26 fevereiro 2023

O RAPTO DE PERSÉFONE

EMBORA DEMÉTER TENHA TIDO OUTROS SETE FILHOS – Arion e Despoena, Pluto, Filômelos e Coribas, Eubouleos e a filha Crisótemis –, é Perséfone, a filha gerada com Zeus, que tem a ligação mais profunda com a mãe. Desta relação, na verdade, dependem a beleza e a compreensão de todo o mito da deusa da agricultura.

Nosso primeiro contato com o mito de Perséfone, também chamada Corê, que significa “a garota”, ocorre no chamado “Hino a Deméter”. Nele ficamos sabendo que Perséfone era a beleza personificada e alegrava a humanidade, então em tempos de abundância permanente. Um belo dia, a garota brincava pelos campos floridos com suas amigas, filhas de Oceano, quando viu uma flor maravilhosa, um espetacular narciso como ela nunca vira antes. Ao abaixar-se para recolhê-lo, a terra se abriu diante dela e fez surgir “o Hospedeiro de Muitos, com seus cavalos imortais, que se atira sobre ela – o Filho de Cronos, ele que tem muitos nomes”.

Era Hades, senhor do reino dos mortos – hospedeiro de muitos, de fato –, cujo nome o hino parece mesmo evitar. Em vão Perséfone gritou e resistiu. Hades agarrou-a e, quando a terra se fechou sobre eles, arrastou-a para as profundezas, sem que ninguém mais ouvisse os gritos da jovem. Apenas Deméter escutava um lamento distante, no qual reconhecia o eco da voz da filha, sem conseguir atinar com o que ocorrera.

Apreensiva por notícias da filha, Deméter, ainda sem saber o que aconteceu, corre em direção ao local onde deixara Perséfone com as amigas. Lá encontra uma ninfa que a tudo assistira, porém esta não lhe pode dar qualquer informação, pois foi transformada em uma fonte. É então que Deméter vê flutuando, na água desta fonte, o cinto da filha. Algo de terrível havia acontecido.

A BUSCA DE DEMÉTER. Inicia-se, então, a busca de Deméter pela jovem Perséfone, que dura nove dias e nove noites. Ela percorre o mundo, com tochas acesas nas mãos, “sem comer ambrosia, beber néctar e sem borrifar o corpo com água”, prossegue o hino. E quando Hécate, deusa da Lua e das noites sombrias, diz a Deméter que ouvira os lamentos de Perséfone e a aconselha a perguntar a Hélios, deus do Sol, a quem nada escapa do que ocorre sobre a Terra, sobre o destino de Perséfone. Hélios então desfaz o mistério e tenta consolá-la.

Mas nem a solução para o desaparecimento misterioso da jovem e nem as ponderadas palavras do deus do Sol sobre as virtudes de seu novo genro acalmaram a dor e a ira de Deméter. O fato de Zeus haver permitido o rapto, ao invés de consolá-la, revolta-a ainda mais. Ela então decide se despir de sua roupagem divina e abandonar o Olimpo. Sai vagando sem destino pelo mundo, impedindo que os campos brotem e assim ameaçando, silenciosamente, a sobrevivência da humanidade.

Zeus ordena que a deusa-mensageira Iris vá convencer Deméter a voltar para o Olimpo e reassumir suas funções divinas. Mas é inútil. Deméter, agora estabelecida em Elêusis como babá de um menino, responde a Zeus que só voltará ao Olimpo, e à sua tarefa de alimentar a humanidade, se tiver a filha de volta.

Sem outra escolha para evitar a destruição da humanidade, Zeus manda seu outro fiel mensageiro, Hermes, buscar Perséfone no Hades. O rei das profundezas, aparentemente, não se opõe a isso. Apenas tenta convencer a jovem de que seria um bom mando e oferece a ela o status de soberana absoluta de seu reino, respeitada e temida, com direito a receber para sempre aquilo de que os deuses mais gostavam “ritos e oferendas dos humanos”.

A jovem se deixa convencer e manifesta sua concordância, mas Hades, por precaução, faz com que ela coma algumas sementes de romã, pois quem comia algo no Hades ficava obrigado a sempre voltar. Perséfone é então levada até Deméter e o encontro de ambas é muito feliz. Mas quando Deméter pergunta à garota se ela comera algo no Hades, ao ouvir uma resposta positiva sua ira novamente se manifesta. Por sorte, a própria Reia, mãe de Deméter e de Zeus, avó de Perséfone, consegue convencer a deusa da agricultura a ver a filha apenas em algumas épocas do ano, deixando que ela volte ao Hades em outras. Convence-a também a retornar para o Olimpo e reassumir seus deveres em relação à humanidade. A deusa Hécate junta-se a Demeter e Perséfone e, a partir daí, será sempre a mais fiel companheira da jovem.

Nasciam assim as estações do ano. Na primavera e no verão, Deméter e Perséfone estavam juntas; no outono e no Inverno, a jovem morava no mundo subterrâneo.








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