconselharam o “aprendiz” a trabalhar melhor os versos e garantiram ao
jovem poeta convencido que os sonetos estavam longe da condição ideal. Segundo
Vinícius, as críticas o ajudaram muito e o resultado foi sua consagração como
um dos poetas mais importantes do Brasil.
Quando exerceu a diplomacia no Itamaraty (de 1943 a 1969),
aproveitou para realizar dois de seus mais incontroláveis desejos, o de viajar
e fazer amigos. Diplomata em Los Angeles, entre 1946 e 1951, tornou-se íntimo
de várias personalidades do cinema, como Orson Welles, frequentando com ele os
estúdios de Hollywood, e Walt Disney.
Um poeta no armário. Circulando
entre os famosos, ganhou notoriedade na mídia internacional, tendo seu rosto
estampado em várias publicações, até que um dia um desses jornais parou na mesa
do presidente Costa e Silva. O marechal não teve dúvidas, demitiu Vinícius,
acusando-o de ostentar um comportamento não condizente com a profissão
diplomática. “Ponha esse vagabundo para trabalhar”, ordenou Costa e Silva. Na
verdade, os militares que governavam o País estavam atrás de um pretexto para
afastar Vinícius, naquela altura, nos anos 60, uma pedra no sapato da ditadura,
com sua postura informal e sua atitude contestadora como poeta e letrista da
música popular.
Além de genial, Vinícius foi também o mais apaixonado e
inseguro dos poetas. Nos anos 50, quando namorou a escritora Hilda Hilst, na
época com metade da idade de Vinícius, morria de dúvidas quanto ao fato de ser
correspondido ou não, Certa vez, combinou com os amigos um tira-teima para
comprovar se a amada lhe tinha o afeto desejado. Escondeu-se dentro de um
guarda-roupa, no intuito de flagrar uma declaração de amor secreta, enquanto
Hilda conversava com as pessoas num jantar. Assim que Hilda deixou escapar que
sentia a falta dele, Vinícius saltou para fora do armário e gritou, contente:
“Está vendo, você me ama, pela primeira vez ouvi você dizer que me ama!”
Mais conhecido em função das letras que compôs para canções
de sucesso, especialmente na época da bossa nova (entre outras, Chega de
saudade. Desafinado e Garota de Ipanema), Vinícius foi um poeta de
lirismo arrebatado. Sabia manejar a métrica e a rima com rigor e sensibilidade.
Diabético, sofreu uma isquemia, em 1979, na Itália. Foi obrigado a trocar o
uísque pelo vinho, mas o estado de saúde complicou e, na madrugada de 9 de
julho de 1980, ele morreu em sua casa, de edema pulmonar.
VOCÊ SABIA?
Casado
com Lila Bosco, no início dos nos 50, Vinícius morava num minúsculo apartamento
em Copacabana. Não tinha geladeira. Para aguentar o calor, chupava uma bala de
hortelã e, em seguida, bebia um copo de água para ter a sensação refrescante na
boca.
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