Um dia eu fui solteira. E, como toda boa
solteira, saía para me divertir. Frequentava barzinhos, festas com bebida,
sorrisos e risadas. Era bom e eu gostava. Até que um dia as coisas mudaram.
Virei uma solteira chata. Não gostava mais do som alto, de gente desconhecida
esbarrando em mim, de pessoas efusivas demais.
Um dia eu fui solteira. E, como toda boa
solteira, de vez em quando batia a vontade de ter alguém. Sabe como é, achava
legal ver casais no cinema. Ela com a cabeça encostada no ombro dele, um saco
de pipoca para dois, beijinhos e mãos dadas. Sentia vontade de ter aquilo na
minha vida. Sentia vontade de ter alguém para abraçar, dormir e acordar junto.
Sentia vontade de sair por aí meio sem rumo, de mãos dadas e coração grudado.
Um dia eu fui solteira. Me envolvi com todo
tipo de homem que você pode imaginar. E me dei conta de uma coisa: é a gente
que atrai os “caras errados”. Por medo, afinal de contas é bem mais fácil se
envolver com um loser. Se der
errado você vai pensar tudo bem, era um loser.
O medo coloca uma venda nos nossos olhos e nos impede de atrair os “caras
certos”. Quem são eles? Os não-perdedores. Os não-cafajestes. Os
não-comprometidos. Os não-problemáticos. Os que oferecem uma chance, ainda que
mínima, de fazer dar certo. Os que lá no fim a gente olha e diz: deu certo o
tempo que tinha que dar, ele era legal, mas não rolou. Porque quando o cara é
errado ao cubo no final a gente fala: puta que pariu, eu sabia que não ia dar
certo, lá no fundo eu sabia que ele era um cretino.
Um dia eu deixei de ser solteira. E foi a
melhor coisa que fiz na vida. E foi aí que conheci o homem que sempre quis.
Divertido, carinhoso, bonito, inteligente. E que me ouve. E que me entende. E
que aceita meus defeitos. E que me faz querer ser uma pessoa melhor. E que
cuida dos meus medos. E que me dá força para seguir em frente. E que não ri
quando choro. E que tem uma paciência absurda para lidar com minhas crises
existenciais. E que é cheiroso, gostoso e amoroso. E que me respeita. Não, ele
não é perfeito.
A gente tem a mania de achar que a vida de
fulaninha é mais interessante e agitada que a nossa. Não, não é. E o namorado
da fulaninha não é mais interessante que o seu. Ele não é nenhum ninja sexual.
Ele não é nenhum guru do amor. A vida da fulaninha tem altos e baixos, como a
sua. Ninguém vive uma vida de novela: se quebra e se quebra, finalmente
encontra um cara legal, luta pra ficar com ele e vive feliz pra sempre. Isso
não existe.
Quando eu era solteira achava que um dia ia
encontrar o tal cara certo. E que o cara certo ia me fazer feliz. E que a gente
ia viver feliz pra sempre. Uma vida Doriana. Com sorrisos, abraços, beijos,
viagens e sexo quente. Achava que bastava encontrar o homem dos meus sonhos que
tudo estaria resolvido em um passe de mágica. Me enganei.
Quando deixei de ser solteira percebi que me
transformei em alguém muito mais feliz. Mas continuo tendo crise existencial,
continuo com meus defeitos, continuo com minhas linhas tortas. É claro que
melhorei, mas não me curei dos meus males. Ter alguém não resolve tudo.
Encontrar o amor da vida não é garantia de ser 100% feliz. Existe o dia a dia,
existe a rotina, existe a pasta de dente na pia, existe o tênis no meio do
quarto, existe o seu jeito e o jeito dele. Não dá pra esquecer que você e ele
foram criados de maneira diferente e, por isso, têm valores, visões e
comportamentos diferentes. Não dá pra esquecer que, por mais que combinem e
formem um casal próspero e feliz, existem dias ruins, existe briga, batida de
porta, problemas, discussão. Cada um tem uma visão sobre a vida e o
relacionamento. Cada um tem um gênio.
As pessoas têm necessidades diferentes. E a
intimidade faz com que as coisas se tornem mais fáceis e mais difíceis. Por que
digo isso? No começo, tudo é sedução e encantamento. Você mastiga de boca
fechada, não senta de perna aberta, não arrota, não solta pum, está sempre
linda, cheirosa e gostosa. No começo, você acorda antes dele, vai correndo
escovar os dentes pra dar o beijo de bom dia. Depois que você casa, continua
linda, gostosa e cheirosa. Mas. Mas você e ele acordam com bafo matinal, se abraçam,
dão um selinho. Você fica mais à vontade e mais confortável em ser quem é, por
isso não quer morrer quando sem querer solta um pum. Antes, ficava vermelha e
queria morrer. Agora vocês dois dão uma risada. A intimidade pressupõe a falta
de nojo. Porque o outro é gente. E gente tem partes sujas. Imundas. Nojentas.
Amar é não ter nojo. É claro que existe o respeito. É claro que existe o bom
senso. Não dá pra exagerar. Mas também não dá pra exagerar no photoshop.
Ninguém é lindo e legal todo o tempo. Isso não existe. Aliás, existe: na
televisão, no cinema, no teatro. Mas acho que você, assim como eu, gosta de
relacionamentos reais. O meu relacionamento não é perfeito, nem tem fogos de
artifício a cada beijo. Mas ele é real e me faz bem. E é isso que vale, que
importa. É isso que eu sempre quis.
http://revistatpm.uol.com.br/blogs/confusoeseconfissoes/2011/11/09/ninguem-e-feliz-pra-sempre.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário