16 abril 2023

AVALIAÇÃO BIMESTRAL 1 - 2ª SÉRIE 2023

QUESTÃO 01

Uma tuiteratura?

As novidades sobre o Twitter já não cabem em 140 toques. Informações vindas dos EUA dão conta de que a marca de 100 milhões de adeptos acaba de ser alcançada e que a biblioteca do Congresso, um dos principais templos da palavra impressa, vai guardar em seu arquivo todos os tweets, ou seja, as mensagens do microblog. No Brasil, o fenômeno não chega a tanto, mas já somos o segundo país com o maior número de tuiteiros. Também aqui o Twitter está sendo aceito em territórios antes exclusivos do papel. A própria Academia Brasileira de Letras abriu um concurso de microcontos para textos com apenas 140 caracteres. Também se fala das possibilidades literárias desse meio que se caracteriza pela concisão. Já há até um neologismo, “tuiteratura”, para indicar os “enunciados telegráficos com criações originais, citações ou resumos de obras impressas”. Por ora, pergunto como se estivesse tuitando: querer fazer literatura com palavras de menos não é pretensão demais?

VENTURA, Z. O Globo. 17 abr. 2010 (adaptado)

 

As novas tecnologias estão presentes na sociedade moderna, transformando a comunicação por meio de inovadoras linguagens. O texto de Zuenir Ventura mostra que o Twitter tem sido acessado por um número cada vez maior de internautas e já se insere até na literatura. Neste contexto de inovações linguísticas, a linguagem do Twitter apresenta como característica relevante

a) a concisão relativa ao texto ao adotar como regra o uso de uma quantidade predefinida de toques.

b) a frequência de neologismos criados com a finalidade de tornar a mensagem mais popular.

c) o uso de expressões exclusivas da nova forma literária para substituir palavras usuais do português.

d) o emprego de palavras pouco usuais no dia a dia para reafirmar a originalidade e o espírito crítico dos usuários desse tipo de rede social.

e) o uso de palavras e expressões próprias da mídia eletrônica para restringir a participação de usuários.

 

QUESTÃO 02

Em linhas gerais, sobre o Realismo no Brasil, é correto afirmar:

a) Embora na prosa houvesse um afastamento dos ideais estéticos do movimento romântico, que o antecedeu, o Parnasianismo, contraparte poética do Realismo no contexto brasileiro, não conseguiu se desvencilhar do sentimentalismo e de alguns temas preferidos do Romantismo, como o índio e o escravo, explorando-os com frequência.

b) Sua tendência a retratar a realidade com objetividade e imparcialidade está pautada nos postulados filosóficos e científicos que alcançaram grande popularidade no final do século XIX, como o positivismo e o darwinismo.

c) Teve grande influência do lluminismo francês, daí o aspecto libertário de alguns romances de nossos escritores realistas, como Machado de Assis e Raul Pompeia.

d) Foi uma estética pouco significativa no painel literário brasileiro, pois ficou afastado dos problemas nacionais, questão bastante trabalhada pelo Romantismo.

e) Deu especial importância à questão cultural, buscando as raízes da cultura brasileira no folclore e nos costumes do povo.

 

QUESTÃO 03

Gripado, penso entre espirros em como a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas. Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe que disseminou pela Europa, além do vírus propriamente dito, dois vocábulos virais: o italiano influenza e o francês grippe. O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava “influência dos astros sobre os homens”. O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper, isto é, “agarrar”. Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado.

RODRIGUES, S. “Sobre palavras”. Veja, São Paulo, 30 nov. 2011.

 

Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o leitor reconheça a ligação entre seus elementos. Nesse texto, a coesão é construída predominantemente pela retomada de um termo por outro e pelo uso da elipse. O fragmento do texto em que há coesão por elipse do sujeito é:

a) “[…] a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas.”

b) “Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe […]”.

c) “O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava ‘influência dos astros sobre os homens’.”

d) “O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper […]”.

e) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado.”

 

QUESTÃO 04

TEXTO I

Um ato de criatividade pode, contudo, gerar um modelo produtivo. Foi o que ocorreu com a palavra “sambódromo”, criativamente formada com a terminação -(ó) dromo (= corrida), que figura em “hipódromo”, “autódromo”, “cartódromo”, formas que designam itens culturais da alta burguesia. Não demoraram a circular, a partir de então, formas populares como “rangódromo”, “beijódromo”, “camelódromo”.

AZEREDO, J. C. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.

 

TEXTO II

Existe coisa mais descabida do que chamar de sambódromo uma passarela para desfile de escolas de samba? Em grego, -dromo quer dizer “ação de correr, lugar de corrida”, daí as palavras “autódromo” e “hipódromo”. É certo que, às vezes, durante o desfile, a escola se atrasa e é obrigada a correr para não perder pontos, mas não se desloca com a velocidade de um cavalo ou de um carro de Formula 1.

GULLAR, F. Disponível em: www1.folha.uol.com.br.

 

Há nas línguas mecanismos geradores de palavras. Embora o texto II apresente um julgamento de valor sobre a formação da palavra “sambódromo”, o processo de formação dessa palavra reflete

a) o dinamismo da língua na criação de novas palavras.

b) uma nova realidade limitando o aparecimento de novas palavras.

c) a apropriação inadequada de mecanismos de criação de palavras por leigos.

d) o reconhecimento da impropriedade semântica dos neologismos.

e) a restrição na produção de novas palavras com o radical grego.

 

QUESTÃO 05

Casimiro de Abreu pertence à geração dos poetas que morreram prematuramente, na casa dos vinte anos, como Álvares de Azevedo e outros, acometidos do “mal” byroniano. Sua poesia, reflexo autobiográfico dos transes, imaginários e verídicos, que lhe agitaram a curta existência, centra-se em dois temas fundamentais: a saudade e o lirismo amoroso. Graças a tal fundo de juvenilidade e timidez, sua poesia saudosista guarda um não sei quê de infantil.

Massaud Moisés. A literatura brasileira através dos textos, 2004. Adaptado.

 

Os substantivos do texto derivados pelo mesmo processo de formação de palavras são:

a) “juvenilidade” e “timidez”.

b) “geração” e “byroniano”.

c) “reflexo” e “imaginários”.

d) “prematuramente” e “autobiográfico”.

e) “saudade” e “infantil”.


QUESTÃO 06

Após séculos de melancolia, gastos a olhar obsessiva e nostalgicamente para seu passado de glórias, os portugueses parecem estar olhando também para o futuro. O país se informatiza, se “internetiza”, se sintoniza com as tendências da vida internacional.

Folha de S.Paulo, 5/10/95.

 

Sobre a palavra “internetiza”, é correto afirmar que

a) é um neologismo; uma palavra formada por derivação sufixal; refere-se à palavra Internet.

b) é formada por derivação prefixal; refere-se à internacionalização.

c) é formada por derivação parassintética; refere-se à internacionalização.

d) está entre aspas porque é gíria; refere-se à União Europeia.

e) não está no dicionário, portanto, não tem validade linguística.

 

Texto para as questões 7 e 8.

Desde já a ciência entra, portanto, no nosso domínio de romancistas, nós que somos agora analistas do homem, em sua ação individual e social. Continuamos, pelas nossas observações e experiências, o trabalho do fisiólogo que continuou o do físico e o do químico. Praticamos, de certa forma, a Psicologia científica, para completar a Fisiologia científica; e, para acabar a evolução, temos tão somente que trazer para nossos estudos sobre a natureza e o homem o instrumento decisivo do método experimental. Em uma palavra, devemos trabalhar com os caracteres, as paixões, os fatos humanos e sociais, como o químico e o físico trabalham com os corpos brutos, como o fisiólogo trabalha com os corpos vivos. O determinismo domina tudo. É a investigação científica, é o raciocínio experimental que combate, uma por uma, as hipóteses dos idealistas, e substitui os romances de pura imaginação pelos romances de observação e de experimentação.

Émile Zola. O romance experimental, 1982. Adaptado.

 

QUESTÃO 07

Depreendem-se do comentário do escritor francês Émile Zola preceitos que orientam a corrente lite­rária

a) simbolista.

b) árcade.

c) naturalista.

d) romântica.

e) barroca.

 

QUESTÃO 08

Os processos de formação presentes em “domínio”, “fisiologia” e “determinismo”, respectivamente, são:

a) derivação regressiva – derivação sufixal – derivação prefixal

b) abreviação – composição – parassíntese

c) derivação sufixal – hibridismo – derivação sufixal

d) derivação regressiva – composição – derivação sufixal

e) derivação prefixal – parassíntese – composição

 

QUESTÃO 09

Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um ferreiro chamado Bruno, portuguesa pequena e socada, de carnes duras, com uma fama terrível de leviana entre suas vizinhas.

Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a quem respeitavam todos pelas virtudes de que só ela dispunha para benzer erisipelas e cortar febres por meio de rezas e feitiçarias. Era extremamente feia, grossa, triste, com olhos desvairados, dentes cortados à navalha, formando ponta, como dentes de cão, cabelos lisos, escorridos e ainda retintos apesar da idade. Chamavam-lhe “Bruxa”.

Depois seguiam-se a Marciana e mais a sua filha Florinda. A primeira, mulata antiga, muito séria e asseada em exagero: a sua casa estava sempre úmida das consecutivas lavagens. Em lhe apanhando o mau humor punha-se logo a espanar, a varrer febrilmente, e, quando a raiva era grande, corria a buscar um balde de água e descarregava-o com fúria pelo chão da sala. A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca. Toda ela estava a pedir homem, mas sustentava ainda a sua virgindade e não cedia, nem à mão de Deus Padre, aos rogos de João Romão, que a desejava apanhar a troco de pequenas concessões na medida e no peso das compras que Florinda fazia diariamente à venda.

O Cortiço, 2007.

Pela análise do fragmento, o narrador se expressa de um modo semelhante a

a) um pintor atento às cores, às luzes e as sombras, dedicado a formalizar com inspiração as sensações que o mundo lhe imprime.

b) um historiador preocupado com o caráter documental do que escreve, atento à relevância histórica dos fatos narrados.

c) um ourives, construindo um universo de personagens de maneira equilibrada, de modo a valorizar o objeto artístico como se fosse uma joia.

d) um professor em um momento de orientação moral de seus alunos, ensinando-lhes a se comportarem adequadamente.

e) um cientista em um laboratório a dissecar e classificar os diversos aspectos dos personagens como se fossem objetos de uma análise científica.

 

QUESTÃO 10

Quem nunca fotoxopou?

Fala-se hoje em Facebook, Google e iPhone com a mesma combinação de fascínio e terror que um dia já se falou de Motorola e Nokia. Tudo se move rápido demais no mundo digital, e são poucas as empresas que conseguem permanecer competitivas ao longo dos anos. Apesar de o Vale do Silício ter aquele ar hollywoodiano de terra de oportunidades, contam-se nos dedos empresas longevas como uma Adobe, uma Dell, uma Amazon. Por ter grande mobilidade, a concentração de poder e influência no mundo digital surge tão rápido quanto desaparece, a ponto de ser cada vez mais difícil encontrar quem fique na liderança por uma mísera década. Na virada do século não havia Friendster, Myspace nem Orkut, o grande buscador era o Yahoo!, seguido pelo Lycos. E a internet móvel estava a cargo de empresas inovadoras como Palm e Kyocera. O usuário de produtos digitais é cada vez mais volúvel e pragmático. Novos produtos e serviços podem até seduzi-lo com propaganda, design e preço. Mas a relação dificilmente será mantida se a marca não se renovar com a velocidade esperada, pouco importa sua fatia de mercado. Kodak e Sony que o digam. Mesmo que ainda sejam gigantescas, já não têm o apelo de outrora. A melhor lição de empresas bem-sucedidas em relacionamentos de longo prazo é a do bom e velho Photoshop, vendendo saúde em seus 22 anos de idade e 12 plásticas (oops, versões). Como o Google, ele é sinônimo de categoria e verbo. Mas também é adjetivo, substantivo, pejorativo e indicativo de retoques fotográficos, mencionado com familiaridade até por quem não faça ideia de como ele funciona. Ao contrário do AutoCAD, que é oito anos mais velho, mas desconhecido fora de seu nicho, o Photoshop é unanimidade.

Folha de S.Paulo, 26/03/2012.

 

Quanto às variações exploradas a partir do termo “Photoshop”, é correto afirmar que

a) o neologismo do título foi formado pelo mesmo processo que o termo “design”, presente no texto.

b) como adjetivo, o valor depreciativo do termo “fotoxopado” decorre exclusivamente do sufixo “-ado” agregado ao radical.

c) as palavras formadas a partir do estrangeirismo “photoshop” constituem jargões restritos à área de informática.

d) a grafia abrasileirada de “fotoxopou”, diferentemente de “hollywoodiano”, no primeiro parágrafo, é uma prova de que o software se popularizou no mundo.

e) apesar de não ter sido mencionado no texto, também seria possível transformar “Photoshop” em advérbio de modo: “fotoxopalmente”.

 

QUESTÃO 11

Desde que a febre de possuir se apoderou dele totalmente, todos os seus atos, todos, fosse o mais simples, visavam um interesse pecuniário. [...] Aquilo já não era ambição, era uma moléstia nervosa, uma loucura, um desespero de acumular, de reduzir tudo a moeda.

Aluísio Azevedo, O Cortiço.

 

No excerto acima, a percepção do narrador traz marcas do estilo naturalista, pelo fato de

a) caracterizar o modo de ser da personagem como uma patologia.

b) trazer ao leitor, com objetividade e parcimônia, o lado cômico do comportamento humano.

c) criar analogia entre homem e animal, imagem resultante da projeção subjetiva do observador sobre o observado.

d) criticar explicitamente a ambição desmesurada da alta burguesia.

e) apresentar sintaxe e léxico inovadores e temática cientificista.

 

QUESTÃO 12

Retrato do artista quando coisa

A menina apareceu grávida de um gavião.

Veio falou para a mãe: o gavião me desmoçou.

A mãe disse: Você vai parir uma árvore para

a gente comer goiaba nela.

E comeram goiaba.

Naquele tempo de dantes não havia limites

para ser.

Se a gente encostava em ser ave ganhava

o poder de alçar.

Se a gente falasse a partir de um córrego

a gente pegava murmúrios.

Não havia comportamento de estar.

Urubus conversavam sobre auroras.

Pessoas viravam árvore.

Pedras viravam rouxinóis.

Depois veio a ordem das coisas e as pedras

têm que rolar seu destino de pedra para o resto

dos tempos.

Só as palavras não foram castigadas com

a ordem natural das coisas.

As palavras continuam com seus deslimites.

BARROS, M. Retrato do Artista Quando Coisa. Rio de Janeiro: Record, 1998.

 

No poema, observam-se os itens lexicais “desmoçou” e “deslimites”. O mecanismo linguístico que os originou corresponde ao processo de

a) neologismo, que consiste na inovação lexical, usada para o refinamento estilístico do texto poético.

b) jargão, que evidencia o uso profissional de palavras específicas de uma área do léxico do português.

c) arcaísmo, que expressa o emprego de termos produtivos em outros períodos históricos do português.

d) brasileirismo, que significa a inserção de palavras específicas da realidade linguística do português.

e) estrangeirismo, que significa a inserção de palavras de outras comunidades idiomáticas no português.

 

QUESTÃO 13

Assinale a alternativa em que há oração sem sujeito.

a) Esperanças haverá sempre.

b) Ninguém trovejou de tanta raiva quanto eu.

c) Haveria desejado ele tudo isso?

d) Alguém havia aberto a porta.

e) Choveu papel picado nas ruas de Curitiba.

 

QUESTÃO 14

O Realismo se manifestou entre os anos de 1850 e 1870 nos vários países europeus, nos quais cresceu o interesse pela realidade da vida social nos seus aspectos concretos e sem as arbitrárias idealizações que tinham caracterizado a idade romântica. Todavia, as tensões e os conteúdos do realismo não se exauriram nos anos indicados e, especialmente, as manifestações culturais e artísticas se estenderam além desse período para o início do novo século, convivendo com o pensamento e com os movimentos de outras correntes.

POSSAMAI, Jackeline Maria Beber. Literatura Brasileira: do Período Realista à Literatura Contemporânea. Indaial: NIASSELVI, 2011. p. 3.

 

Os realistas tinham uma posição bastante clara a respeito da elaboração da idealização como elemento estético-literário. Uma passagem romântica que evidencia a idealização que era combatida pelos realistas é:

a) “Enquanto a luta jogam os Pastores, / E emparelhados correm nas campinas, / Toucarei teus cabelos de boninas, / Nos troncos gravarei os teus louvores.”

b) “Os que as amam e gozam sensualmente, à lei da sensualidade, não lhes ouvem a vaporosa música embriagante do vinho dos encantos da voz e do sorriso; não lhes sentem o perfume delicado de úmidas bocas purpúreas”

c) “E essa imagem é pura e sorri; orna-lhe a fronte a coroa das virgens; sobe-lhe ao rosto a vermelhidão do pudor”

d) “[Padre Antônio de Morais] Entregara-se, de corpo e alma, à sedução da linda rapariga [...] quisera saciar-se do gozo por muito tempo desejado, e sempre impedido.”

e) “E cada verso que vinha da sua boca de mulata era um arrulhar choroso de pomba no cio.

 

QUESTÃO 15

O Romantismo era a apoteose do sentimento; o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que houver de mau na nossa sociedade.

Eça de Queirós. In: PROENÇA FILHO, Domício. Estilos de época na literatura. São Paulo: Liceu, 1969. p. 207.

 

O texto de Eça de Queirós reúne alguns princípios básicos do Realismo. Das palavras do autor, destaca-se o traço realista

a) da alienação ao mundo, visto que assumiu uma atitude mais evasiva diante dos problemas sociais contemporâneos.

b) da idealização das patologias humanas, demonstrando um interesse maior pelas fraquezas individuais e pelos dramas existenciais.

c) da idealização romântica, pois o escritor realista procurou descobrir a verdade de seus personagens, dissecando-lhes o comportamento.

d) da observação e da análise da sociedade, que exigiam do escritor uma postura racional e crítica diante das condutas do homem enquanto ser social.

e) das preocupações psicológicas da prosa de ficção, que levaram o romancista a uma conscientização do próprio “eu” e à manifestação de sua mais profunda interioridade.

 

QUESTÃO 16

Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos, eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como ostentasse certa arrogância, não se distinguia bem se era uma criança com fumos de homem, se era um homem com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel das antigas baladas, que o romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas ruas de nosso século. O pior é que o estafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes e, por compaixão, o transportou para seus livros.

ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. (Fragmento).

 

O narrador na apresentação do personagem (que é o próprio narrador) faz alusão aos estilos romântico e realista. Ciente dos traços gerais desses estilos, a referência a eles tem o objetivo de

a) evidenciar a arrogância do narrador.

b) exaltar as qualidades do personagem.

c) confundir o leitor pela presença de traços contrastantes.

d) elaborar a desconstrução da imagem idealizada do herói.

e) fingir falsa modéstia para a valorização irônica de Brás Cubas.

 

QUESTÃO 17

Os gatos

Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, e fez o crítico à semelhança do gato. Ao crítico deu ele, como ao gato, a graça ondulosa e o assopro, o ronrom e a garra, a língua espinhosa. Fê-lo nervoso e ágil, refletido e preguiçoso; artista até ao requinte, sarcasta até a tortura, e para os amigos bom rapaz, desconfiado para os indiferentes, e terrível com agressores e adversários... Desde que o nosso tempo englobou os homens em três categorias de brutos, o burro, o cão e o gato – isto é, o animal de trabalho, o animal de ataque, e o animal de humor e fantasia – por que não escolheremos nós o travesti do último? É o que se quadra mais ao nosso tipo, e aquele que melhor nos livrará da escravidão do asno, e das dentadas famintas do cachorro. Razão por que nos acharás aqui, leitor, miando um pouco, arranhando sempre e não temendo nunca.

ALMEIDA, Fialho de.

As obras do Realismo

a) marcam uma clara oposição ao idealismo romântico.

b) deram origem ao romance sertanejo ou regionalista no Brasil.

c) enxergavam o ser humano como um produto biológico do meio.

d) procuram externar a subjetividade e a pessoalidade dos autores.

e) eram vistas mais como distração do que como meio de crítica às instituições.

 

QUESTÃO 18

Os estilos de época começavam na Europa e, com algum atraso, chegavam ao Brasil. O Realismo, por exemplo, inicia-se em Portugal, em 1860, enquanto o Romantismo era produzido no Brasil. lnspirados n’As Farpas, de Ramalho Ortigão, os folhetins d’Os Gatos começaram a ser publicados já no final do Realismo português, portanto na

a) segunda metade do século XVIII.

b) segunda metade do século XIX.

c) primeira metade do século XIX.

d) segunda metade do século XX.

e) primeira metade do século XX.

 

QUESTÃO 19

O contexto social, econômico e histórico influencia decisivamente na produção artística de dada época. Sobre a estética realista-naturalista, é correto afirmar:

a) Os maiores representantes da estética realista-naturalista no Brasil objetivavam agradar ao público burguês.

b) O escritor realista acerca-se dos objetos e das pessoas de um modo pessoal, apoiando-se na intuição e nos sentimentos.

c) O individualismo, a linguagem erudita e a visão fantasiosa da sociedade estão refletidas nas obras realistas da segunda metade do século XIX.

d) O empirismo e o positivismo, oriundos da Filosofia, pouco influenciaram na elaboração das obras por ainda estarem pautadas pela idealização romântica.

e) A segunda Revolução Industrial, o cientificismo, o progresso tecnológico, o socialismo utópico, a filosofia positivista de Augusto Comte e o evolucionismo formam o contexto sociopolítico-econômico-filosófico-científico em que se desenvolveu a estética realista.

 

QUESTÃO 20

Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um ferreiro chamado Bruno, portuguesa pequena e socada, de carnes duras, com uma fama terrível de leviana entre suas vizinhas.

Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, a quem respeitavam todos pelas virtudes de que só ela dispunha para benzer erisipelas e cortar febres por meio de rezas e feitiçarias. Era extremamente feia, grossa, triste, com olhos desvairados, dentes cortados à navalha, formando ponta, como dentes de cão, cabelos lisos, escorridos e ainda retintos apesar da idade. Chamavam-lhe “Bruxa”.

Depois seguiam-se a Marciana e mais a sua filha Florinda. A primeira, mulata antiga, muito séria e asseada em exagero: a sua casa estava sempre úmida das consecutivas lavagens. Em lhe apanhando o mau humor punha-se logo a espanar, a varrer febrilmente, e, quando a raiva era grande, corria a buscar um balde de água e descarregava-o com fúria pelo chão da sala. A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca. Toda ela estava a pedir homem, mas sustentava ainda a sua virgindade e não cedia, nem à mão de Deus Padre, aos rogos de João Romão, que a desejava apanhar a troco de pequenas concessões na medida e no peso das compras que Florinda fazia diariamente à venda.

O Cortiço, 2007.

 

Uma relação correta entre o trecho apresentado e o movimento literário em que O cortiço está inserido é:

a) a referência cuidadosa e delicada à sexualidade dos personagens é parte de um esforço, típico do Realismo, para apresentar o ser humano em sua totalidade sem sobrecarregar um de seus aspectos.

b) a caracterização dos personagens como indivíduos únicos e isolados da coletividade, deixando em segundo plano suas relações sociais, é um traço típico do Naturalismo.

c) a preferência dos personagens pela razão e seu desprezo pela fé, em uma estratégia para valorizar a ciência e a objetividade e desvalorizar a religião, são características do Realismo.

d) a valorização da vida perto da natureza, com personagens que abrem mão dos métodos e dos objetos frutos da tecnologia para se ligarem à tranquilidade de uma vida sem máquinas, é uma característica do Naturalismo.

e) a descrição das características vulgares dos personagens e a frequente associação entre homens e animais, que ajudam a estabelecer uma concepção biológica do mundo, são características do Naturalismo.


 

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