19 setembro 2021

APOSTO E VOCATIVO

 














As subversivas mensagens ocultas no clássico filme 'O Mágico de Oz'

Nicholas Barber

 

Em dezembro de 1937, a Walt Disney Productions lançou seu primeiro desenho animado, Branca de Neve e os Sete Anões, que se tornou o maior sucesso do cinema americano de 1938.

Isso não apenas levou a empresa a produzir outros desenhos baseados em contos de fadas nas décadas seguintes, como levou outro estúdio, o Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), a criar seu próprio longa musical sobre uma garota órfã e uma bruxa malvada: O Mágico de Oz.

Apesar das semelhanças com o filme da Disney, a produção da MGM é mais um anticonto de fadas do que um conto de fadas propriamente dito.

Basta olhar para o trio de desajustados que acompanha a heroína ao longo de sua viagem pela estrada de tijolos amarelos. Nenhum deles é o que você chamaria de um belo príncipe.

No entanto, Dorothy (Judy Garland) é tão boa de coração, as músicas são tão agradáveis e as aventuras em technicolor são tão empolgantes que fazem O Mágico de Oz até parecer um filme tradicional para a família.

                Mas, o longa lançado em agosto de 1939 subverte de tal maneira as convenções de uma narrativa do bem contra o mal que seria capaz de deixar Walt Disney furioso.

 

Um líder falsário


Nas cenas de abertura, somos avisados de que a magia que estamos prestes a testemunhar pode não ser exatamente mágica.

No início do filme, após fugir de sua casa no Kansas para impedir que seu cachorro de estimação fosse sacrificado, Dorothy conhece um vidente viajante, o professor Marvel (Frank Morgan). O personagem do filme não existe no livro original [...].

Por mais simpático que seja, o professor não passa de um enganador que finge ter dons psíquicos ao espiar uma foto que Dorothy está carregando. Ele é interpretado pelo mesmo ator que faz o Mágico de Oz, e acaba sendo o mesmo personagem: um showman de parque de diversões que se esconde atrás de uma cortina, mexe em alavancas e usa truques mecânicos para manter seus súditos leais e amedrontados[...].

É verdade que não podemos aceitar nada do que o "falsário" diz muito a sério, mas esses sentimentos são extremos demais para qualquer filme de Hollywood, ainda mais um filme para crianças.

 

Uma paródia do presente

O roteiro debocha da ideia de que poder e prosperidade vêm para aqueles que merecem, mesmo em relação à própria Dorothy.

Ela mata uma bruxa malvada ao cair em cima dela com sua casa, e outra (Margaret Hamilton) jogando água. Ambos os casos são acidentes, fruto de mero acaso e não da coragem ou do valor de Dorothy. [...]

Mas, nas duas ocasiões, Dorothy é instantaneamente aclamada como heroína, assim como o Mágico quando pousa em Oz. A mensagem é que as pessoas vão seguir qualquer figura de autoridade que cause impacto, por mais indigna que seja. É uma ideia subversiva em 2019, e foi ainda mais em 1939, quando ditadores fascistas estavam por toda a Europa.


O romance de Baum pode ter sido publicado na virada do século passado, mas o filme dirigido por Victor Fleming (juntamente com dois colegas, sem créditos) é um produto típico dos anos 1930. Foi lançado três anos depois de uma grande exposição do surrealismo no Museu de Arte Moderna de Nova York, e a maneira como o enredo se transforma em um sonho frenético com macacos voadores e guardas de rosto verde é surrealista. [...]

Também é significativo que a Cidade Esmeralda de Oz não seja um reino medieval como o de Branca de Neve, nem tenha uma paisagem de cúpulas e torres inspiradas em Istambul, como nas ilustrações do livro original.

Em vez disso, é uma cidade modernista de arranha-céus com listras neon – e, como quase tudo na terra de Oz, é escancaradamente artificial. O filme não leva o público além do arco-íris para um passado mítico, mas para uma paródia colorida de um presente barulhento e industrializado.

Se O Mágico de Oz tivesse surgido nas patrióticas décadas de 1940 ou 1950, seria difícil imaginar que esse clássico da contracultura tivesse escapado ileso. Mas Fleming e sua equipe criaram o mais poderoso dos filmes infantis: ele nos leva a um mundo de dificuldades e caos, de líderes inúteis e de seguidores crédulos e, depois, nos lembra que é esse mesmo mundo em que vivemos.

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