Cap 3 - Vozes da literatura indígena brasileira
EIXOS ESTRUTURANTES:
Investigação
científica
Mediação e
intervenção sociocultural
HABILIDADES
TRABALHADAS:
EMIFCG01 • EMIFLGG01
• EMIFLGG02 • EMIFLGG08
>>
Por trás do texto
Este
capítulo é dedicado à produção cultural indígena. Para pensarmos sobre essa
temática, é importante situá-la
no tempo, retomando o passado para entender o presente (e, até mesmo, projetar o
futuro).
Estima-se
que, antes da chegada dos portugueses, havia mais de 5 milhões de indígenas no
território que hoje compõe o Brasil. Porém, resultados do último censo
demográfico, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), indicam que a população indígena, em 2010, não passava de 896 917 pessoas.
Visando começar a reflexão sobre a cultura e os valores indígenas, leia os
textos a seguir. O primeiro constitui um relato escrito pelo missionário
protestante francês Jean de Léry, quando esteve em contato com os povos
Tupinambá no século XVI, e o segundo dá voz a uma liderança indígena Krenak da
contemporaneidade.
Mais de 500 anos separam os relatos que você acabou de ler. Comparando as informações contidas nos dois textos, reflita sobre as seguintes questões:
-
Ambos os textos revelam o que sobre as disparidades existentes entre as
culturas indígena e europeia?
-
Pensando na convivência entre brasileiros e povos originários e levando em
consideração o que conhece do passado histórico e do presente, como você
imagina o futuro?
Neste
módulo, você poderá ler e aprofundar seus conhecimentos sobre as vozes
literárias que representam os povos indígenas.
A
literatura dos povos nativos: uma visita pela História
A
história sociocultural brasileira sujeitou escritores indígenas a uma política
de apagamento cultural. Contudo, o que se vê hoje é o esforço de lideranças e
artistas indígenas para recuperarem a história de seus povos, ignorada pelo
discurso hegemônico que dominou os relatos e os documentos oficiais.
Assim,
para entendermos o presente, voltemos um pouco ao passado, ou seja, à
colonização do Brasil por Portugal. Escrita em Porto Seguro, entre 26 de abril
e 2 de maio de 1500, a Carta de Pero Vaz de Caminha representa um importante
documento histórico no que se refere à imagem do indígena que se construiu no
primeiro momento da história do país. No trecho a seguir, observe o olhar
eurocêntrico de Caminha diante de aspectos do modo de vida dos nativos.
Muitos
deles ou quase a maior parte dos que andavam ali traziam aqueles bicos de osso
nos beiços. E alguns, que andavam sem eles, tinham os beiços furados e nos
buracos uns espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha; outros traziam
três daqueles bicos, a saber, um no meio e os dois nos cabos. [...].
Ali
por então não houve mais fala ou entendimento com eles, por a barbaria deles
ser tamanha, que se não entendia nem ouvia ninguém.
BRASIL.
Ministério da Cultura. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Brasília, DF:
MEC, [s.d.]. Disponível em: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf.
A
Carta de Caminha, ao informar a Coroa portuguesa das novas terras encontradas,
enfatiza os primeiros contatos entre as culturas indígena e europeia. Apesar do
caráter formal esperado em um documento oficial, é notável no documento que
Caminha nem sempre é técnico em seu texto; pelo contrário, o autor manifesta
subjetividade e parcialidade. Na Carta, percebe-se, acima de tudo, a voz do
colonizador, disposto a subjugar os nativos de acordo com seus interesses.
Como
documento histórico, a Carta de Caminha tornou-se referência para compreender
as origens do país. A imagem dos povos nativos como seres selvagens, marcados
pela ausência de uma força cultural única, cristaliza-se ao longo do processo
colonizatório. Assim, no decorrer de mais de três séculos, a formação social
brasileira historicamente relega esses povos à marginalidade, tornando as
distâncias sociais tão agudas quanto as diferenças culturais.
Chegamos,
assim, ao século XXI, em que emergem as “contra-memórias”, ou seja, a
literatura de grupos sociais silenciados pela ordem hegemônica e a expressão
artística que expõe novas vozes sociais e outras versões de sua própria
história. Por meio delas, os escritores indígenas militam pelo reconhecimento
de sua importância social e cultural.
Para
ampliar suas reflexões sobre essas contra-narrativas, leia o texto a seguir,
escrito por Daniel Munduruku como apresentação do livro O Karaíba: uma
história do pré-Brasil. Em seguida, responda às questões sobre ele.
Analisando o texto
1. Explique a crítica que a narrativa escrita
por Daniel Munduruku faz ao modo como os indígenas são representados nos
registros escritos pelos colonizadores portugueses. Justifique sua resposta com
exemplos do trecho estudado da Carta de Pero Vaz de Caminha. Se achar
necessário, pesquise a Carta na internet e a leia na íntegra.
2. O
que se pode inferir sobre a conclusão do texto, em que Daniel Munduruku afirma
que a narrativa “não está completa”, cabendo “ao leitor e à leitora completarem
essa história”?
A
representação indígena na literatura brasileira
As
viagens marítimas empreendidas ao longo do século XVI e os relatos derivados
delas tornaram os povos ameríndios foco de uma grande curiosidade para as
populações europeias. Desse contato com um mundo desconhecido até então,
criou-se, no imaginário dos europeus, a imagem de uma natureza fértil e
exuberante e de nativos integrados à natureza, mas selvagens, sem qualquer
contato com o que se poderia considerar um marco civilizatório.
Assim,
a junção entre realidade e idealização torna-se o elemento definidor do modo
como os europeus, e mesmo os miscigenados nascidos em terras brasileiras,
passam a reconhecer os povos indígenas. No Brasil do século XIX, o nacionalismo
emergente do contexto da Proclamação da Independência (1822) é incorporado à
arte romântica e constrói o mito do indígena como “bom selvagem”:
[...]
Descritos
como nobres guerreiros na infância da humanidade, o indianismo gira em torno da
narrativa do nascimento do Brasil a partir do contato do nobre indígena com os
colonizadores portugueses. Com algumas variações, o índio é alçado à categoria
de herói da nação e para isso é idealizado segundo as narrativas históricas que
os tomam como povos honrados e virtuosos. A originalidade do discurso indianista está em incorporar a morte e a
eliminação das populações indígenas como sacrifício desses povos para a
construção da futura nação. Assim, justificava-se a colonização e estabeleciam
o país como uma nação original e miscigenada, diferente justamente por ser
capaz de unir a natureza e a civilização como manda o corolário do romantismo
derivado das posições de Rousseau.
[...]
COSTA,
Pedro Gabriel Amaral. O mito do bom selvagem como elemento da identidade
nacional brasileira. Paralaxe, v. 6, n. 1, 2019. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/index.php/paralaxe/article/view/46604/30961.
Essa
idealização romântica, que associa os indígenas à identidade nacional e os
coloca em posição de servidão ou os integra ao projeto colonizador, está
presente em narrativas como O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara
(1874), romances históricos de José de Alencar (1829-1877). Em Iracema (anagrama
de América), por exemplo, a indígena da nação Tabajara abandona seu povo por
amor ao português Martim (batizado Coatiabo pelos Potiguara) e morre ao dar à
luz um filho desse relacionamento, Moacir, “filho do sofrimento”, representante
simbólico da origem da nação brasileira.
No
início do século XX, ao propor um diálogo entre o passado e o presente, a
tradição e a modernidade, o movimento modernista elabora uma nova visão do
indígena e de sua contribuição para a formação social brasileira. Dessa forma,
configura-se como um movimento defensor de um nacionalismo crítico na expressão
artística.
Um
importante exemplo desse discurso é Macunaíma: o herói sem nenhum caráter
(1928), de Mário de Andrade (1893-1945). No livro, o protagonista é um nativo
do mato-virgem alçado a herói brasileiro de modo carnavalizado, ou seja, um
anti-herói, cuja trajetória serve de mote para o leitor entrar em contato com a
cultura popular nacional, com seus ditados populares, suas lendas e seus mitos.
Macunaíma
é “o herói de nossa gente”: por meio dos traços múltiplos e contrastantes que o
caracterizam, representa a coletividade brasileira, formada pela miscigenação
racial e cultural. Por exemplo, a cena do banho do herói e de seus dois irmãos
na cova encantada, narrada no capítulo V, é uma clara alusão à formação étnica
miscigenada do brasileiro. Leia a seguir um trecho dele.
O nacionalismo crítico preconizado pelos modernistas da Semana de Arte Moderna de 1922 representa uma volta às nossas origens, aos registros da chegada dos portugueses e à valorização de uma língua nativa. No entanto, empreende ao mesmo tempo uma busca pelo moderno, pelo original e pelo polêmico.
O
Manifesto Antropófago, escrito por Oswald de Andrade (1890-1954) em 1928,
também reflete esse ideário modernista de invenção de uma brasilidade original.
Nele, é colocado em relevo o processo de formação da sociedade nacional (“Ser
ou não ser tupi, essa é a questão”) e a importância de se defender a ruptura
com o passado para dar espaço a uma nova bandeira ideológica.
O
discurso modernista foi, sem dúvida, um importante passo para desfazer a visão
do indígena como símbolo de selvageria que emergia dos documentos do Brasil
colonial, assim como rompia com o olhar idealizado romântico, formas de
representação dos indígenas que produziam sua exclusão sociocultural e reproduziram
estereótipos. Ao apontar para a necessidade de analisar criticamente a formação
social brasileira, a arte do século XX introduz outras versões da história
brasileira, o que favorece a transformação social.
A
literatura indígena brasileira, entretanto, ganha visibilidade
político-cultural somente a partir da década de 1990, inserida na militância e
no engajamento de lideranças e artistas que buscaram sua reafirmação como
comunidade e o enfrentamento da invisibilidade social.
Literatura indígena: da oralidade à escrita
A
militância indígena das últimas décadas iniciou a publicação das histórias
desses povos que foram transmitidas, ao longo dos tempos, pela tradição oral.
Desse modo, mitos e lendas passaram a ganhar uma nova forma de registro: os livros.
A
tradição oral é marca essencial das culturas nativas, mas foi historicamente
desprezada. Com a intensificação das publicações de narrativas indígenas nas
últimas décadas, a valorização da oralidade, dentre outras estratégias de
difusão cultural, torna-se também instrumento de afirmação de um universo cultural
rico de histórias mágicas e crenças, por meio das quais os indígenas organizam
sua dinâmica social e seu estar no mundo.
Em “Escrita indígena: registro,
oralidade e literatura – o reencontro da memória”, o escritor indígena Daniel
Munduruku chama a atenção para o apagamento cultural, que comprometeu a
preservação da memória e da ancestralidade indígena. Esse fator também
favoreceu a marginalização social dos povos indígenas.
O
escritor indígena Tiago Hakiy, em “Literatura indígena: a voz da
ancestralidade”, também ressalta a importância da oralidade para a preservação
da memória de seu próprio povo e para o reconhecimento dessa cultura pelos não
indígenas.
A tradição oral exerce um papel essencial na cultura indígena: é um meio de transmissão de saberes e tem caráter didático. Nessa cultura, mitos e lendas são encarados como histórias verdadeiras, e não fictícias, sendo um meio de interlocução com o sagrado e os ancestrais. Além disso, as narrativas têm caráter exemplar, educativo.
Analisando
o texto
1. Segundo o escritor Tiago Hakiy, por que o
contador de histórias tem um papel fundamental para seu povo?
2. O relato de Tiago Hakiy relaciona tradição
oral ao uso de novas tecnologias. Explique o ponto de vista do escritor.
3. Leia novamente:
“Aí
está o papel da literatura indígena, produzida por escritores indígenas, que
nasceram dentro da tradição oral, que podem não viver mais em aldeias, mas que
carregam em seu cerne criador um vasto sentido de pertencimento.”
Pelo
contexto, o que se pode inferir sobre o significado da expressão “sentido de
pertencimento”?
>>Para contextualizar
Literatura
indígena contemporânea
Inicialmente
direcionadas ao ensino dos próprios indígenas na aldeia, as obras de escritores
de diferentes etnias têm seu espaço de publicação e divulgação ampliado a
partir de 1988 com a Constituição brasileira, que garante acesso à
alfabetização e a uma educação diferenciada para esses povos. Esse movimento é
fortalecido ainda mais com a Lei nº 11 645/2008, que estabelece a
obrigatoriedade de estudos da história e da cultura indígena e africana nas
escolas.
Nesse
contexto, novas vozes literárias surgem como instrumento político, fonte de
resistência e engajamento dos povos indígenas. Todas as vezes que dissemos
adeus, de Kaká Werá Jecupé (1994), e Histórias de índio, de Daniel
Munduruku (1996) são obras consideradas pioneiras no contexto de busca de um
projeto literário que promova o conhecimento (e o reconhecimento) da cultura
dos povos originários.
O
filósofo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009) afirma que só se conhece a
própria cultura pelo contato com outra. O escritor desenvolve o conceito de
etnocentrismo (“etno”, de etnia, e “centrismo”, de centro): as pessoas tendem a
colocar a própria cultura como centro, como referência, criando o hábito de
julgar inferior uma cultura diferente da sua. Isso gera atitudes
preconceituosas, pois os etnocentristas percebem o diferente como menor (ou
pior).
Assim,
para os escritores indígenas, a literatura é um ato político, é um meio de
difundir sua cultura e despertar para a importância de percebê-la como parte de
um contexto maior de diversidade. A literatura dos povos originários, portanto,
promove a valorização da diversidade de conhecimentos, uma construção
importante para indígenas e não indígenas.
Esse
discurso encontra eco, por exemplo, no relato do escritor indígena Cristino
Wapichana:
Algumas intenções do discurso que emerge da literatura indígena contemporânea são: usar a própria voz para (re)contar a história do país desde o processo colonizatório, iniciado no século XVI; criar uma nova memória coletiva sobre a importância dos povos indígenas na construção do Brasil como nação; relatar as histórias originais de seus povos, transmitidas de geração em geração, para desenvolver nos mais jovens o sentimento de pertencimento à sua comunidade e o entendimento do valor da ancestralidade.
O sentimento de pertencimento está relacionado à necessidade de participar de alguma forma da vida em sociedade, reconhecendo-se como parte de determinada comunidade. Estudos da área da psicologia apontam como condição básica de todos os sujeitos sua inclusão em um grupo, que é tão essencial para a vida dos indivíduos quanto as necessidades mais elementares e universais, como o alimento e o abrigo.
Nas
literaturas indígenas contemporâneas, então, multiplicam-se os registros de
origem dos vários povos. Cada nação com sua história original, com seus mitos e
suas tradições, mas guardando em comum a identificação e a integração com a
natureza. Para conhecer uma delas, leia o relato a seguir, de Márcia Wayna
Kambeba.
Analisando
o texto
1. Com
base no relato de Márcia Wayna Kambeba, analise o valor da transmissão oral de conhecimentos
e histórias para os povos indígenas. Indique trechos do relato, para comprovar
sua resposta.
2. No
quarto parágrafo, apresenta-se outra voz narrativa. Explique.
3. De
que modo o relato de Márcia Wayna Kambeba corrobora o discurso de pertencimento
que marca as produções literárias indígenas contemporâneas?
Curadoria
de pesquisa
Neste
capítulo, ao estudar autores e obras representativos da produção cultural
indígena, observamos que se trata de uma manifestação historicamente
marginalizada. Contudo, nas últimas décadas, a expressão literária passou a ser
usada como instrumento de resistência e luta contra o apagamento cultural de
que a cultura indígena foi vítima.
Assim,
convidamos você a colaborar com a transformação dessa realidade, promovendo a
divulgação da obra de artistas indígenas e, consequentemente, contribuindo para
reverter o quadro de apagamento cultural. Para isso, você fará com a turma a
curadoria de informações e textos literários.
O
que é fazer curadoria? O conceito de curadoria – até pouco tempo muito comum
apenas na área artística, como em museus e galerias de arte – hoje é
frequentemente associado às práticas digitais e significa selecionar e
organizar informações. O curador é a pessoa responsável por esse processo;
neste caso, será papel seu e de sua turma.
No
contexto da cibercultura, a conexão em rede facilita o trabalho do curador,
pois existem diversos ambientes on-line que permitem o compartilhamento de informações.
Então, mãos à massa!
Etapa 1
Inicialmente,
para entender melhor a ideia do trabalho, assista ao vídeo A era da
curadoria: o que importa é saber o que importa, com Mario Sergio Cortella,
em que é analisado o impacto da intensa circulação de informação decorrente do
desenvolvimento de tecnologias digitais.
Em
grupos, discutam o vídeo, refletindo sobre como classificar as informações que
recebemos cotidianamente entre relevantes e de credibilidade e aquelas que não
merecem nossa atenção.
Etapa 2
Agora
é o momento de vocês se organizarem em grupos e se lançarem à pesquisa.
Como
o objetivo é ampliar os conhecimentos da comunidade escolar sobre a produção
cultural indígena, é importante os grupos apresentarem informações variadas.
Para isso, é possível fazer, individualmente, um levantamento de obras e
estudos mais recentes sobre o tema.
Além
de sites destinados a publicações acadêmicas, você encontrará muito material em
revistas literárias, museus e páginas de autores indígenas, entre outros. Veja
algumas sugestões:
· Daniel Munduruku
(http://danielmunduruku.blogspot.com)
· Fundação Nacional dos Povos Indígenas
(Funai) (https://www.gov.br/funai)
· Instituto de Pesquisa e Formação Indígena
(https://institutoiepe.org.br)
· Instituto Socioambiental (https://www.socioambiental.org)
· Rascunho – O jornal de literatura do Brasil
(https://rascunho.com.br)
· Museu da Pessoa (https://museudapessoa.org)
· Museu do Índio
(https://www.gov.br/museudoindio)
· Museu das Culturas Indígenas
(https://museudasculturasindigenas.org.br/)
· Povos Indígenas no Brasil
(https://pib.socioambiental.org)
Finalizado
esse primeiro momento da curadoria, reúnam os grupos e proponham uma
delimitação temática ao professor.
Etapa 3
Para
iniciar o segundo momento da curadoria, distribuam as tarefas entre os grupos. Usando
o celular ou computadores, pesquisem com mais profundidade sobre a temática que
ficou sob a responsabilidade de vocês. Selecionem e registrem, durante a
leitura, as informações mais relevantes, não se esquecendo de anotar de onde
elas foram retiradas.
Como
a finalidade é divulgar artistas indígenas, pesquisem tanto autores e obras que
já tenham projeção nacional como autores e obras locais.
Lembrem-se
de que sites e portais institucionais, como os de universidades públicas e
organizações governamentais, são mais confiáveis.
Etapa 4
Organizem
as informações para compartilhá-las oralmente com os colegas em uma roda de
conversa. Escrevam uma síntese do que foi discutido e elejam um representante
do grupo para expor o tema pesquisado. Cada equipe vai ter de 15 a 20 minutos
para realizar a exposição.
Etapa 5
Para
que os resultados da pesquisa sejam divulgados para a comunidade escolar,
escolham um meio de compartilhamento das informações. Isso pode ser feito na
página da internet da escola ou em um blog da turma. Para ampliar ainda
mais a difusão da pesquisa, divulguem o link dela em redes sociais.
Etapa 6
Após a
realização do trabalho, avaliem o processo de curadoria realizado. Em uma roda
de conversa na sala de aula, discutam o processo de pesquisa:
· No geral, ele foi bem-sucedido ou alguma
coisa prejudicou o bom andamento da atividade?
· Quais procedimentos devem ser adotados para
que os problemas levantados não ocorram mais?
· Todos os membros das equipes contribuíram
para o trabalho?
· Quais foram os pontos fortes e os pontos
fracos da apresentação realizada pelos grupos?
· Quais foram os aspectos relevantes do
trabalho para você?
>> Para aprofundar o conhecimento
1. (ENEM)
Distantes
uma da outra quase 100 anos, as duas telas seguintes, que integram o patrimônio
cultural brasileiro, valorizam a cena da primeira missa no Brasil, relatada na carta
de Pero Vaz de Caminha. Enquanto a primeira retrata fielmente a carta, a
segunda — ao excluir a natureza e os
índios
— critica a narrativa do escrivão da frota de Cabral. Além disso, na segunda,
não se vê a cruz fincada no altar.
Ao
comparar os quadros e levando-se em consideração a explicação dada, observa-se
que
a) a
influência da religião católica na catequização do povo nativo é objeto das
duas telas.
b) a
ausência dos índios na segunda tela significa que Portinari quis enaltecer o
feito dos portugueses.
c) ambas,
apesar de diferentes, retratam o mesmo momento e apresentam uma mesma visão do
fato histórico.
d) a
segunda tela ao diminuir o destaque da Cruz, nega a importância da religião no
processo dos descobrimentos.
e) a
tela de Victor Meirelles contribuiu para uma visão romantizada dos primeiros dias
dos portugueses no Brasil.
2. (ENEM)
A
feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons
narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma
cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência
como têm em mostrar o rosto.
CAMINHA,
P. V. A carta. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br.
Ao se
estabelecer uma relação entre a obra de Eckhout e o trecho do texto de Caminha,
conclui-se que
a) ambos
se identificam pelas características estéticas marcantes, como tristeza e
melancolia, do movimento romântico das artes plásticas.
b) o
artista, na pintura, foi fiel ao seu objeto, representando-o de maneira
realista, ao passo que o texto é apenas fantasioso.
c) a
pintura e o texto têm uma característica em comum, que é representar o
habitante das terras que sofreriam processo colonizador.
d) o
texto e a pintura são baseados no contraste entre a cultura europeia e a
cultura indígena.
e) há
forte direcionamento religioso no texto e na pintura, uma vez que o índio
representado é objeto da catequização jesuítica.
Texto
para as questões 3 e 4.
Quando
eu falo com vocês, procuro usar o código de vocês. A figura do índio no Brasil
de hoje não pode ser aquela de 500 anos atrás, do passado, que representa
aquele primeiro contato. Da mesma forma que o Brasil de hoje não é o Brasil de ontem,
tem 160 milhões de pessoas com diferentes sobrenomes. Vieram para cá asiáticos,
europeus, africanos, e todo mundo quer ser brasileiro. A importante pergunta
que nós fazemos é: qual é o pedaço de índio que vocês têm? O seu cabelo? São
seus olhos? Ou é o nome da sua rua? O nome da sua praça? Enfim, vocês devem ter
um pedaço de índio dentro de vocês. Para nós, o importante é que vocês olhem
para a gente como seres humanos, como pessoas que nem precisam de
paternalismos, nem precisam ser tratadas com privilégios. Nós não queremos tomar
o Brasil de vocês, nós queremos compartilhar esse Brasil com vocês.
TERENA, M. Debate. MORIN, E. Saberes globais e saberes
locais. Rio de Janeiro: Garamond, 2000 (adaptado).
3. (ENEM)
Os
procedimentos argumentativos utilizados no texto permitem inferir que o
ouvinte/leitor, no qual o emissor foca o seu discurso, pertence
a) ao
mesmo grupo social do falante/autor.
b) a um
grupo de brasileiros considerados como não índios.
c) a um
grupo étnico que representa a maioria europeia que vive no país.
d) a um
grupo formado por estrangeiros que falam português.
e) a um
grupo sociocultural formado por brasileiros naturalizados e imigrantes.
4. (ENEM)
Na
situação de comunicação da qual o texto foi retirado, a norma padrão da língua
portuguesa é empregada com a finalidade de
a) demonstrar
a clareza e a complexidade da nossa língua materna.
b) situar
os dois lados da interlocução em posições simétricas.
c) comprovar
a importância da correção gramatical nos diálogos cotidianos.
d) mostrar
como as línguas indígenas foram incorporadas à língua portuguesa.
e) ressaltar
a importância do código linguístico que adotamos como língua nacional.
5.
As
narrativas indígenas se sustentam e se perpetuam por uma tradição de
transmissão oral (sejam as histórias verdadeiras dos seus antepassados, dos
fatos e guerras recentes ou antigos; sejam as histórias de ficção, como aquelas
da onça e do macaco). De fato, as comunidades indígenas nas chamadas “terras
baixas da América do Sul” (o que exclui as montanhas dos Andes, por exemplo)
não desenvolveram sistemas de escrita como os que conhecemos, sejam alfabéticos
(como a escrita do português), sejam ideogramáticos (como a escrita dos
chineses) ou outros. Somente nas sociedades indígenas com estratificação social
(ou seja, já divididas em classes), como foram os astecas e os maias, é que
surgiu algum tipo de escrita. A história da escrita parece mesmo mostrar
claramente isso: que ela surge e se desenvolve – em qualquer das formas – apenas
em sociedades estratificadas (sumérios, egípcios, chineses, gregos etc.). O
fato é que os povos indígenas no Brasil, por exemplo, não empregavam um sistema
de escrita, mas garantiram a conservação e continuidade dos conhecimentos acumulados,
das histórias passadas e, também, das narrativas que sua tradição criou,
através da transmissão oral. Todas as tecnologias indígenas se transmitiram e
se desenvolveram assim. E não foram poucas: por exemplo, foram os índios que domesticaram
plantas silvestres e, muitas vezes, venenosas, criando o milho, a mandioca (ou
macaxeira), o amendoim, as morangas e muitas outras mais (e também as
desenvolveram muito; por exemplo, somente do milho criaram cerca de 250 variedades
diferentes em toda a América).
D’ANGELIS,
W. R. Histórias dos índios lá em casa: narrativas indígenas e tradição
oral popular no Brasil. Disponível em: www.portalkaingang.org.
A
escrita e a oralidade, nas diversas culturas, cumprem diferentes objetivos. O
fragmento aponta que, nas sociedades indígenas brasileiras, a oralidade
possibilitou
a) a
conservação e a valorização dos grupos detentores de certos saberes.
b) a
preservação e a transmissão dos saberes e da memória cultural dos povos.
c) a
manutenção e a reprodução dos modelos estratificados de organização social.
d) a
restrição e a limitação do conhecimento acumulado a determinadas comunidades.
e) o reconhecimento
e a legitimação da importância da fala como meio de comunicação.
Analisando
o texto - Daniel
1.
Na Carta de Pero Vaz de Caminha, tanto as
descrições físicas dos indígenas, que enfatizam a surpresa dos navegadores com
os corpos pintados e nus, quanto os comentários do escrivão sobre a selvageria
dos nativos confirmam as declarações feitas por Daniel Munduruku. A visão
eurocêntrica é marcada pela ideia de que os nativos das terras brasileiras
constituíam um povo desorganizado e selvagem, portanto, fácil de ser dominado
pelo colonizador português. Na Carta, essa visão está, por exemplo, no trecho:
“Ali por então não houve mais fala ou entendimento com eles, por a barbaria
deles ser tamanha, que se não entendia nem ouvia ninguém”.
2.
Pode-se inferir que o escritor acredita que os
leitores da obra, ao terem contato com uma versão diferente da história das comunidades
indígenas nativas, podem se conscientizar da importância de ajudar a construir
um futuro melhor e mais justo para a sociedade contemporânea.
Analisando o texto - Thiago
1. Porque ele detém o conhecimento e é o responsável pela
transmissão de saberes. Além disso, é por meio da contação de histórias que o
povo tem contato com a cultura ancestral, o que representa um elo fundamental
com a própria identidade.
2. Segundo o autor, em sua cultura, a tradição oral é um meio de
transmissão de saberes e de perpetuação da cultura indígena. Assim, o uso de
novas tecnologias é visto por ele como positivo, pois é também um mecanismo de
difusão da cultura indígena.
3. Pelo contexto, o que se pode inferir sobre o significado da
expressão “sentido de pertencimento”?
Na fala do escritor, o sentido de pertencimento representa a
relação que os indígenas têm com sua cultura, mesmo vivendo fora das aldeias.
Analisando o texto - Márcia
1. Segundo a autora, na cultura de seu povo, é habitual as
pessoas se sentarem próximas a um ancião para escutar “narrativas de vida” e os
“encantados” (mitos). Essas histórias fortalecem a espiritualidade e a
ancestralidade: “Como seres vivos somos mortais, mas nossa conexão é com o
mundo ancestral”. Assim, esses momentos (chamados de aulas pela autora) têm
finalidade educativa (ajudam a “compreender os saberes, entender o tempo e o
espaço, fortalecer as relações, estreitar os laços é fundamental na resistência
das nações”) e promovem a compreensão da interculturalidade, o que é essencial
para que os mais jovens aprendam a valorizar suas origens e a conviver
harmonicamente com hábitos culturais diferentes.
2. No parágrafo, misturam-se a voz do primeiro narrador, a própria
autora do relato, com a de um ancião de sua aldeia, por meio do qual ela teria
escutado a história da origem dos Kambeba.
3. A escritora enfatiza a importância de educar os mais jovens
de modo a fortalecer a cultura Kambeba, criando “resistência identitária”. Assim,
o sentimento de pertencimento é visto como capaz de fazer com que as raízes
culturais de seu povo sejam preservadas.
>> Para aprofundar o conhecimento
1. e
2. d
3. b
4. e
5. b
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