10 junho 2023

VOZES DA LITERATURA III

Cap 3 - Vozes da literatura indígena brasileira

 

EIXOS ESTRUTURANTES:

Investigação científica

Mediação e intervenção sociocultural

 

HABILIDADES TRABALHADAS:

EMIFCG01 • EMIFLGG01 • EMIFLGG02 • EMIFLGG08

 

 

>> Por trás do texto

Este capítulo é dedicado à produção cultural indígena. Para pensarmos sobre essa temática, é importante situá-la no tempo, retomando o passado para entender o presente (e, até mesmo, projetar o futuro).

Estima-se que, antes da chegada dos portugueses, havia mais de 5 milhões de indígenas no território que hoje compõe o Brasil. Porém, resultados do último censo demográfico, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que a população indígena, em 2010, não passava de 896 917 pessoas. Visando começar a reflexão sobre a cultura e os valores indígenas, leia os textos a seguir. O primeiro constitui um relato escrito pelo missionário protestante francês Jean de Léry, quando esteve em contato com os povos Tupinambá no século XVI, e o segundo dá voz a uma liderança indígena Krenak da contemporaneidade.

 


Mais de 500 anos separam os relatos que você acabou de ler. Comparando as informações contidas nos dois textos, reflita sobre as seguintes questões:

- Ambos os textos revelam o que sobre as disparidades existentes entre as culturas indígena e europeia?

- Pensando na convivência entre brasileiros e povos originários e levando em consideração o que conhece do passado histórico e do presente, como você imagina o futuro?

Neste módulo, você poderá ler e aprofundar seus conhecimentos sobre as vozes literárias que representam os povos indígenas.

 

 >> Para contextualizar

A literatura dos povos nativos: uma visita pela História

A história sociocultural brasileira sujeitou escritores indígenas a uma política de apagamento cultural. Contudo, o que se vê hoje é o esforço de lideranças e artistas indígenas para recuperarem a história de seus povos, ignorada pelo discurso hegemônico que dominou os relatos e os documentos oficiais.

Assim, para entendermos o presente, voltemos um pouco ao passado, ou seja, à colonização do Brasil por Portugal. Escrita em Porto Seguro, entre 26 de abril e 2 de maio de 1500, a Carta de Pero Vaz de Caminha representa um importante documento histórico no que se refere à imagem do indígena que se construiu no primeiro momento da história do país. No trecho a seguir, observe o olhar eurocêntrico de Caminha diante de aspectos do modo de vida dos nativos.

Muitos deles ou quase a maior parte dos que andavam ali traziam aqueles bicos de osso nos beiços. E alguns, que andavam sem eles, tinham os beiços furados e nos buracos uns espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha; outros traziam três daqueles bicos, a saber, um no meio e os dois nos cabos. [...].

Ali por então não houve mais fala ou entendimento com eles, por a barbaria deles ser tamanha, que se não entendia nem ouvia ninguém.

BRASIL. Ministério da Cultura. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Brasília, DF: MEC, [s.d.]. Disponível em: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf.

  

A Carta de Caminha, ao informar a Coroa portuguesa das novas terras encontradas, enfatiza os primeiros contatos entre as culturas indígena e europeia. Apesar do caráter formal esperado em um documento oficial, é notável no documento que Caminha nem sempre é técnico em seu texto; pelo contrário, o autor manifesta subjetividade e parcialidade. Na Carta, percebe-se, acima de tudo, a voz do colonizador, disposto a subjugar os nativos de acordo com seus interesses.

Como documento histórico, a Carta de Caminha tornou-se referência para compreender as origens do país. A imagem dos povos nativos como seres selvagens, marcados pela ausência de uma força cultural única, cristaliza-se ao longo do processo colonizatório. Assim, no decorrer de mais de três séculos, a formação social brasileira historicamente relega esses povos à marginalidade, tornando as distâncias sociais tão agudas quanto as diferenças culturais.

  


Chegamos, assim, ao século XXI, em que emergem as “contra-memórias”, ou seja, a literatura de grupos sociais silenciados pela ordem hegemônica e a expressão artística que expõe novas vozes sociais e outras versões de sua própria história. Por meio delas, os escritores indígenas militam pelo reconhecimento de sua importância social e cultural.

Para ampliar suas reflexões sobre essas contra-narrativas, leia o texto a seguir, escrito por Daniel Munduruku como apresentação do livro O Karaíba: uma história do pré-Brasil. Em seguida, responda às questões sobre ele.

 


Analisando o texto

1.   Explique a crítica que a narrativa escrita por Daniel Munduruku faz ao modo como os indígenas são representados nos registros escritos pelos colonizadores portugueses. Justifique sua resposta com exemplos do trecho estudado da Carta de Pero Vaz de Caminha. Se achar necessário, pesquise a Carta na internet e a leia na íntegra.

2. O que se pode inferir sobre a conclusão do texto, em que Daniel Munduruku afirma que a narrativa “não está completa”, cabendo “ao leitor e à leitora completarem essa história”?

 


 >> Para contextualizar

A representação indígena na literatura brasileira

As viagens marítimas empreendidas ao longo do século XVI e os relatos derivados delas tornaram os povos ameríndios foco de uma grande curiosidade para as populações europeias. Desse contato com um mundo desconhecido até então, criou-se, no imaginário dos europeus, a imagem de uma natureza fértil e exuberante e de nativos integrados à natureza, mas selvagens, sem qualquer contato com o que se poderia considerar um marco civilizatório.

Assim, a junção entre realidade e idealização torna-se o elemento definidor do modo como os europeus, e mesmo os miscigenados nascidos em terras brasileiras, passam a reconhecer os povos indígenas. No Brasil do século XIX, o nacionalismo emergente do contexto da Proclamação da Independência (1822) é incorporado à arte romântica e constrói o mito do indígena como “bom selvagem”:

[...]

Descritos como nobres guerreiros na infância da humanidade, o indianismo gira em torno da narrativa do nascimento do Brasil a partir do contato do nobre indígena com os colonizadores portugueses. Com algumas variações, o índio é alçado à categoria de herói da nação e para isso é idealizado segundo as narrativas históricas que os tomam como povos honrados e virtuosos. A originalidade do discurso indianista está em incorporar a morte e a eliminação das populações indígenas como sacrifício desses povos para a construção da futura nação. Assim, justificava-se a colonização e estabeleciam o país como uma nação original e miscigenada, diferente justamente por ser capaz de unir a natureza e a civilização como manda o corolário do romantismo derivado das posições de Rousseau.

[...]

COSTA, Pedro Gabriel Amaral. O mito do bom selvagem como elemento da identidade nacional brasileira. Paralaxe, v. 6, n. 1, 2019. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/paralaxe/article/view/46604/30961.

 

Essa idealização romântica, que associa os indígenas à identidade nacional e os coloca em posição de servidão ou os integra ao projeto colonizador, está presente em narrativas como O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874), romances históricos de José de Alencar (1829-1877). Em Iracema (anagra­ma de América), por exemplo, a indígena da nação Tabajara abandona seu povo por amor ao português Martim (batizado Coatiabo pelos Potiguara) e morre ao dar à luz um filho desse relacionamento, Moacir, “filho do sofrimento”, representante simbólico da origem da nação brasileira.

 


No início do século XX, ao propor um diálogo entre o passado e o presente, a tradição e a modernidade, o movimento modernista elabora uma nova visão do indígena e de sua contribuição para a formação social brasileira. Dessa forma, configura-se como um movimento defensor de um nacionalismo crítico na expressão artística.

Um importante exemplo desse discurso é Macunaíma: o herói sem nenhum caráter (1928), de Mário de Andrade (1893-1945). No livro, o protagonista é um nativo do mato-virgem alçado a herói brasileiro de modo carnavalizado, ou seja, um anti-herói, cuja trajetória serve de mote para o leitor entrar em contato com a cultura popular nacional, com seus ditados populares, suas lendas e seus mitos.

Macunaíma é “o herói de nossa gente”: por meio dos traços múltiplos e contrastantes que o caracterizam, representa a coletividade brasileira, formada pela miscigenação racial e cultural. Por exemplo, a cena do banho do herói e de seus dois irmãos na cova encantada, narrada no capítulo V, é uma clara alusão à formação étnica miscigenada do brasileiro. Leia a seguir um trecho dele.

 


O nacionalismo crítico preconizado pelos modernistas da Semana de Arte Moderna de 1922 representa uma volta às nossas origens, aos registros da chegada dos portugueses e à valorização de uma língua nativa. No entanto, empreende ao mesmo tempo uma busca pelo moderno, pelo original e pelo polêmico.

O Manifesto Antropófago, escrito por Oswald de Andrade (1890-1954) em 1928, também reflete esse ideário modernista de invenção de uma brasilidade original. Nele, é colocado em relevo o processo de formação da sociedade nacional (“Ser ou não ser tupi, essa é a questão”) e a importância de se defender a ruptura com o passado para dar espaço a uma nova bandeira ideológica.

O discurso modernista foi, sem dúvida, um importante passo para desfazer a visão do indígena como símbolo de selvageria que emergia dos documentos do Brasil colonial, assim como rompia com o olhar idealizado romântico, formas de representação dos indígenas que produziam sua exclusão sociocultural e reproduziram estereótipos. Ao apontar para a necessidade de analisar criticamente a formação social brasileira, a arte do século XX introduz outras versões da história brasileira, o que favorece a transformação social.

A literatura indígena brasileira, entretanto, ganha visibilidade político-cultural somente a partir da década de 1990, inserida na militância e no engajamento de lideranças e artistas que buscaram sua reafirmação como comunidade e o enfrentamento da invisibilidade social.

 

Literatura indígena: da oralidade à escrita

A militância indígena das últimas décadas iniciou a publicação das histórias desses povos que foram transmitidas, ao longo dos tempos, pela tradição oral. Desse modo, mitos e lendas passaram a ganhar uma nova forma de registro: os livros.

A tradição oral é marca essencial das culturas nativas, mas foi historicamente desprezada. Com a intensificação das publicações de narrativas indígenas nas últimas décadas, a valorização da oralidade, dentre outras estratégias de difusão cultural, torna-se também instrumento de afirmação de um universo cultural rico de histórias mágicas e crenças, por meio das quais os indígenas organizam sua dinâmica social e seu estar no mundo.

            Em “Escrita indígena: registro, oralidade e literatura – o reencontro da memória”, o escritor indígena Daniel Munduruku chama a atenção para o apagamento cultural, que comprometeu a preservação da memória e da ancestralidade indígena. Esse fator também favoreceu a marginalização social dos povos indígenas.

 


O escritor indígena Tiago Hakiy, em “Literatura indígena: a voz da ancestralidade”, também ressalta a importância da oralidade para a preservação da memória de seu próprio povo e para o reconhecimento dessa cultura pelos não indígenas.

 


A tradição oral exerce um papel essencial na cultura indígena: é um meio de transmissão de saberes e tem caráter didático. Nessa cultura, mitos e lendas são encarados como histórias verdadeiras, e não fictícias, sendo um meio de interlocução com o sagrado e os ancestrais. Além disso, as narrativas têm caráter exemplar, educativo.

 

Analisando o texto

1. Segundo o escritor Tiago Hakiy, por que o contador de histórias tem um papel fundamental para seu povo?

2. O relato de Tiago Hakiy relaciona tradição oral ao uso de novas tecnologias. Explique o ponto de vista do escritor.

3.  Leia novamente:

“Aí está o papel da literatura indígena, produzida por escritores indígenas, que nasceram dentro da tradição oral, que podem não viver mais em aldeias, mas que carregam em seu cerne criador um vasto sentido de pertencimento.”

Pelo contexto, o que se pode inferir sobre o significado da expressão “sentido de pertencimento”?

 

>>Para contextualizar

Literatura indígena contemporânea

Inicialmente direcionadas ao ensino dos próprios indígenas na aldeia, as obras de escritores de diferentes etnias têm seu espaço de publicação e divulgação ampliado a partir de 1988 com a Constituição brasileira, que garante acesso à alfabetização e a uma educação diferenciada para esses povos. Esse movimento é fortalecido ainda mais com a Lei nº 11 645/2008, que estabelece a obrigatoriedade de estudos da história e da cultura indígena e africana nas escolas.

Nesse contexto, novas vozes literárias surgem como instrumento político, fonte de resistência e engajamento dos povos indígenas. Todas as vezes que dissemos adeus, de Kaká Werá Jecupé (1994), e Histórias de índio, de Daniel Munduruku (1996) são obras consideradas pioneiras no contexto de busca de um projeto literário que promova o conhecimento (e o reconhecimento) da cultura dos povos originários.

O filósofo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009) afirma que só se conhece a própria cultura pelo contato com outra. O escritor desenvolve o conceito de etnocentrismo (“etno”, de etnia, e “centrismo”, de centro): as pessoas tendem a colocar a própria cultura como centro, como referência, criando o hábito de julgar inferior uma cultura diferente da sua. Isso gera atitudes preconceituosas, pois os etnocentristas percebem o diferente como menor (ou pior).

Assim, para os escritores indígenas, a literatura é um ato político, é um meio de difundir sua cultura e despertar para a importância de percebê-la como parte de um contexto maior de diversidade. A literatura dos povos originários, portanto, promove a valorização da diversidade de conhecimentos, uma construção importante para indígenas e não indígenas.

Esse discurso encontra eco, por exemplo, no relato do escritor indígena Cristino Wapichana:

 


Algumas intenções do discurso que emerge da literatura indígena contemporânea são: usar a própria voz para (re)contar a história do país desde o processo colonizatório, iniciado no século XVI; criar uma nova memória coletiva sobre a importância dos povos indígenas na construção do Brasil como nação; relatar as histórias originais de seus povos, transmitidas de geração em geração, para desenvolver nos mais jovens o sentimento de pertencimento à sua comunidade e o entendimento do valor da ancestralidade.


O sentimento de pertencimento está relacionado à necessidade de participar de alguma forma da vida em sociedade, reconhecendo-se como parte de determinada comunidade. Estudos da área da psicologia apontam como condição básica de todos os sujeitos sua inclusão em um grupo, que é tão essencial para a vida dos indivíduos quanto as necessidades mais elementares e universais, como o alimento e o abrigo.

 

Nas literaturas indígenas contemporâneas, então, multiplicam-se os registros de origem dos vários povos. Cada nação com sua história original, com seus mitos e suas tradições, mas guardando em comum a identificação e a integração com a natureza. Para conhecer uma delas, leia o relato a seguir, de Márcia Wayna Kambeba.

 


 

Analisando o texto

1. Com base no relato de Márcia Wayna Kambeba, analise o valor da transmissão oral de conhecimentos e histórias para os povos indígenas. Indique trechos do relato, para comprovar sua resposta.

2. No quarto parágrafo, apresenta-se outra voz narrativa. Explique.

3. De que modo o relato de Márcia Wayna Kambeba corrobora o discurso de pertencimento que marca as produções literárias indígenas contemporâneas?

 

 >>> Da teoria à prática

Curadoria de pesquisa

Neste capítulo, ao estudar autores e obras representativos da produção cultural indígena, observamos que se trata de uma manifestação historicamente marginalizada. Contudo, nas últimas décadas, a expressão literária passou a ser usada como instrumento de resistência e luta contra o apagamento cultural de que a cultura indígena foi vítima.

Assim, convidamos você a colaborar com a transformação dessa realidade, promovendo a divulgação da obra de artistas indígenas e, consequentemente, contribuindo para reverter o quadro de apagamento cultural. Para isso, você fará com a turma a curadoria de informações e textos literários.

O que é fazer curadoria? O conceito de curadoria – até pouco tempo muito comum apenas na área artística, como em museus e galerias de arte – hoje é frequentemente associado às práticas digitais e significa selecionar e organizar informações. O curador é a pessoa responsável por esse processo; neste caso, será papel seu e de sua turma.

No contexto da cibercultura, a conexão em rede facilita o trabalho do curador, pois existem diversos ambientes on-line que permitem o compartilhamento de informações. Então, mãos à massa!

Etapa 1

Inicialmente, para entender melhor a ideia do trabalho, assista ao vídeo A era da curadoria: o que importa é saber o que importa, com Mario Sergio Cortella, em que é analisado o impacto da intensa circulação de informação decorrente do desenvolvimento de tecnologias digitais.

Em grupos, discutam o vídeo, refletindo sobre como classificar as informações que recebemos cotidianamente entre relevantes e de credibilidade e aquelas que não merecem nossa atenção.

Etapa 2

Agora é o momento de vocês se organizarem em grupos e se lançarem à pesquisa.

Como o objetivo é ampliar os conhecimentos da comunidade escolar sobre a produção cultural indígena, é importante os grupos apresentarem informações variadas. Para isso, é possível fazer, individualmente, um levantamento de obras e estudos mais recentes sobre o tema.

Além de sites destinados a publicações acadêmicas, você encontrará muito material em revistas literárias, museus e páginas de autores indígenas, entre outros. Veja algumas sugestões:

·   Daniel Munduruku (http://danielmunduruku.blogspot.com)

·   Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) (https://www.gov.br/funai)

·   Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (https://institutoiepe.org.br)

·   Instituto Socioambiental (https://www.socioambiental.org)

·   Rascunho – O jornal de literatura do Brasil (https://rascunho.com.br)

             Pesquise também museus indígenas e sites oficiais. Veja mais sugestões:

·   Museu da Pessoa (https://museudapessoa.org)

·   Museu do Índio (https://www.gov.br/museudoindio)

·   Museu das Culturas Indígenas (https://museudasculturasindigenas.org.br/)

·   Povos Indígenas no Brasil (https://pib.socioambiental.org)

Finalizado esse primeiro momento da curadoria, reúnam os grupos e proponham uma delimitação temática ao professor.

Etapa 3

Para iniciar o segundo momento da curadoria, distribuam as tarefas entre os grupos. Usando o celular ou computadores, pesquisem com mais profundidade sobre a temática que ficou sob a responsabilidade de vocês. Selecionem e registrem, durante a leitura, as informações mais relevantes, não se esquecendo de anotar de onde elas foram retiradas.

Como a finalidade é divulgar artistas indígenas, pesquisem tanto autores e obras que já tenham projeção nacional como autores e obras locais.

Lembrem-se de que sites e portais institucionais, como os de universidades públicas e organizações governamentais, são mais confiáveis.

Etapa 4

Organizem as informações para compartilhá-las oralmente com os colegas em uma roda de conversa. Escrevam uma síntese do que foi discutido e elejam um representante do grupo para expor o tema pesquisado. Cada equipe vai ter de 15 a 20 minutos para realizar a exposição.

Etapa 5

Para que os resultados da pesquisa sejam divulgados para a comunidade escolar, escolham um meio de compartilhamento das informações. Isso pode ser feito na página da internet da escola ou em um blog da turma. Para ampliar ainda mais a difusão da pesquisa, divulguem o link dela em redes sociais.

Etapa 6

Após a realização do trabalho, avaliem o processo de curadoria realizado. Em uma roda de conversa na sala de aula, discutam o processo de pesquisa:

·   No geral, ele foi bem-sucedido ou alguma coisa prejudicou o bom andamento da atividade?

·   Quais procedimentos devem ser adotados para que os problemas levantados não ocorram mais?

·   Todos os membros das equipes contribuíram para o trabalho?

·   Quais foram os pontos fortes e os pontos fracos da apresentação realizada pelos grupos?

·   Quais foram os aspectos relevantes do trabalho para você?

 

>> Para aprofundar o conhecimento

1. (ENEM)

Distantes uma da outra quase 100 anos, as duas telas seguintes, que integram o patrimônio cultural brasileiro, valorizam a cena da primeira missa no Brasil, relatada na carta de Pero Vaz de Caminha. Enquanto a primeira retrata fielmente a carta, a segunda — ao excluir a natureza e os

índios — critica a narrativa do escrivão da frota de Cabral. Além disso, na segunda, não se vê a cruz fincada no altar.


 

Ao comparar os quadros e levando-se em consideração a explicação dada, observa-se que

a) a influência da religião católica na catequização do povo nativo é objeto das duas telas.

b) a ausência dos índios na segunda tela significa que Portinari quis enaltecer o feito dos portugueses.

c) ambas, apesar de diferentes, retratam o mesmo momento e apresentam uma mesma visão do fato histórico.

d) a segunda tela ao diminuir o destaque da Cruz, nega a importância da religião no processo dos descobrimentos.

e) a tela de Victor Meirelles contribuiu para uma visão romantizada dos primeiros dias dos portugueses no Brasil.

2. (ENEM)


 

A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto.

CAMINHA, P. V. A carta. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br.

 

Ao se estabelecer uma relação entre a obra de Eckhout e o trecho do texto de Caminha, conclui-se que

a) ambos se identificam pelas características estéticas marcantes, como tristeza e melancolia, do movimento romântico das artes plásticas.

b) o artista, na pintura, foi fiel ao seu objeto, representando-o de maneira realista, ao passo que o texto é apenas fantasioso.

c) a pintura e o texto têm uma característica em comum, que é representar o habitante das terras que sofreriam processo colonizador.

d) o texto e a pintura são baseados no contraste entre a cultura europeia e a cultura indígena.

e) há forte direcionamento religioso no texto e na pintura, uma vez que o índio representado é objeto da catequização jesuítica.

 

Texto para as questões 3 e 4.

Quando eu falo com vocês, procuro usar o código de vocês. A figura do índio no Brasil de hoje não pode ser aquela de 500 anos atrás, do passado, que representa aquele primeiro contato. Da mesma forma que o Brasil de hoje não é o Brasil de ontem, tem 160 milhões de pessoas com diferentes sobrenomes. Vieram para cá asiáticos, europeus, africanos, e todo mundo quer ser brasileiro. A importante pergunta que nós fazemos é: qual é o pedaço de índio que vocês têm? O seu cabelo? São seus olhos? Ou é o nome da sua rua? O nome da sua praça? Enfim, vocês devem ter um pedaço de índio dentro de vocês. Para nós, o importante é que vocês olhem para a gente como seres humanos, como pessoas que nem precisam de paternalismos, nem precisam ser tratadas com privilégios. Nós não queremos tomar o Brasil de vocês, nós queremos compartilhar esse Brasil com vocês.

TERENA, M. Debate. MORIN, E. Saberes globais e saberes locais. Rio de Janeiro: Garamond, 2000 (adaptado).

 

3. (ENEM)

Os procedimentos argumentativos utilizados no texto permitem inferir que o ouvinte/leitor, no qual o emissor foca o seu discurso, pertence

a) ao mesmo grupo social do falante/autor.

b) a um grupo de brasileiros considerados como não índios.

c) a um grupo étnico que representa a maioria europeia que vive no país.

d) a um grupo formado por estrangeiros que falam português.

e) a um grupo sociocultural formado por brasileiros naturalizados e imigrantes.

 

4. (ENEM)

Na situação de comunicação da qual o texto foi retirado, a norma padrão da língua portuguesa é empregada com a finalidade de

a) demonstrar a clareza e a complexidade da nossa língua materna.

b) situar os dois lados da interlocução em posições simétricas.

c) comprovar a importância da correção gramatical nos diálogos cotidianos.

d) mostrar como as línguas indígenas foram incorporadas à língua portuguesa.

e) ressaltar a importância do código linguístico que adotamos como língua nacional.

 

5. 

As narrativas indígenas se sustentam e se perpetuam por uma tradição de transmissão oral (sejam as histórias verdadeiras dos seus antepassados, dos fatos e guerras recentes ou antigos; sejam as histórias de ficção, como aquelas da onça e do macaco). De fato, as comunidades indígenas nas chamadas “terras baixas da América do Sul” (o que exclui as montanhas dos Andes, por exemplo) não desenvolveram sistemas de escrita como os que conhecemos, sejam alfabéticos (como a escrita do português), sejam ideogramáticos (como a escrita dos chineses) ou outros. Somente nas sociedades indígenas com estratificação social (ou seja, já divididas em classes), como foram os astecas e os maias, é que surgiu algum tipo de escrita. A história da escrita parece mesmo mostrar claramente isso: que ela surge e se desenvolve – em qualquer das formas – apenas em sociedades estratificadas (sumérios, egípcios, chineses, gregos etc.). O fato é que os povos indígenas no Brasil, por exemplo, não empregavam um sistema de escrita, mas garantiram a conservação e continuidade dos conhecimentos acumulados, das histórias passadas e, também, das narrativas que sua tradição criou, através da transmissão oral. Todas as tecnologias indígenas se transmitiram e se desenvolveram assim. E não foram poucas: por exemplo, foram os índios que domesticaram plantas silvestres e, muitas vezes, venenosas, criando o milho, a mandioca (ou macaxeira), o amendoim, as morangas e muitas outras mais (e também as desenvolveram muito; por exemplo, somente do milho criaram cerca de 250 variedades diferentes em toda a América).

D’ANGELIS, W. R. Histórias dos índios lá em casa: narrativas indígenas e tradição oral popular no Brasil. Disponível em: www.portalkaingang.org.

 

A escrita e a oralidade, nas diversas culturas, cumprem diferentes objetivos. O fragmento aponta que, nas sociedades indígenas brasileiras, a oralidade possibilitou

a) a conservação e a valorização dos grupos detentores de certos saberes.

b) a preservação e a transmissão dos saberes e da memória cultural dos povos.

c) a manutenção e a reprodução dos modelos estratificados de organização social.

d) a restrição e a limitação do conhecimento acumulado a determinadas comunidades.

e) o reconhecimento e a legitimação da importância da fala como meio de comunicação.

 

 

 



Analisando o texto - Daniel

1. Na Carta de Pero Vaz de Caminha, tanto as descrições físicas dos indígenas, que enfatizam a surpresa dos navegadores com os corpos pintados e nus, quanto os comentários do escrivão sobre a selvageria dos nativos confirmam as declarações feitas por Daniel Munduruku. A visão eurocêntrica é marcada pela ideia de que os nativos das terras brasileiras constituíam um povo desorganizado e selvagem, portanto, fácil de ser dominado pelo colonizador português. Na Carta, essa visão está, por exemplo, no trecho: “Ali por então não houve mais fala ou entendimento com eles, por a barbaria deles ser tamanha, que se não entendia nem ouvia ninguém”.

2. Pode-se inferir que o escritor acredita que os leitores da obra, ao terem contato com uma versão diferente da história das comunidades indígenas nativas, podem se conscientizar da importância de ajudar a construir um futuro melhor e mais justo para a sociedade contemporânea.

Analisando o texto - Thiago

1. Porque ele detém o conhecimento e é o responsável pela transmissão de saberes. Além disso, é por meio da contação de histórias que o povo tem contato com a cultura ancestral, o que representa um elo fundamental com a própria identidade.

2. Segundo o autor, em sua cultura, a tradição oral é um meio de transmissão de saberes e de perpetuação da cultura indígena. Assim, o uso de novas tecnologias é visto por ele como positivo, pois é também um mecanismo de difusão da cultura indígena.

3. Pelo contexto, o que se pode inferir sobre o significado da expressão “sentido de pertencimento”?

Na fala do escritor, o sentido de pertencimento representa a relação que os indígenas têm com sua cultura, mesmo vivendo fora das aldeias.

Analisando o texto - Márcia

1. Segundo a autora, na cultura de seu povo, é habitual as pessoas se sentarem próximas a um ancião para escutar “narrativas de vida” e os “encantados” (mitos). Essas histórias fortalecem a espiritualidade e a ancestralidade: “Como seres vivos somos mortais, mas nossa conexão é com o mundo ancestral”. Assim, esses momentos (chamados de aulas pela autora) têm finalidade educativa (ajudam a “compreender os saberes, entender o tempo e o espaço, fortalecer as relações, estreitar os laços é fundamental na resistência das nações”) e promovem a compreensão da interculturalidade, o que é essencial para que os mais jovens aprendam a valorizar suas origens e a conviver harmonicamente com hábitos culturais diferentes.

2. No parágrafo, misturam-se a voz do primeiro narrador, a própria autora do relato, com a de um ancião de sua aldeia, por meio do qual ela teria escutado a história da origem dos Kambeba.

3. A escritora enfatiza a importância de educar os mais jovens de modo a fortalecer a cultura Kambeba, criando “resistência identitária”. Assim, o sentimento de pertencimento é visto como capaz de fazer com que as raízes culturais de seu povo sejam preservadas.

>> Para aprofundar o conhecimento

1. e

2. d

3. b

4. e

5. b

 

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