06 novembro 2022

NARRATIVAS MITOLÓGICAS

 

Deméter e Perséfone 

Embora Deméter tenha tido outros sete filhos, é Perséfone, a filha gerada com Zeus, que tem a ligação mais profunda com a mãe.

Nosso primeiro contato com o mito de Perséfone, também chamada Corê, que significa “a garota”, ocorre no chamado “Hino a Deméter”. Nele ficamos sabendo que Perséfone era a beleza personificada e alegrava a humanidade, então em tempos de abundância permanente. Um belo dia, a garota brincava pelos campos floridos com suas amigas, quando viu uma flor maravilhosa, um espetacular narciso como ela nunca vira antes. Ao abaixar-se para recolhê-lo, a terra se abriu diante dela e fez surgir “o Hospedeiro de Muitos”, que se atira sobre ela.

            Era Hades, senhor do reino dos mortos. Em vão Perséfone gritou e resistiu. Hades agarrou-a e, quando a terra se fechou sobre eles, arrastou-a para as profundezas, sem que ninguém mais ouvisse os gritos da jovem. Apenas Deméter escutava um lamento distante, no qual reconhecia o eco da voz da filha, sem conseguir atinar com o que ocorrera.

Apreensiva por notícias da filha, Deméter, ainda sem saber o que aconteceu, corre em direção ao local onde deixara Perséfone com as amigas lá encontra uma ninfa que a tudo assistira, porém esta não lhe pode dar qualquer informação, pois foi transformada em uma fonte. É então que Deméter vê flutuando, na água desta fonte, o cinto da filha. Algo de terrível havia acontecido.

            Inicia-se, a busca de Deméter pela jovem Perséfone, que dura nove dias e nove noites. Ela percorre o mundo, com tochas acesas nas mãos, “sem comer ambrosia, beber néctar e sem borrifar o corpo com água”, prossegue o hino. E quando Hécate, deusa da Lua e das noites sombrias diz a Deméter que ouvira os lamentos de Perséfone e a aconselha a perguntar a Hélios, deus do Sol, a quem nada escapa do que ocorre sobre a Terra, sobre o destino de Perséfone. Hélios então desfaz o mistério e tenta consolá-la:

            Rainha Deméter, vou dizer-lhe a verdade pois muita piedade me causa vê-la com sua dor por sua filha. Nenhum outro dos deuses imortais se deve culpar, mas apenas o juntador de nuvens Zeus, que a deu a Hades, seu irmão, para ser chamada de esposa. E Hades a subjugou e levou-a chorando alto em seu carro para o reino de névoa e tristeza. No entanto, deusa, cesse seu alto lamento e não mantenha em vão sua raiva: Hades não é marido inadequado, entre os deuses imortais, para sua filha, e é o senhor de todos aqueles entre os quais ele mora.

            Mas nem a solução para o desaparecimento misterioso da jovem e nem as ponderadas palavras do deus do Sol sobre as virtudes de seu novo genro acalmaram a dor e a ira de Deméter. O fato de Zeus haver permitido o rapto, ao invés de consolá-la, revolta-a ainda mais. Ela então decide se despir de sua roupagem divina e abandonar o Olimpo. Sai vagando sem destino pelo mundo, impedindo que os campos brotem e assim ameaçando, silenciosamente, a sobrevivência da humanidade.

            Zeus ordena que a deusa-mensageira Íris vá convencer Deméter a voltar para o Olimpo e reassumir suas funções divinas. Mas é inútil. Deméter, agora estabelecida em Elêusis como babá de um menino, responde a Zeus que só voltará ao Olimpo, e à sua tarefa de alimentar a humanidade, se tiver a filha de volta.

Sem outra escolha para evitar a destruição da humanidade, Zeus manda seu outro fiel mensageiro, Hermes, buscar Perséfone no Hades. O rei das profundezas, aparentemente, não se opõe a isso. Apenas tenta convencer a jovem de que seria um bom marido e oferece a ela o status de soberana absoluta de seu reino, respeitada e temida, com direito a receber para sempre aquilo de que os deuses mais gostavam: ritos e oferendas dos humanos.

A jovem se deixa convencer e manifesta sua concordância, mas Hades, por precaução, faz com que ela coma algumas sementes de romã, pois quem comia algo no Hades ficava obrigado a sempre voltar. Perséfone é então levada até Deméter e o encontro de ambas é multo feliz. Mas quando Deméter pergunta à garota se ela comera algo no Hades, ao ouvir uma resposta positiva sua ira novamente se manifesta. Por sorte, Réia, mãe de Deméter e avó de Perséfone, consegue convencer a deusa da agricultura a ver a filha apenas em algumas épocas do ano, deixando que ela volte ao Hades em outras. Convence-a também a retornar para o Olimpo e reassumir seus deveres em relação à humanidade.

Nasciam assim as estações do ano. Na primavera e no verão, Deméter e Perséfone estavam juntas; no outono e no inverno, a jovem morava no mundo subterrâneo.

 

 

Eros e Psiquê 

O mais conhecido dos filhos de Afrodite é Eros. O “deus do amor” – chamado de Cupido pelos romanos – é o garotinho nu que acompanha Afrodite, “flechando” com as setas do amor os corações até então livres de tal sentimento.

Embora exista referência a um Eros como a força da procriação na formação do universo, o Eros mais presente nos relatos míticos é o Eros filho de Afrodite e apenas dela, pois já teria nascido grávida.

O certo é que todos o dão como o garotinho desobediente, que flecha de amor ou incendeia com sua tocha os corações de quem a mãe lhe ordena, mas que, também, desobediente, muitas vezes age por conta própria.

            E foi a desobediência de Eros que levou à grande crise com Psiquê, princesa mortal, cuja beleza parecia superar a da própria Afrodite.

            Enciumada pela beleza da princesa, Afrodite ordena a Eros que a faça apaixonar-se pelo mais feio dos homens. Ao invés de cumprir tal ordem, Eros apaixona-se por Psiquê – que é vista como representação da alma humana – e a esconde, visitando-a todas as noites, com o trato de ela não indagar sua identidade, muito menos, vê-lo.

            Curiosa, e temendo estar apaixonada por horrenda criatura, Psiquê examina Eros sob a luz de uma lamparina, mas uma gota óleo cai sobre o deus, acordando-o. Contrariado, Eros desaparece, deixando Psiquê desesperada, vagando pelo mundo à procura do ser amado. Nessa busca, ela pede ajuda aos deuses, mas, um a um, eles a negam, pois têm conhecimento da ira de Afrodite contra a jovem que, além de bela demais, lhe “roubara” o filho Eros.

            Chegando ao templo de Afrodite, Psiquê é aprisionada e passa pelas piores e mais duras provas concebidas pela deusa. A força de superação que Psiquê sente e que não a deixa esmorecer vem do amor de Eros, que continua a protegê-la. Ele finalmente consegue que Zeus reconheça seu matrimônio com Psiquê e a liberte da vingança materna. Zeus dá a ambrosia – bebida dos deuses – para a princesa e, assim, faz dela imortal, decretando a eternidade do amor entre Eros e Psiquê.

 

Histórias adaptadas de:




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