O rapé (do
francês râper, “raspar”) é o tabaco
(ou fumo).
O hábito de
consumir rapé era bastante difundido na Europa e no Continente Americano até ao
início do século XX. Era visto de maneiras contraditórias: às vezes como hábito
elegante, às vezes como vício. Há menções ao hábito em obras de Machado de
Assis em Bote de rapé, de Helena
Morley em Minha vida de menina e Eça
de Queirós em Os Maias.
Vendia-se em
caixinhas dos mais diversos materiais, nobres ou não, tais como prata, madeira,
papel machê [...]. Algumas eram verdadeiras joias, finamente decoradas. [...]
Podia-se
comprá-lo já ralado e pronto para consumo, ou ainda um pedaço de fumo inteiro.
Nesse caso, com um minúsculo ralador ralava-se o fumo na hora para se obter um
cheiro de qualidade superior, da mesma forma como, para se obter um bom café, o
grão é moído na hora. [...]
Em 1755,
fabricavam-se no nosso país três tipos de tabaco de pó (para cheirar) de
amostra, da cidade e simonte, mais caro do que o “tabaco de fumo”. A produção
do rapé, inicialmente pequena, conheceu grande incremento para – dado o enorme
consumo – evitar o seu contrabando da França, destinado sobretudo às classes
econômica e socialmente privilegiadas, que dele faziam “luxo, ostentação e
capricho” (J. Leite de Vasconcelos). Mas rapidamente o costume passou para todas
as pessoas (tanto da cidade como do campo). De tal modo que, até quase ao
último quarto de oitocentos, em Portugal “cheirava-se mais do que se fumava”.
Ruders diria que “o consumo indígena do rapé é muito considerável porque quase
todos os portugueses o cheiram”.
No burgo do
século XIX, a maioria dos portuenses – pelo menos da pequena burguesia para
cima – trazia no bolso a caixa do rapé. Para o sorver ou aspirar, muitos
usuários chegavam a ter uma covinha formada nas costas da mão, na base do polegar
alçado, e dizia que havia alguns tão viciados que até as narinas lhes ficavam
amarelas. E viciadas, pois muitas damas cheiravam-no furiosamente.
Era vendido
num pacotinho cor de chumbo, que trazia, em cima, uma espécie de selo da
Tabaqueira. Havia pessoas que tinham umas caixinhas bonitas, que traziam na
carteira. Nelas guardavam o pó. Não sei que prazer aquilo dava, mas era hábito
antigo e até um vício. Perdeu o uso e hoje ninguém se lembra do rapé, e por que
é que o usavam.
No início do
século XVI, a Casa de Contratação espanhola estabeleceu e manteve o monopólio
do comércio de tabaco nas primeiras indústrias de fabricação de rapé, na cidade
de Sevilha, que se tornaria a primeira produção e centro de desenvolvimento do
rapé, juntamente com o tabaco e seus derivados, na Europa.
Em 1561,
Jean Nicot, embaixador da França em Lisboa, que descreveu as propriedades
medicinais do tabaco como uma panaceia em seus escritos, é creditado por ter
introduzido o rapé na corte de Catarina de Médici para tratar suas fortes e
persistentes dores de cabeça.
Até o século
XVII alguns opositores proeminentes do rapé surgiriam. O Papa Urbano VIII
proibiu o uso do rapé em igrejas e ameaçou excomungar aqueles que o comprassem.
Na Rússia, em 1643, o czar Miguel, que proibiu a venda do tabaco, instituiu a
pena de remoção do nariz daqueles que usassem rapé, e de morte para os usuários
persistentes. Apesar disso, o uso persistiu em outro lugar; o rei Luís XIII da
França era um devoto do uso do rapé, enquanto que mais tarde, Luís XV da França
proibiu o uso de tabaco na Corte Real da França durante o seu reinado.
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