Não sou de analisar um homem pelo jeito que fala, anda ou se porta entre amigos depois de duas doses de uísque. Para mim, a maneira mais acurada de saber quem é o cidadão, lá debaixo do verniz social, é observar como age durante uma refeição. É incrível como a maneira que alguém se comporta à mesa — quando está com fome e não consegue cumprir totalmente as etiquetas — é a mesma que se comporta na cama.
Passei um bom
tempo achando essa minha mania bizarra e sem fundamento. Mas não é: comer e
transar são, em muitos pontos, correlatos. O alimento é
diretamente ligado ao tipo de prazer/necessidade mais básica do ser
humano, e a maneira que se lida com ele é a mesma que se lida com outros
prazeres primais.
Os apressados,
por exemplo: misturam, numa garfada só, a salada, o arroz, o feijão e o bife.
Não sentem gosto de nada, só querem sentir-se saciados o quanto antes.
Nojentinhos
cutucam todas as porções com se quisessem se certificar de que não encontrarão
nada que empesteie seu paladar. Colocam ínfimas quantidades de comida no garfo
e mastigam como se tivessem uma barata viva na boca. Ressentem-se de praticar
essa atividade tão vil, não-civilizada, e assim, nivelarem-se ao resto da
humanidade.
Gulosos leem
cada linha do menu como se tivessem a sua frente o quinto segredo de Fátima.
Tudo os atrai e, invariavelmente, pedem mais do que conseguem dar conta.
Empaturram-se e largam tudo semi-comido.
Chatos, por
mais que encham o saco do garçom averiguando cada ínfimo detalhe da
receita, sempre reclamarão do que pediram. Sempre dirão que não é assim que se
faz. SEMPRE colocarão defeito: só assim se sentem bem, importantes.
Gente
inapetente faz parte do reino vegeto-sexual.
Quem gosta em drive-thru tem ejaculação precoce.
Comer em praça
de alimentação sem PRECISAR é o equivalente a armar uma suruba: o que se quer é
quantidade e agitação. Qualidade é o de menos.
Os melhores
amantes cheiram tudo. Dão pequenas mordidas para perceber as texturas, sabores
para, se for o caso, abocanhar o pedaço todo. Tomam o tempo que for necessário
na escolha porque isso diminui a chance de arrependimento. São seletivos.
Perguntam. Comem devagar o bastante para não queimar a boca e rápido o
suficiente para não esfriar a comida. Não dão escândalo quando algo sai errado:
vão até o fim, com parcimônia e discrição, e nunca mais retornam.
Quando gostam de verdade, não tem pudores em raspar o prato. Não dispensam
a sobremesa e o café, porque aprenderam que pressa só leva à azia.
Restaurantes
podem ser bem eróticos.
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