09 abril 2024

RAPÉ

 


O rapé (do francês râper, “raspar”) é o tabaco (ou fumo).

O hábito de consumir rapé era bastante difundido na Europa e no Continente Americano até ao início do século XX. Era visto de maneiras contraditórias: às vezes como hábito elegante, às vezes como vício. Há menções ao hábito em obras de Machado de Assis em Bote de rapé, de Helena Morley em Minha vida de menina e Eça de Queirós em Os Maias.

Vendia-se em caixinhas dos mais diversos materiais, nobres ou não, tais como prata, madeira, papel machê [...]. Algumas eram verdadeiras joias, finamente decoradas. [...]

Podia-se comprá-lo já ralado e pronto para consumo, ou ainda um pedaço de fumo inteiro. Nesse caso, com um minúsculo ralador ralava-se o fumo na hora para se obter um cheiro de qualidade superior, da mesma forma como, para se obter um bom café, o grão é moído na hora. [...]

Em 1755, fabricavam-se no nosso país três tipos de tabaco de pó (para cheirar) de amostra, da cidade e simonte, mais caro do que o “tabaco de fumo”. A produção do rapé, inicialmente pequena, conheceu grande incremento para – dado o enorme consumo – evitar o seu contrabando da França, destinado sobretudo às classes econômica e socialmente privilegiadas, que dele faziam “luxo, ostentação e capricho” (J. Leite de Vasconcelos). Mas rapidamente o costume passou para todas as pessoas (tanto da cidade como do campo). De tal modo que, até quase ao último quarto de oitocentos, em Portugal “cheirava-se mais do que se fumava”. Ruders diria que “o consumo indígena do rapé é muito considerável porque quase todos os portugueses o cheiram”.

No burgo do século XIX, a maioria dos portuenses – pelo menos da pequena burguesia para cima – trazia no bolso a caixa do rapé. Para o sorver ou aspirar, muitos usuários chegavam a ter uma covinha formada nas costas da mão, na base do polegar alçado, e dizia que havia alguns tão viciados que até as narinas lhes ficavam amarelas. E viciadas, pois muitas damas cheiravam-no furiosamente.

Era vendido num pacotinho cor de chumbo, que trazia, em cima, uma espécie de selo da Tabaqueira. Havia pessoas que tinham umas caixinhas bonitas, que traziam na carteira. Nelas guardavam o pó. Não sei que prazer aquilo dava, mas era hábito antigo e até um vício. Perdeu o uso e hoje ninguém se lembra do rapé, e por que é que o usavam.

No início do século XVI, a Casa de Contratação espanhola estabeleceu e manteve o monopólio do comércio de tabaco nas primeiras indústrias de fabricação de rapé, na cidade de Sevilha, que se tornaria a primeira produção e centro de desenvolvimento do rapé, juntamente com o tabaco e seus derivados, na Europa.

Em 1561, Jean Nicot, embaixador da França em Lisboa, que descreveu as propriedades medicinais do tabaco como uma panaceia em seus escritos, é creditado por ter introduzido o rapé na corte de Catarina de Médici para tratar suas fortes e persistentes dores de cabeça.

Até o século XVII alguns opositores proeminentes do rapé surgiriam. O Papa Urbano VIII proibiu o uso do rapé em igrejas e ameaçou excomungar aqueles que o comprassem. Na Rússia, em 1643, o czar Miguel, que proibiu a venda do tabaco, instituiu a pena de remoção do nariz daqueles que usassem rapé, e de morte para os usuários persistentes. Apesar disso, o uso persistiu em outro lugar; o rei Luís XIII da França era um devoto do uso do rapé, enquanto que mais tarde, Luís XV da França proibiu o uso de tabaco na Corte Real da França durante o seu reinado.

 

Adaptado de:

 


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