20 outubro 2023

AVALIAÇÃO BIMESTRAL 4 - 1ª SÉRIE 2023

QUESTÃO 01

Assiste à demolição

- Morou mais de vinte anos nesta casa? Então vai sentir “uma coisa” quando ela for demolida. Começou a demolição. Passando pela rua, ele viu a casa já sem telhado, e operários, na poeira, removendo caibros. Aquele telhado que lhe dera tanto trabalho por causa das goteiras, tapadas aqui, reaparecendo ali. Seu quarto de dormir estava exposto ao céu, no calor da manhã. Ao fundo, no terraço, tinham desaparecido as colunas da pérgula, e a cobertura de ramos de buganvília – dois troncos subindo do pátio lá embaixo e enchendo de florinhas vermelhas o chão de ladrilho, onde gatos da vizinhança amavam fazer sesta e surpreender tico-ticos.

Passou nos dias seguintes e viu o progressivo desfazer-se das paredes, que escancarava a casa de frente e de flancos jogando-a por assim dizer na rua. Os marcos das portas apareciam emoldurando o vazio. O azul e as nuvens circulavam pelos cômodos, em composição surrealista. E o pequeno balcão da fachada, cercado de ar, parecia um mirante espacial, baixado ao nível dos míopes.

A demolição prosseguiu à noite, espontaneamente. Um lanço de parede desabou sozinho, para fora do tapume, quando já cessara na rua o movimento das lotações. Caiu discreto, sem ferir ninguém, apenas avariando – desculpem – a rede telefônica.

A casa encolhera-se, em processo involutivo. Já agora de um só pavimento, sem teto, aspirava mesmo à desintegração. Chegou a vez da pequena sala de estar, da sala de jantar com seu lambri envernizado a preto, que ele passara meses raspando a poder de gilete, para recuperar a cor da madeira. E a vez do escritório, parte pensante e sentinte de seu mecanismo individual, do eu mais íntimo e simultaneamente mais público, eu de gavetas sigilosas, manuseadas por um profissional da escrita. De todo o tempo que vivera na casa, fora ali que passara o maior número de horas, sentado, meio corcunda, desligado de acontecimentos, ouvindo, sem escutar, rumores que chegavam de outro mundo – cantoria de bêbados, motor de avião, chorinho de bebê, galo na madrugada.

E não sentiu dor vendo esfarinharem-se esses compartimentos de sua história pessoal. Nem sequer a melancolia do desvanecimento das coisas físicas. Elas tinham durado, cumprido a tarefa. Chega o instante em que compreendemos a demolição como um resgate de formas cansadas, sentença de liberdade. Talvez sejamos levados a essa compreensão pelo trabalho similar, mais surdo, que se vai desenvolvendo em nós. E não é preciso imaginar a alegria de formas novas, mais claras, a surgirem constantemente de formas caducas, para aceitar de coração sereno o fim das coisas que se ligaram à nossa vida.

Fitou tranquilo o que tinha sido sua casa e era um amontoado de caliça e tijolo, a ser removido. Em breve restaria o lote, à espera de outra casa maior, sem sinal dele e dos seus, mas destinada a concentrar outras vivências. Uma ordem, um estatuto pairava sobre os destroços, e tudo era como devia ser, sem ilusão de permanência.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. 12. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1979.

 

GLOSSÁRIO

caibro: elemento estrutural de um telhado, geralmente peças de madeira que se dispõem da cumeeira ao frechal, a intervalos regulares e paralelas umas às outras, em que se cruzam e assentam as ripas, frequentemente mais finas e compridas, e sobre as quais se apoiam e se encaixam as telhas.

pérgula: espécie de galeria coberta de barrotes espacejados assentados em pilares, geralmente guarnecida de trepadeiras

buganvília: designação comum às plantas do gênero bougainvillea, trepadeira, muito cultivadas como ornamentais

de flanco: pela lateral

marco: parte fixa que guarnece o vão de portas e janelas, e onde as folhas destas se encaixam, prendendo-se por meio de dobradiças

tapume: cerca ou vala guarnecida de sebe que defende uma área; anteparo, geralmente de madeira, com que se veda a entrada numa área, numa construção

lambri: revestimento interno de parede, usado com fim decorativo ou para proteger contra frio, umidade ou barulho; feito de madeira, mármore, estuque, numa só peça ou composto por painéis, que vão até certa altura ou do chão ao teto (mais usado no plural)

caliça:  conjunto de resíduos de uma obra de alvenaria demolida ou em desmoronamento, formado por pó ou fragmentos dos materiais diversos do reboco (cal, argamassa ressequida) e de pedras, tijolos desfeitos

lote: porção de terra autônoma que resulta de loteamento ou desmembramento; terreno de pequenas dimensões, urbano ou rural, que se destina a construções ou à pequena agricultura

 

Marque a alternativa em que a forma verbal substitui corretamente a locução verbal sublinhada na seguinte oração: “Ao fundo, no terreno, tinham desaparecido as colunas da pérgula…”.

a) havia desaparecido

b) havia desaparecidas

c) haviam desaparecidas

d) haviam desaparecido

e) haviam desaparecidos

 

QUESTÃO 02

Luc Boltanski e Ève Chiapello demonstram com clareza e sagacidade a capacidade antropofágica do capitalismo financeiro que “engole” a linguagem do protesto e da libertação para transformá-la e utilizá-la para legitimar a dominação social e política a partir do próprio mercado.

Na dimensão do mundo do trabalho, por exemplo, todo um novo vocabulário teve que ser inventado para escamotear as novas transformações e melhor oprimir o trabalhador. Com essa linguagem aparentemente libertadora, passa-se a impressão de que o ambiente de trabalho melhorou e o trabalhador se emancipou.

Assim houve um esforço dirigido para transformar o trabalhador em “colaborador”, para eufemizar e esconder a consciência de sua superexploração; tenta-se também exaltar os supostos valores de liderança para possibilitar que, a partir de agora, o próprio funcionário, não mais o patrão, passe a controlar e vigiar o colega de trabalho. Ou, ainda, há a intenção de difundir a cultura do empreendedorismo, segundo a qual todo mundo pode ser empresário de si mesmo. E, o mais importante, se ele falhar nessa empreitada, a culpa é apenas dele. É necessário sempre culpar individualmente a vítima pelo fracasso socialmente construído.

SOUZA, Jessé. Como o racismo criou o Brasil. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2021.

 

O uso dos verbos “passar” (2° parágrafo) e “tentar” (3° parágrafo) no texto, em sua forma pronominal, revela

a) adequação à forma analítica da voz passiva.

b) construção com conjunção integrante.

c) marcação da impessoalidade do discurso.

d) informalidade correspondente ao gênero discursivo.

e) ênfase na reciprocidade da linguagem.

 

QUESTÃO 03

O principal enfoque em O erro de Descartes é a relação entre emoção e razão. Baseado em meu estudo de pacientes neurológicos que apresentavam deficiências na tomada de decisão e distúrbios da emoção, construí a hipótese de que a emoção era parte integrante do processo de raciocínio e poderia auxiliar esse processo ao invés de, como se costumava supor, necessariamente perturbá-lo. Hoje em dia essa ideia já não causa espécie, mas na época em que a apresentei muita gente estranhou, e mesmo a recebeu com certo ceticismo. Tudo sopesado, a ideia, em grande medida, foi aceita e até, em certos casos, acolhida com tanta sofreguidão que acabou deturpada. Por exemplo, nunca afirmei que a emoção era um substituto para a razão, mas em algumas versões superficiais depreendia-se que minha ideia era que se você seguisse o coração em vez da razão tudo daria certo.

Na verdade, em certas ocasiões a emoção pode ser um substituto para a razão. O programa de ação emocional que denominamos medo pode afastar rapidamente do perigo a maioria dos seres humanos com pouca ou nenhuma ajuda da razão. Um esquilo ou um pássaro não pensa para reagir a uma ameaça, e o mesmo pode acontecer a um humano. Aí é que está a beleza no modo como a emoção tem funcionado no decorrer da evolução: ela abre a possibilidade de levar seres vivos a agir de maneira inteligente sem precisar pensar com inteligência. Acontece que, nos humanos, essa história tornou-se mais complexa, para o bem e para o mal. O raciocínio faz o que fazem as emoções, mas alcança o resultado conscientemente. O raciocínio nos dá a opção de pensar com inteligência antes de agir de maneira inteligente, e isso é bom: descobrimos que muitos dos problemas que encontramos em nosso complexo ambiente podem ser resolvidos apenas com emoções, porém não todos, e nestas ocasiões as soluções que a emoção oferece são, na realidade, contraproducentes.

Mas como evoluiu nas espécies complexas o sistema de raciocínio inteligente? A proposta inovadora em O erro de Descartes é que o sistema de raciocínio evoluiu como uma extensão do sistema emocional automático, com a emoção desempenhando vários papéis no processo de raciocínio.

O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. 2012. (Adaptado).

 

O verbo sublinhado, na conjugação em que se apresenta, indica um fato pontual no passado no seguinte trecho:

a) “se você seguisse o coração em vez da razão tudo daria certo” (1º parágrafo).

b) “a emoção era um substituto para a razão” (1º parágrafo).

c) “construí a hipótese de que a emoção era parte integrante do processo de raciocínio” (1º parágrafo).

d) “Baseado em meu estudo de pacientes neurológicos que apresentavam deficiências na tomada de decisão” (1º parágrafo).

e) “O raciocínio nos  a opção de pensar com inteligência antes de agir de maneira inteligente” (2º parágrafo).

 

QUESTÃO 04

Leia o trecho do ensaio O filtro da leitura, de Luís Augusto Fischer.

Num exemplo esquemático: imaginemos que, quando menino, um filho tenha um momento de raiva contra o pai, uma daquelas raivas radicais que qualquer um tem, mas não confessa; e suponhamos que, bem na hora em que o menino esteja vivendo essa raiva, chegue a notícia de que o pai sofreu um acidente de carro, um terrível acidente, que o deixa estragado, que talvez até o mate. Na cabeça do menino, se estabelece uma relação de causa e consequência entre a raiva e o acidente, de forma que ele passe a viver, inconscientemente, como um culpado pelo problema todo. Será capaz de viver décadas carregando essa culpa, arrastando-a para onde for, sem sequer saber que ela existe, porque a relação de causa e efeito se estabeleceu num nível totalmente inconsciente, inacessível para a consciência racional, salvo, segundo Freud, pela análise. Análise que, nesse exemplo, trataria de trazer tal nexo causal para a consciência, para desfazê-lo, para mostrar que ele não tem cabimento, porque é uma falsa crença.

Filosofia mínima: ler, escrever, ensinar, aprender. 2011.

 

O autor do ensaio inclui o leitor em seu texto no seguinte trecho:

a) “de forma que ele passe a viver, inconscientemente, como um culpado pelo problema todo”.

b) “Num exemplo esquemático: imaginemos que, quando menino, um filho tenha um momento de raiva contra o pai”.

c) “Na cabeça do menino, se estabelece uma relação de causa e consequência entre a raiva e o acidente”.

d) “porque a relação de causa e efeito se estabeleceu num nível totalmente inconsciente, inacessível para a consciência racional”.

e) “Será capaz de viver décadas carregando essa culpa, arrastando-a para onde for, sem sequer saber que ela existe”.

 

QUESTÃO 

O livro Últimos Cantos, de Gonçalves Dias, reúne poemas de gêneros e temáticas variados. Há elegia, idílio, poema épico, lírico, de temática nacionalista, indianista, amorosa, etc.

Em cada alternativa abaixo, há uma estrofe de um poema desse livro; entre parênteses está o título do poema. Citam-se estrofes de poemas narrativos e apenas uma estrofe de poema não narrativo. Assinale a alternativa que contém uma estrofe não narrativa.

a) “Eu sob a copa da mangueira altiva/ Nosso leito gentil cobri zelosa/ Com mimoso tapiz de folhas brandas,/ Onde o frouxo luar brinca entre flores.” (Leito de Folhas Verdes).

b) “Meu pai a meu lado/ Já cego e quebrado,/ De penas ralado,/ Firmava-se em mi:/ Nós ambos, mesquinhos,/ Por ínvios caminhos,/ Cobertos d’espinhos/ Chegamos aqui!” (I-Juca-Pirama).

c) “Vem meu amigo, dizia/ A bela fada engraçada,/ Pulsando a harpa dourada:/ — Sou boa, não faço mal,/ Vem ver meus belos palácios,/ Meus domínios dilatados,/ Meus tesouros encantados/ No meu reino de cristal.” (A Mãe d’Água).

d) “Para as serras do Gerez/ Toca a rês,/ Toca a rês, gentil pastora;/ Lá te aguarda o bom pastor,/ Teu amor,/ Que te chama encantadora.” (A pastora).

e) “Beijos que são? — Ai do peito,/ Selo breve, laço estreito/ Dum cansado bem querer;/ Saibo de gozos divinos,/ Que nos lábios femininos/ Quis Deus bondoso verter.” (Os beijos).

 

- Os textos a seguir serão utilizados nas questões 6 e 7.

TEXTO I

É ela! é ela! – murmurei tremendo,

e o eco ao longe murmurou – é ela!

Eu a vi... minha fada aérea e pura –

a minha lavadeira na janela.

 

Dessas águas furtadas onde eu moro

eu a vejo estendendo no telhado

os vestidos de chita, as saias brancas;

eu a vejo e suspiro enamorado!

 

Esta noite eu ousei mais atrevido,

nas telhas que estalavam nos meus passos,

ir espiar seu venturoso sono,

vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

 

Como dormia! que profundo sono!...

Tinha na mão o ferro do engomado...

Como roncava maviosa e pura!...

Quase caí na rua desmaiado!

AZEVEDO, Álvares de. É ela! É ela! É ela! É ela. In: Álvares de Azevedo. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 44.

 

TEXTO

MARTIN-KAVEL, François. Sem título.


QUESTÃO 06

Tanto a pintura quanto o excerto apresentados pertencem ao Romantismo. A diferença entre ambos, porém, diz respeito ao fato de que

a) no fragmento verifica-se o retrato de um ser idealizado, ao passo que no quadro tem-se uma figura retratada de modo pejorativo.

b) na pintura tem-se o retrato de uma mulher de feições austeras, ao passo que no poema nota-se a descrição de uma mulher sofisticada.

c) no excerto tem-se a descrição realista e não idealizada de uma mulher, ao passo que na pintura retrata-se uma mulher pertencente à burguesia.

d) na imagem tem-se uma moça cuja caracterização é abstrata, ao passo que no poema tem-se uma mulher cujo aspecto é burguês e requintado.

e) no quadro constata-se a imagem de uma moça simplória, ao passo que no poema nota-se a caracterização de uma donzela de vida airada.

 

QUESTÃO 07

Nas estrofes iniciais de É ela! É ela!, de Álvares de Azevedo, o sujeito lírico mostra-se atordoado diante das facetas discrepantes de sua amada, que ora lhe aparece como “fada aérea e pura”, ora como simples “lavadeira”. O autor explora essa duplicidade da figura da amada com o propósito evidente de ___ uma das características centrais da estética ultrarromântica, qual seja, ___.

Assinale a alternativa cujas informações preenchem corretamente as lacunas do enunciado.

a) ridicularizar / a representação das classes operárias.

b) ilustrar / a religiosidade.

c) ironizar / o uso do poema-piada.

d) ilustrar / a preocupação com a atividade econômica.

e) ironizar / a idealização da figura feminina.

 

QUESTÃO 08

O tédio profundo

O excesso de positividade se manifesta também como excesso de estímulos, informações e impulsos. Modifica radicalmente a estrutura e economia da atenção. Com isso se fragmenta e destrói a atenção. Também a crescente sobrecarga de trabalho torna necessária uma técnica específica relacionada ao tempo e à atenção, que tem efeitos novamente na estrutura da atenção. A técnica temporal e de atenção multitasking (multitarefa) não representa nenhum progresso civilizatório. A multitarefa não é uma capacidade para a qual só seria capaz o homem na sociedade trabalhista e de informação pós-moderna. Trata-se1 antes de um retrocesso. A multitarefa está amplamente disseminada entre os animais em estado selvagem. Trata-se de uma técnica de atenção, indispensável para sobreviver na vida selvagem.

Um animal ocupado no exercício da mastigação de sua comida tem de ocupar-se ao mesmo tempo com outras atividades. Deve cuidar para que2, ao comer, ele próprio não acabe comido. Na vida selvagem, o animal está obrigado a dividir sua atenção em diversas atividades. Por isso3, não é capaz de aprofundamento contemplativo – nem para comer, nem no copular. O animal não pode mergulhar contemplativamente no que tem diante de si, pois tem de elaborar ao mesmo tempo o que tem atrás

de si. Não apenas a multitarefa, mas também atividades como jogos de computador geram uma atenção ampla, mas rasa, que se assemelha4 à atenção de um animal selvagem. As mais recentes evoluções sociais e a mudança de estrutura da atenção aproximam cada vez mais a sociedade humana da vida selvagem.

HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017. p. 31-32. (Adaptado.)

 

Para a adequada interpretação do texto, é necessário identificar a que informações, apresentadas previamente, correspondem algumas expressões de sentido vago e empregadas pelo autor. Isso posto, considere as seguintes afirmativas:

1) Na expressão “para que”, ref. 2, “que” é pronome relativo cujo referente é “ele próprio”.

2) O termo “se” na expressão “trata-se”, ref. 1, refere-se a “técnica de atenção”.

3) O termo “se” na expressão “que se assemelha”, ref. 4, é marca de indeterminação.

4) “Por isso”, ref. 3, estabelece relação conclusiva com o período imediatamente anterior.

 

Assinale a alternativa correta.

a) Somente a afirmativa 4 é verdadeira.

b) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.

e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.

 

QUESTÃO 09

Temple Grandin empacou diante da porteira. Alguns parafusos cravados na madeira lhe saltaram aos olhos. “Tem que limar a cabeça desses parafusos, se não o gado pode se machucar”, aconselhou à dona da fazenda, Carmen Perez, que ao lembrar a cena comentou: “Sempre passo no curral antes do manejo, observo tudo, dizem que tenho olho biônico, e ela notou uma coisa que eu não tinha visto.”. Grandin tem um parafuso a mais quando se trata do bem-estar dos bichos. Professora de ciência animal, ela é autista e dona de uma hipersensibilidade visual e auditiva. Tocada pelas angústias do gado desde a juventude, ela compreendia por que a rês recuava na hora da vacinação, por que atacava um vaqueiro, por que tropeçava, por que mugia. Grandin traduziu esse entendimento em projetos que propunham mudanças no manejo. Hoje, instalações criadas por ela são familiares a quase metade dos bovinos nos Estados Unidos. O Brasil, com seus quase 172 milhões de cabeças de gado, segundo o Censo Agropecuário de 2017, vem aos poucos fazendo ajustes alinhados com as propostas da americana.

Em julho passado, Grandin, hoje com 71 anos, veio ao Brasil pela sexta vez. Na fazenda Orvalho das Flores, localizada em Barra do Garças (MT), ela testemunhou como a equipe de Perez conduz suas 2 980 cabeças de Nelore, raça predominante no país. Os vaqueiros massageiam os bezerros, não gritam com os bois, tampouco deixam capas de chuva, correntes ou chapéus no caminho dos animais.

A engenheira agrônoma Maria Lucia Pereira Lima foi aluna de pós-doutorado de Grandin na Universidade do Estado do Colorado, em Fort Collins, em 2013. Viajara aos Estados Unidos para aprender como medir o bem-estar dos bovinos e se inteirar de inovações que pudessem ser implantadas em currais brasileiros. Uma delas, por exemplo, tranquiliza o animal conduzido à vacinação: o gado em geral se via obrigado a passar espremido por espaços afunilados. Grandin projetou um acesso em curva, sem cantos, que dá à rês a ilusão de que voltará ao ponto de partida. Outra: uma lâmpada acesa na entrada do tronco de contenção – o equipamento que permite o manejo individual do boi – a indicar o trajeto reduziu em até 90% o uso de choque elétrico durante o processo. [...]

No auditório da universidade, outros pesquisadores se revezavam no palco discutindo aspectos econômicos e sociais relacionados ao bem-estar animal. O tempo de manejo cai pela metade nos estabelecimentos agropecuários que seguem os manuais de Grandin. De ovos transportados com cuidado nascem pintinhos sadios. Sem falar na melhor qualidade de vida de quem lida com esses bichos. Vaqueiros bem treinados sofrem menos acidentes no trabalho e desenvolvem uma relação mais harmoniosa nos casamentos. “A melhoria do bem-estar animal melhora o bem-estar humano”, afirmou o zootecnista Mateus Paranhos da Costa, da Universidade Estadual Paulista.

Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/encantadora-de-bois/ (Adaptado.)

 

Observe os elementos destacados na passagem: “Sempre passo no curral antes do manejo, observo tudo, dizem que tenho olho biônico, e ela notou uma coisa que eu não tinha visto”, presente no primeiro parágrafo.

As palavras destacadas exercem

a) funções diferentes, pois o primeiro “que” é conjunção integrante e introduz uma oração coordenada, enquanto o segundo “que” é pronome relativo e introduz uma oração explicativa.

b) funções diferentes, pois o primeiro “que” é uma conjunção subordinativa, enquanto o segundo é um pronome relativo, tendo como antecedente o termo “coisa”.

c) mesma função, pois ambos são conjunções subordinativas, sendo que o primeiro introduz uma oração substantiva, enquanto o segundo, uma oração adverbial restritiva.

d) mesma função, pois ambos os pronomes “que” retomam vocábulos anteriores, sendo o verbo “dizem” e o substantivo “coisa” seus antecedentes respectivamente.

e) mesma função, pois ambos são conjunções, porém o primeiro “que” é uma conjunção subordinativa, enquanto o segundo, uma conjunção coordenativa.

 

QUESTÃO 1

Assinale a alternativa correta quanto ao emprego do pronome relativo.

a) Aquele era o homem do qual Miguel devia favores.

b) Eis um homem de quem o caráter é excepcional.

c) Refiro-me ao livro que está sobre a mesa.

d) Aquele foi um momento onde eu tive grande alegria.

e) As pessoas que falei são muito ricas.

 

Leia o texto para responder às questões 11 e 12.

Canção do exílio

Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras

Onde canta o Sabiá,

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

 

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

 

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar – sozinho, à noite –

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Cinco estrelas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Coleção Literatura em Minha Casa.

 

QUESTÃO 11

Os temas nacionalistas tiveram grande preponderância em uma das gerações do romantismo. Esse tipo de abordagem foi comum na:

a) Primeira geração.

b) Segunda geração.

c) Terceira geração.

d) Geração condoreira.

e) Geração ultrarromântica.

 

QUESTÃO 12

A presença de alguns advérbios denota o local em que se encontra o eu lírico no momento da enunciação do poema. Esses advérbios atuam semanticamente indicando:

a) Presença

b) Causa

c) Espacialidade

d) Temporalidade

e) Exterioridade

 

QUESTÃO 13

Mas, para garantir um trajeto tranquilo e sem grandes aborrecimentos, existem algumas regras de etiqueta que podem ser seguidas. Confira as dicas dadas pelo vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Cláuver Castilho, e pela criadora do blog Aerolindas, que retrata o dia a dia de aeromoças, Letícia Ramos.

Disponível em: https://g1.globo.com/turismo-e-viagem/noticia/2023/07/13/controle-da-janela-levar-lanchinho-perturbar-ocomissario-veja-regras-de-etiqueta-durante-o-voo.ghtml.

 

Os pronomes relativos do trecho podem ser substituídos respectivamente por:

a) As quais; o qual

b) À qual; a que

c) As quais; a qual

d) Cujas; a qual

e) Os quais; em que

 

QUESTÃO 14

Marque a alternativa em que o verbo marque ideia semântica de hipótese:

a) Os problemas são complexos em sua estrutura.

b) Ele voltaria em breve.

c) Os olhos brilharam em súbito desejo.

d) A moça arraigava suas intenções.

e) Passaremos a virada do ano em júbilo.

 

QUESTÃO 15

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!

Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano

Como o teu mergulhar no brigue voador!

Mas que vejo eu aí... Que quadro d’amarguras!

É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...

Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!”

ALVES, Castro. O navio negreiro. In: Os escravos. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1977.

 

Uma característica marcante da 3ª fase do romantismo brasileiro presente no poema é:

a) Nacionalismo ufanista

b) Adjetivação abundante

c) Tom exclamativo

d) Morte como escapismo

e) Indianismo

 

QUESTÃO 16

As filhas ___ mães estão envelhecidas já não se encontram aqui.

Preenche-se corretamente a lacuna com:

a) Que

b) As quais

c) Os quais

d) Cujo

e) Cujas

 

- Leia o texto a seguir para responder às questões 17 e 18.

No meio das tabas de amenos verdores,

Cercadas de troncos – cobertos de flores,

Alteiam-se os tetos d’altiva nação;

São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,

Temíveis na guerra, que em densas coortes

Assombram das matas a imensa extensão.

 

São rudos, severos, sedentos de glória,

Já prélios incitam, já cantam vitória,

Já meigos atendem à voz do cantor:

São todos Timbiras, guerreiros valentes!

Seu nome lá voa na boca das gentes,

Condão de prodígios, de glória e terror!

 

As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,

As armas quebrando, lançando-as ao rio,

O incenso aspiraram dos seus maracás:

Medrosos das guerras que os fortes acendem,

Custosos tributos ignavos lá rendem,

Aos duros guerreiros sujeitos na paz.

 

No centro da taba se estende um terreiro,

Onde ora se aduna o concílio guerreiro

Da tribo senhora, das tribos servis:

Os velhos sentados praticam d’outrora,

E os moços inquietos, que a festa enamora,

Derramam-se em torno dum índio infeliz.

Disponível em: www.biblio.com.br/conteudo/GoncalvesDias/IJucaPirama.htm.

 

QUESTÃO 17

Sobre os elementos formais do poema, é correto dizer que possui:

a) Forma de soneto.

b) Versos sem rima.

c) Métrica regular.

d) Versos livres.

e) Construção em prosa.

 

QUESTÃO 18

O poema possui temática:

a) Indianista

b) Intimista

c) Separatista

d) Medievalista

e) Ultrarromântica

 

- Leia o texto para responder às questões 19 e 20.

Meus oito anos

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

 

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

– Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar é – lago sereno,

O céu – um manto azulado,

O mundo – um sonho dourado,

A vida – um hino d’amor!

 

Que aurora, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d’estrelas,

A terra de aromas cheia

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!

 

Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minha irmã!

 

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberta o peito,

– Pés descalços, braços nus –

Correndo pelas campinas

A roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

 

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo.

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!

 

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

– Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

A sombra das bananeiras

Debaixo dos laranjais!

ABREU, Casimiro. Disponível em: www.aoredor.blog.br/post/meus-oito-anos-casimiro-de-abreu.

 

QUESTÃO 19

O poema possui majoritariamente um tom:

a) Amoroso

b) Saudosista

c) Materialista

d) Universalista

e) Minimalista

 

QUESTÃO 20

Sobre a relação entre o poema e o Romantismo, é correto dizer que:

a) Foge da perspectiva típica do Romantismo.

b) Está inadequado por possuir caráter barroco.

c) Adequa-se ao escapismo temporal tipicamente romântico.

d) Aproxima-se do Romantismo por sua temática social.

e) Afasta-se do Romantismo por ter características góticas. 

 

 

 

 

 

 

 

 

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

D

C

C

B

E

C

E

A

B

C

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

A

C

C

B

C

E

C

A

B

C

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

MATÉRIA RELACIONADA AO LIVRO "CEM ANOS DE SOLIDÃO"

  Massacre das Bananeiras: conheça história real que inspirou “Cem Anos de Solidão ” O governo colombiano, para proteger uma empresa dos E...