Uma tuiteratura?
As novidades sobre o
Twitter já não cabem em 140 toques. Informações vindas dos EUA dão conta de que
a marca de 100 milhões de adeptos acaba de ser alcançada e que a biblioteca do
Congresso, um dos principais templos da palavra impressa, vai guardar em seu arquivo
todos os tweets, ou seja, as mensagens do microblog. No Brasil, o fenômeno não
chega a tanto, mas já somos o segundo país com o maior número de tuiteiros. Também
aqui o Twitter está sendo aceito em territórios antes exclusivos do papel. A
própria Academia Brasileira de Letras abriu um concurso de microcontos para
textos com apenas 140 caracteres. Também se fala das possibilidades literárias
desse meio que se caracteriza pela concisão. Já há até um neologismo,
“tuiteratura”, para indicar os “enunciados telegráficos com criações originais,
citações ou resumos de obras impressas”. Por ora, pergunto como se estivesse
tuitando: querer fazer literatura com palavras de menos não é pretensão demais?
VENTURA, Z. O
Globo. 17 abr. 2010 (adaptado)
As novas tecnologias
estão presentes na sociedade moderna, transformando a comunicação por meio de
inovadoras linguagens. O texto de Zuenir Ventura mostra que o Twitter tem sido
acessado por um número cada vez maior de internautas e já se insere até na
literatura. Neste contexto de inovações linguísticas, a linguagem do Twitter apresenta
como característica relevante
a) a concisão relativa ao texto ao adotar como
regra o uso de uma quantidade predefinida de toques.
b) a frequência de
neologismos criados com a finalidade de tornar a mensagem mais popular.
c) o uso de expressões exclusivas da nova forma
literária para substituir palavras usuais do português.
d) o emprego de palavras pouco usuais no dia a dia
para reafirmar a originalidade e o espírito crítico dos usuários desse tipo de
rede social.
e) o uso de palavras e expressões próprias da mídia
eletrônica para restringir a participação de usuários.
QUESTÃO 02
Em linhas gerais,
sobre o Realismo no Brasil, é correto afirmar:
a) Embora na prosa houvesse um afastamento dos ideais
estéticos do movimento romântico, que o antecedeu, o Parnasianismo, contraparte
poética do Realismo no contexto brasileiro, não conseguiu se desvencilhar do sentimentalismo
e de alguns temas preferidos do Romantismo, como o índio e o escravo,
explorando-os com frequência.
b) Sua tendência a retratar a realidade com
objetividade e imparcialidade está pautada nos postulados filosóficos e
científicos que alcançaram grande popularidade no final do século XIX, como o
positivismo e o darwinismo.
c) Teve grande influência do lluminismo francês, daí o aspecto libertário de alguns romances de nossos escritores realistas, como Machado de Assis e Raul Pompeia.
d) Foi uma estética pouco significativa no painel
literário brasileiro, pois ficou afastado dos problemas nacionais, questão
bastante trabalhada pelo Romantismo.
e) Deu especial importância à questão cultural,
buscando as raízes da cultura brasileira no folclore e nos costumes do povo.
QUESTÃO 03
Gripado, penso entre
espirros em como a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre
línguas. Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe que disseminou pela
Europa, além do vírus propriamente dito, dois vocábulos virais: o italiano influenza
e o francês grippe. O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia,
que significava “influência dos astros sobre os homens”. O segundo era apenas a
forma nominal do verbo gripper, isto é, “agarrar”. Supõe-se que fizesse
referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado.
RODRIGUES, S. “Sobre
palavras”. Veja, São Paulo, 30 nov. 2011.
Para se entender o
trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o leitor reconheça a ligação
entre seus elementos. Nesse texto, a coesão é construída predominantemente pela
retomada de um termo por outro e pelo uso da elipse. O fragmento do texto em
que há coesão por elipse do sujeito é:
a) “[…] a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios
entre línguas.”
b) “Partiu da Itália em
1743 a epidemia de gripe […]”.
c) “O primeiro era um termo derivado do latim
medieval influentia, que significava ‘influência dos astros sobre os
homens’.”
d) “O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper
[…]”.
e) “Supõe-se que fizesse referência ao modo
violento como o vírus se apossa do organismo infectado.”
QUESTÃO 04
TEXTO I
Um ato de
criatividade pode, contudo, gerar um modelo produtivo. Foi o que ocorreu com a
palavra “sambódromo”, criativamente formada com a terminação -(ó) dromo (=
corrida), que figura em “hipódromo”, “autódromo”, “cartódromo”, formas que
designam itens culturais da alta burguesia. Não demoraram a circular, a partir
de então, formas populares como “rangódromo”, “beijódromo”, “camelódromo”.
AZEREDO, J. C. Gramática
Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.
TEXTO II
Existe coisa mais
descabida do que chamar de sambódromo uma passarela para desfile de escolas de
samba? Em grego, -dromo quer dizer “ação de correr, lugar de corrida”,
daí as palavras “autódromo” e “hipódromo”. É certo que, às vezes, durante o
desfile, a escola se atrasa e é obrigada a correr para não perder pontos, mas não
se desloca com a velocidade de um cavalo ou de um carro de Formula 1.
GULLAR, F.
Disponível em: www1.folha.uol.com.br.
Há nas línguas
mecanismos geradores de palavras. Embora o texto
II apresente um julgamento de valor sobre a formação da palavra
“sambódromo”, o processo de formação dessa palavra reflete
a) o dinamismo da língua na criação de novas
palavras.
b) uma nova realidade
limitando o aparecimento de novas palavras.
c) a apropriação inadequada de mecanismos de criação de
palavras por leigos.
d) o reconhecimento da impropriedade semântica
dos neologismos.
e) a restrição na produção de novas palavras com o
radical grego.
QUESTÃO 05
Casimiro de Abreu
pertence à geração dos poetas que morreram prematuramente, na casa dos vinte
anos, como Álvares de Azevedo e outros, acometidos do “mal” byroniano. Sua
poesia, reflexo autobiográfico dos transes, imaginários e verídicos, que lhe
agitaram a curta existência, centra-se em dois temas fundamentais: a saudade e
o lirismo amoroso. Graças a tal fundo de juvenilidade e timidez, sua poesia
saudosista guarda um não sei quê de infantil.
Massaud Moisés. A
literatura brasileira através dos textos, 2004. Adaptado.
Os substantivos do
texto derivados pelo mesmo processo de formação de palavras são:
a) “juvenilidade” e “timidez”.
b) “geração” e
“byroniano”.
c) “reflexo” e “imaginários”.
d) “prematuramente” e
“autobiográfico”.
e) “saudade” e “infantil”.
QUESTÃO 06
Após séculos de
melancolia, gastos a olhar obsessiva e nostalgicamente para seu passado de glórias,
os portugueses parecem estar olhando também para o futuro. O país se
informatiza, se “internetiza”, se sintoniza com as tendências da vida
internacional.
Folha de S.Paulo,
5/10/95.
Sobre a palavra
“internetiza”, é correto afirmar que
a) é um neologismo; uma palavra formada por
derivação sufixal; refere-se à palavra Internet.
b) é formada por
derivação prefixal; refere-se à internacionalização.
c) é formada por derivação parassintética; refere-se
à internacionalização.
d) está entre aspas porque é gíria; refere-se à União
Europeia.
e) não está no dicionário,
portanto, não tem validade linguística.
Texto para as questões 7 e 8.
Desde já a ciência
entra, portanto, no nosso domínio de romancistas, nós que somos agora analistas
do homem, em sua ação individual e social. Continuamos, pelas nossas
observações e experiências, o trabalho do fisiólogo que continuou o do físico e
o do químico. Praticamos, de certa forma, a Psicologia científica, para
completar a Fisiologia científica; e, para acabar a evolução, temos tão somente
que trazer para nossos estudos sobre a natureza e o homem o instrumento
decisivo do método experimental. Em uma palavra, devemos trabalhar com os
caracteres, as paixões, os fatos humanos e sociais, como o químico e o físico trabalham
com os corpos brutos, como o fisiólogo trabalha com os corpos vivos. O determinismo
domina tudo. É a investigação científica, é o raciocínio experimental que
combate, uma por uma, as hipóteses dos idealistas, e substitui os romances de pura
imaginação pelos romances de observação e de experimentação.
Émile Zola. O
romance experimental, 1982. Adaptado.
QUESTÃO 07
Depreendem-se do
comentário do escritor francês Émile Zola preceitos que orientam a corrente
literária
a) simbolista.
b) árcade.
c) naturalista.
d) romântica.
e) barroca.
QUESTÃO 08
Os processos de
formação presentes em “domínio”, “fisiologia” e “determinismo”,
respectivamente, são:
a) derivação regressiva – derivação sufixal –
derivação prefixal
b) abreviação –
composição – parassíntese
c) derivação sufixal – hibridismo – derivação sufixal
d) derivação regressiva – composição – derivação
sufixal
e) derivação prefixal – parassíntese – composição
QUESTÃO 09
Junto dela pôs-se a
trabalhar a Leocádia, mulher de um ferreiro chamado Bruno, portuguesa pequena e
socada, de carnes duras, com uma fama terrível de leviana entre suas vizinhas.
Seguia-se a Paula,
uma cabocla velha, meio idiota, a quem respeitavam todos pelas virtudes de que
só ela dispunha para benzer erisipelas e cortar febres por meio de rezas e
feitiçarias. Era extremamente feia, grossa, triste, com olhos desvairados,
dentes cortados à navalha, formando ponta, como dentes de cão, cabelos lisos,
escorridos e ainda retintos apesar da idade. Chamavam-lhe “Bruxa”.
Depois seguiam-se a
Marciana e mais a sua filha Florinda. A primeira, mulata antiga, muito séria e
asseada em exagero: a sua casa estava sempre úmida das consecutivas lavagens.
Em lhe apanhando o mau humor punha-se logo a espanar, a varrer febrilmente, e,
quando a raiva era grande, corria a buscar um balde de água e descarregava-o
com fúria pelo chão da sala. A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno
quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca. Toda ela
estava a pedir homem, mas sustentava ainda a sua virgindade e não cedia, nem à
mão de Deus Padre, aos rogos de João Romão, que a desejava apanhar a troco de pequenas
concessões na medida e no peso das compras que Florinda fazia diariamente à
venda.
O Cortiço, 2007.
Pela análise do
fragmento, o narrador se expressa de um modo semelhante a
a) um pintor atento às cores, às luzes e as sombras,
dedicado a formalizar com inspiração as sensações que o mundo lhe imprime.
b) um historiador preocupado com o caráter documental do que escreve,
atento à relevância histórica dos fatos narrados.
c) um ourives, construindo um universo de personagens
de maneira equilibrada, de modo a valorizar o objeto artístico como se fosse
uma joia.
d) um professor em um momento de orientação moral de
seus alunos, ensinando-lhes a se comportarem adequadamente.
e) um cientista em um laboratório a dissecar e
classificar os diversos aspectos dos personagens como se fossem objetos de uma
análise científica.
QUESTÃO 10
Quem nunca
fotoxopou?
Fala-se hoje em Facebook, Google e iPhone com a mesma combinação de fascínio e terror que um dia já se falou de Motorola e Nokia. Tudo se move rápido demais no mundo digital, e são poucas as empresas que conseguem permanecer competitivas ao longo dos anos. Apesar de o Vale do Silício ter aquele ar hollywoodiano de terra de oportunidades, contam-se nos dedos empresas longevas como uma Adobe, uma Dell, uma Amazon. Por ter grande mobilidade, a concentração de poder e influência no mundo digital surge tão rápido quanto desaparece, a ponto de ser cada vez mais difícil encontrar quem fique na liderança por uma mísera década. Na virada do século não havia Friendster, Myspace nem Orkut, o grande buscador era o Yahoo!, seguido pelo Lycos. E a internet móvel estava a cargo de empresas inovadoras como Palm e Kyocera. O usuário de produtos digitais é cada vez mais volúvel e pragmático. Novos produtos e serviços podem até seduzi-lo com propaganda, design e preço. Mas a relação dificilmente será mantida se a marca não se renovar com a velocidade esperada, pouco importa sua fatia de mercado. Kodak e Sony que o digam. Mesmo que ainda sejam gigantescas, já não têm o apelo de outrora. A melhor lição de empresas bem-sucedidas em relacionamentos de longo prazo é a do bom e velho Photoshop, vendendo saúde em seus 22 anos de idade e 12 plásticas (oops, versões). Como o Google, ele é sinônimo de categoria e verbo. Mas também é adjetivo, substantivo, pejorativo e indicativo de retoques fotográficos, mencionado com familiaridade até por quem não faça ideia de como ele funciona. Ao contrário do AutoCAD, que é oito anos mais velho, mas desconhecido fora de seu nicho, o Photoshop é unanimidade.
Folha de S.Paulo, 26/03/2012.
Quanto às variações
exploradas a partir do termo “Photoshop”, é correto afirmar que
a) o neologismo do título foi formado pelo mesmo
processo que o termo “design”, presente no texto.
b) como adjetivo, o
valor depreciativo do termo “fotoxopado” decorre exclusivamente do sufixo “-ado”
agregado ao radical.
c) as palavras formadas a partir do estrangeirismo
“photoshop” constituem jargões restritos à área de informática.
d) a grafia abrasileirada de
“fotoxopou”, diferentemente de “hollywoodiano”, no primeiro parágrafo, é uma prova
de que o software se popularizou no mundo.
e) apesar de não ter sido mencionado no texto,
também seria possível transformar “Photoshop” em advérbio de modo:
“fotoxopalmente”.
QUESTÃO 11
Desde que a febre de
possuir se apoderou dele totalmente, todos os seus atos, todos, fosse o mais
simples, visavam um interesse pecuniário. [...] Aquilo já não era ambição, era
uma moléstia nervosa, uma loucura, um desespero de acumular, de reduzir tudo a
moeda.
Aluísio Azevedo, O
Cortiço.
No excerto acima, a
percepção do narrador traz marcas do estilo naturalista, pelo fato de
a) caracterizar o modo de ser da personagem como
uma patologia.
b) trazer ao leitor,
com objetividade e parcimônia, o lado cômico do comportamento humano.
c) criar analogia entre homem e animal, imagem
resultante da projeção subjetiva do observador sobre o observado.
d) criticar explicitamente a ambição desmesurada da alta
burguesia.
e) apresentar sintaxe e léxico inovadores e temática cientificista.
QUESTÃO 12
Retrato do artista
quando coisa
A menina apareceu
grávida de um gavião.
Veio falou para a
mãe: o gavião me desmoçou.
A mãe disse: Você
vai parir uma árvore para
a gente comer goiaba
nela.
E comeram goiaba.
Naquele tempo de
dantes não havia limites
para ser.
Se a gente encostava
em ser ave ganhava
o poder de alçar.
Se a gente falasse a
partir de um córrego
a gente pegava
murmúrios.
Não havia
comportamento de estar.
Urubus conversavam
sobre auroras.
Pessoas viravam
árvore.
Pedras viravam rouxinóis.
Depois veio a ordem
das coisas e as pedras
têm que rolar seu
destino de pedra para o resto
dos tempos.
Só as palavras não
foram castigadas com
a ordem natural das
coisas.
As palavras
continuam com seus deslimites.
BARROS, M. Retrato
do Artista Quando Coisa. Rio de Janeiro: Record, 1998.
No poema,
observam-se os itens lexicais “desmoçou” e “deslimites”. O mecanismo
linguístico que os originou corresponde ao processo de
a) neologismo, que consiste na inovação lexical,
usada para o refinamento estilístico do texto poético.
b) jargão, que
evidencia o uso profissional de palavras específicas de uma área do léxico do
português.
c) arcaísmo, que expressa o emprego de termos
produtivos em outros períodos históricos do português.
d) brasileirismo, que significa a inserção de
palavras específicas da realidade linguística do português.
e) estrangeirismo, que significa a inserção de
palavras de outras comunidades idiomáticas no português.
QUESTÃO 13
Assinale a alternativa
em que há oração sem sujeito.
a) Esperanças haverá sempre.
b) Ninguém trovejou de
tanta raiva quanto eu.
c) Haveria desejado ele tudo
isso?
d) Alguém havia aberto a porta.
e) Choveu papel picado nas ruas de Curitiba.
QUESTÃO 14
O Realismo se
manifestou entre os anos de 1850 e 1870 nos vários países europeus, nos quais
cresceu o interesse pela realidade da vida social nos seus aspectos concretos e
sem as arbitrárias idealizações que tinham caracterizado a idade romântica.
Todavia, as tensões e os conteúdos do realismo não se exauriram nos anos
indicados e, especialmente, as manifestações culturais e artísticas se
estenderam além desse período para o início do novo século, convivendo com o
pensamento e com os movimentos de outras correntes.
POSSAMAI, Jackeline
Maria Beber. Literatura Brasileira: do Período Realista à Literatura
Contemporânea. Indaial: NIASSELVI, 2011. p. 3.
Os realistas tinham
uma posição bastante clara a respeito da elaboração da idealização como elemento
estético-literário. Uma passagem romântica que evidencia a idealização que era
combatida pelos realistas é:
a) “Enquanto a luta jogam os Pastores, / E
emparelhados correm nas campinas, / Toucarei teus cabelos de boninas, / Nos
troncos gravarei os teus louvores.”
b) “Os que as amam e
gozam sensualmente, à lei da sensualidade, não lhes ouvem a vaporosa música
embriagante do vinho dos encantos da voz e do sorriso; não lhes sentem o
perfume delicado de úmidas bocas purpúreas”
c) “E essa imagem é pura e sorri; orna-lhe a
fronte a coroa das virgens; sobe-lhe ao rosto a vermelhidão do pudor”
d) “[Padre Antônio de
Morais] Entregara-se, de corpo e alma, à sedução da linda rapariga [...]
quisera saciar-se do gozo por muito tempo desejado, e sempre impedido.”
e) “E cada verso que vinha da sua boca de mulata era um
arrulhar choroso de pomba no cio.
QUESTÃO 15
O Romantismo era a
apoteose do sentimento; o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do
homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para nos conhecermos,
para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que houver de
mau na nossa sociedade.
Eça de Queirós. In:
PROENÇA FILHO, Domício. Estilos de época na literatura. São Paulo: Liceu, 1969.
p. 207.
O texto de Eça de
Queirós reúne alguns princípios básicos do Realismo. Das palavras do autor,
destaca-se o traço realista
a) da alienação ao mundo, visto que assumiu uma
atitude mais evasiva diante dos problemas sociais contemporâneos.
b) da idealização das
patologias humanas, demonstrando um interesse maior pelas fraquezas individuais
e pelos dramas existenciais.
c) da idealização romântica, pois o escritor realista
procurou descobrir a verdade de seus personagens, dissecando-lhes o
comportamento.
d) da observação e da análise da sociedade, que
exigiam do escritor uma postura racional e crítica diante das condutas do homem
enquanto ser social.
e) das preocupações psicológicas da prosa de ficção, que
levaram o romancista a uma conscientização do próprio “eu” e à manifestação de
sua mais profunda interioridade.
QUESTÃO 16
Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos, eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como ostentasse certa arrogância, não se distinguia bem se era uma criança com fumos de homem, se era um homem com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel das antigas baladas, que o romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas ruas de nosso século. O pior é que o estafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes e, por compaixão, o transportou para seus livros.
ASSIS, Machado de. Memórias
póstumas de Brás Cubas. (Fragmento).
O narrador na apresentação
do personagem (que é o próprio narrador) faz alusão aos estilos romântico e
realista. Ciente dos traços gerais desses estilos, a referência a eles tem o
objetivo de
a) evidenciar a arrogância
do narrador.
b) exaltar as
qualidades do personagem.
c) confundir o leitor pela presença de traços
contrastantes.
d) elaborar a desconstrução da imagem idealizada
do herói.
e) fingir falsa modéstia para a valorização irônica
de Brás Cubas.
QUESTÃO 17
Os gatos
Deus fez o homem à
sua imagem e semelhança, e fez o crítico à semelhança do gato. Ao crítico deu
ele, como ao gato, a graça ondulosa e o assopro, o ronrom e a garra, a língua
espinhosa. Fê-lo nervoso e ágil, refletido e preguiçoso; artista até ao
requinte, sarcasta até a tortura, e para os amigos bom rapaz, desconfiado para
os indiferentes, e terrível com agressores e adversários... Desde que o nosso
tempo englobou os homens em três categorias de brutos, o burro, o cão e o gato –
isto é, o animal de trabalho, o animal de ataque, e o animal de humor e
fantasia – por que não escolheremos nós o travesti do último? É o que se quadra
mais ao nosso tipo, e aquele que melhor nos livrará da escravidão do asno, e
das dentadas famintas do cachorro. Razão por que nos acharás aqui, leitor, miando
um pouco, arranhando sempre e não temendo nunca.
ALMEIDA, Fialho de.
As obras do Realismo
a) marcam uma clara oposição ao idealismo
romântico.
b) deram origem ao
romance sertanejo ou regionalista no Brasil.
c) enxergavam o ser humano como um produto biológico do
meio.
d) procuram externar a subjetividade e a pessoalidade
dos autores.
e) eram vistas mais como distração do que como meio de
crítica às instituições.
QUESTÃO 18
Os estilos de época
começavam na Europa e, com algum atraso, chegavam ao Brasil. O Realismo, por
exemplo, inicia-se em Portugal, em 1860, enquanto o Romantismo era produzido no
Brasil. lnspirados n’As Farpas, de Ramalho Ortigão, os folhetins d’Os
Gatos começaram a ser publicados já no final do Realismo português, portanto
na
a) segunda metade do século XVIII.
b) segunda metade do século XIX.
c) primeira metade do século XIX.
d) segunda metade do século XX.
e) primeira metade do século XX.
QUESTÃO 19
O contexto social,
econômico e histórico influencia decisivamente na produção artística de dada
época. Sobre a estética realista-naturalista, é correto afirmar:
a) Os maiores representantes
da estética realista-naturalista no Brasil objetivavam agradar ao público
burguês.
b) O escritor realista
acerca-se dos objetos e das pessoas de um modo pessoal, apoiando-se na intuição
e nos sentimentos.
c) O individualismo, a linguagem erudita e a visão
fantasiosa da sociedade estão refletidas nas obras realistas da segunda metade
do século XIX.
d) O empirismo e o positivismo, oriundos da
Filosofia, pouco influenciaram na elaboração das obras por ainda estarem
pautadas pela idealização romântica.
e) A segunda Revolução Industrial, o
cientificismo, o progresso tecnológico, o socialismo utópico, a filosofia
positivista de Augusto Comte e o evolucionismo formam o contexto
sociopolítico-econômico-filosófico-científico em que se desenvolveu a estética
realista.
QUESTÃO 20
Junto dela pôs-se a
trabalhar a Leocádia, mulher de um ferreiro chamado Bruno, portuguesa pequena e
socada, de carnes duras, com uma fama terrível de leviana entre suas vizinhas.
Seguia-se a Paula,
uma cabocla velha, meio idiota, a quem respeitavam todos pelas virtudes de que
só ela dispunha para benzer erisipelas e cortar febres por meio de rezas e
feitiçarias. Era extremamente feia, grossa, triste, com olhos desvairados,
dentes cortados à navalha, formando ponta, como dentes de cão, cabelos lisos,
escorridos e ainda retintos apesar da idade. Chamavam-lhe “Bruxa”.
Depois seguiam-se a
Marciana e mais a sua filha Florinda. A primeira, mulata antiga, muito séria e
asseada em exagero: a sua casa estava sempre úmida das consecutivas lavagens.
Em lhe apanhando o mau humor punha-se logo a espanar, a varrer febrilmente, e,
quando a raiva era grande, corria a buscar um balde de água e descarregava-o
com fúria pelo chão da sala. A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno
quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca. Toda ela
estava a pedir homem, mas sustentava ainda a sua virgindade e não cedia, nem à
mão de Deus Padre, aos rogos de João Romão, que a desejava apanhar a troco de pequenas
concessões na medida e no peso das compras que Florinda fazia diariamente à
venda.
O Cortiço, 2007.
Uma relação correta
entre o trecho apresentado e o movimento literário em que O cortiço está
inserido é:
a) a referência cuidadosa e
delicada à sexualidade dos personagens é parte de um esforço, típico do
Realismo, para apresentar o ser humano em sua totalidade sem sobrecarregar um
de seus aspectos.
b) a caracterização dos
personagens como indivíduos únicos e isolados da coletividade, deixando em
segundo plano suas relações sociais, é um traço típico do Naturalismo.
c) a preferência dos personagens pela razão e seu
desprezo pela fé, em uma estratégia para valorizar a ciência e a objetividade e
desvalorizar a religião, são características do Realismo.
d) a valorização da vida perto da natureza, com
personagens que abrem mão dos métodos e dos objetos frutos da tecnologia para
se ligarem à tranquilidade de uma vida sem máquinas, é uma característica do Naturalismo.
e) a descrição das características vulgares dos
personagens e a frequente associação entre homens e animais, que ajudam a
estabelecer uma concepção biológica do mundo, são características do
Naturalismo.
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