QUESTÃO 01
Naquele tempo, ltaguaí, que, como as demais
vilas, arraiais e povoações da colônia, não dispunha de imprensa, tinha dois
modos de divulgar uma notícia; ou por meio de cartazes manuscritos e pregados
na porta da Câmara, e da matriz; – ou por meio de matraca.
Eis em que consistia este segundo uso. Contratava-se um homem, por um ou mais dias, para andar as ruas do povoado, com uma matraca na mão. De quando em quando tocava a matraca, reunia-se gente, e ele anunciava o que lhe incumbiam, – um remédio para sezões, umas terras lavradias, um soneto, um donativo eclesiástico, a melhor tesoura da vila, o mais belo discurso do ano, etc. O sistema tinha inconvenientes para a paz pública; mas era conservado pela grande energia de divulgação que possuía. Por exemplo, um dos vereadores desfrutava a reputação de perfeito educador de cobras e macacos, e aliás nunca domesticara um só desses bichos; mas tinha o cuidado de fazer trabalhar a matraca todos os meses. E dizem as crônicas que algumas pessoas afirmavam ter visto cascavéis dançando no peito do vereador; afirmação perfeitamente falsa, mas só devida à absoluta confiança no sistema. Verdade, verdade, nem todas as instituições do antigo regímen mereciam o desprezo do nosso século.
ASSIS, M. O alienista. Disponível em:
www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 2 jun. 2019 (adaptado).
O fragmento faz uma referência irônica a
formas de divulgação e circulação de informações em uma localidade sem
imprensa. Ao destacar a confiança da população no sistema da matraca, o
narrador associa esse recurso à disseminação de
a) campanhas políticas.
b) anúncios publicitários.
c) notícias de apelo popular.
d) informações não fidedignas.
e) serviços de utilidade pública.
QUESTÃO 02
Ed Mort só vai
Mort. Ed Mort. Detetive particular. Está na plaqueta. Tenho um escritório numa galeria de Copacabana entre um fliperama e uma loja de carimbos. Dá só para o essencial, um telefone mudo e um cinzeiro. Mas insisto numa mesa e numa cadeira. Apesar do protesto das baratas. Elas não vencerão. Comprei um jogo de máscaras. No meu trabalho o disfarce é essencial. Para escapar dos credores. Outro dia entrei na sala e vi a cara do King Kong andando pelo chão. As baratas estavam roubando as máscaras. Espisoteei meia dúzia. As outras atacaram a mesa. Consegui salvar a minha Bic e o jornal. O jornal era novo, tinha só uma semana. Mas elas levaram a agenda. Saí ganhando. A agenda estava em branco. Meu último caso fora com a funcionária do Erótica, a primeira ótica da cidade com balconista topless. Acabara mal. Mort. Ed Mort. Está na plaqueta.
VERISSIMO, L. F. Ed Mort: todas as histórias.
Porto Alegre: L&PM, 1997.
Nessa crônica, o efeito de humor é
basicamente construído por uma
a) segmentação de enunciados baseada na descrição dos
hábitos do personagem.
b) ordenação dos constituintes oracionais na qual se
destaca o núcleo verbal.
c) estrutura composicional caracterizada pelo arranjo
singular dos períodos.
d) sequenciação narrativa na qual se articulam eventos
absurdos.
e) seleção lexical na qual predominam informações
redundantes.
QUESTÃO 03
A arquitetura barroca realizou-se principalmente nos palácios e nas igrejas. A Igreja Católica queria proclamar o triunfo de sua fé, por isso realizou obras que impressionam pelo esplendor. Na Itália, por exemplo, há a praça de São Pedro (1657-1666). Um fator que merece ser assinalado é o reconhecimento de que as cercanias imediatas da obra arquitetônica eram importantes para a beleza da construção. Disso resultou a preocupação paisagística com grandes jardins dos palácios, como em Versalhes, na França, e com praças das igrejas, como a da basílica de São Pedro, no Vaticano. O trabalho realizado por Bernini para essa praça é um dos exemplos mais significativos da arquitetura e do urbanismo do século XVII na Itália.
PROENÇA, Graça. História da arte. Editora
Ática. 17 ed. São Paulo. 2000.
Nesse período artístico, se estabeleceu a
concepção de que
a) a forma elíptica do espaço em torno das igrejas era
importante para a estrutura arquitetônica, porém comprometia a beleza da
construção.
b) o espaço em torno da obra arquitetônica era importante
para a beleza da construção, pois auxilia a suntuosidade desse monumento à fé
católica.
c) a grandiosidade arquitetônica deveria ficar restrita às
igrejas, portanto o palácio barroco deveria manter a simplicidade e a
racionalidade.
d) o espaço externo da obra arquitetônica deveria
refletir sobriedade, pois não era um elemento importante para a beleza da
construção.
e) o uso de obelisco e de colunatas compromete
fortemente a beleza arquitetônica do espaço em torno da igreja.
QUESTÃO 04
Segundo quadro
Uma sala da prefeitura. O ambiente é modesto.
Durante a mutação, ouve-se um dobrado e vivas a Odorico, “viva o prefeito” etc.
Estão em cena Dorotéa, Juju, Dirceu, Dulcinéa, o vigário e Odorico. Este
último, à janela, discursa.
ODORICO –
Povo sucupirano! Agoramente já investido no cargo de Prefeito, aqui estou para
receber a confirmação, a ratificação, a autenticação e por que não dizer a
sagração do povo que me elegeu.
Aplausos vêm de fora.
ODORICO – Eu
prometi que o meu primeiro ato como prefeito seria ordenar a construção do
cemitério.
Aplausos, aos quais se incorporam as
personagens em cena.
ODORICO – Continuando o discurso: Botando de lado os entretantos e partindo pros finalmente, é uma alegria poder anunciar que prafrentemente vocês lá poderão morrer descansados, tranquilos e desconstrangidos, na certeza de que vão ser sepultados aqui mesmo, nesta terra morna e cheirosa de Sucupira. E quem votou em mim, basta dizer isso ao padre na hora da extrema-unção, que tem enterro e cova de graça, conforme o prometido.
GOMES, D. O bem amado. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2012.
O gênero peça teatral tem o entretenimento
como uma de suas funções. Outra função relevante do gênero, explícita nesse
trecho de O bem amado, é a
a) criticar satiricamente o comportamento de pessoas
públicas.
b) denunciar a escassez de recursos públicos nas
prefeituras do interior.
c) censurar a falta de domínio da língua padrão em eventos
sociais.
d) despertar a preocupação da plateia com a expectativa de
vida dos cidadãos.
e) questionar o apoio irrestrito de agentes públicos aos
gestores governamentais.
QUESTÃO 05
PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra.
BENONA: Eurico,
Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.
EURICÃO:
Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele.
BENONA: Mas
Eurico, nós lhe devemos certas atenções.
EURICÃO:
Você, que foi noiva dele. Eu, não!
BENONA: Isso
são coisas passadas.
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco atrás dele, sedento, atacado de verdadeira hidrofobia. Vive farejando ouro, como um cachorro da molest’a, como um urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio há de proteger minha pobreza e minha devoção
SUASSUNA, A. O santo e a porca. Rio de
Janeiro: José Olympio, 2013
Nesse texto teatral, o emprego das expressões
“o peste” e “cachorro da molest’a” contribui para
a) marcar a classe social das personagens.
b) caracterizar usos linguísticos de uma região.
c) enfatizar a relação familiar entre as personagens.
d) sinalizar a influência do gênero nas escolhas
vocabulares.
e) demonstrar o tom autoritário da fala de uma das
personagens.
QUESTÃO 06
O humor da tira decorre da reação de uma das
cobras com relação ao uso de pronome pessoal reto, em vez de pronome oblíquo.
De acordo com a norma padrão da língua, esse uso é inadequado, pois
a) contraria o uso previsto para o registro oral da língua.
b) contraria a marcação das funções sintáticas de sujeito e
objeto.
c) gera inadequação na concordância com o verbo.
d) gera ambiguidade na leitura do texto.
e) apresenta dupla marcação de sujeito.
QUESTÃO 07
E a indústria de alimentos na pandemia?
O editorial da edição de 10 de junho do British Medical Journal,
assinado por professores da Queen Mary University of London, na
Inglaterra, propõe uma reflexão tão interessante que vale provocá-la entre nós,
aqui também: a pandemia de Covid-19 deveria tornar ainda mais urgente o combate
à outra pandemia, a de obesidade.
O
excesso de peso, por si só, já é um fator de risco importante para o
agravamento da infecção pelo Sars-CoV 2, como lembram os autores. A
probabilidade de uma pessoa com obesidade severa morrer de Covid-19 chega a ser
27% maior do que a de indivíduos com obesidade grau 1, isto é, com um índice de
massa corporal entre 30 e 34,9 quilos por metro quadrado, de acordo com a
plataforma de registros OpenSAFELY. [...]
A impressão é de que as indústrias de alimentos verdadeiramente preocupadas com a população, cada vez mais acometida pela obesidade, deveriam aproveitar a crise atual para botar a mão na consciência, parar de promover itens pouco saudáveis e reformular boa parte do seu portfólio. As mortes por Covid-19 dão a pista de que essa é a maior causa que elas poderiam abraçar no momento.
Disponível em:
https://abeso.org.br/e-a-industria-de-alimentosna-pandemia. Publicado em 30 de
junho de 2020. Acesso em: 9 mar. 2021. (Adaptado.)
Em “[…] a pandemia de Covid-19 deveria tornar
ainda mais urgente o combate à outra pandemia, a da obesidade”, a
classe de palavra a que pertence o vocábulo destacado é
a) pronome demonstrativo.
b) pronome pessoal do caso oblíquo.
c) pronome pessoal do caso reto.
d) preposição.
e) artigo.
QUESTÃO 08
Leia Quem sabe um dia
Quem sabe um seremos
Quem sabe um viveremos
Quem sabe um morreremos!
Quem é que
Quem é macho
Quem é fêmea
Quem é humano, apenas!
Sabe amar
Sabe de mim e de si
Sabe de nós
Sabe ser um!
Um dia
Um mês
Um ano
Um(a) vida
QUINTANA, Mário. Antologia Poética, 5ª
edição. Rio de Janeiro. Ed. Alfaguara.
Na última estrofe do poema, o autor utilizou,
como recurso de expressividade, a(o)
a) exagero linguístico.
b) ordem inversa.
c) expectativa frustrada.
d) progressão temporal.
e) sentimentalização excessiva.
QUESTÃO 09
Ultra aequinoxialem non peccari
A
primeira vez que deparei com a máxima que encabeça este artigo foi ouvindo
“Não Existe Pecado ao Sul do Equador”, de Chico Buarque e Rui Guerra. A canção,
que fazia parte originalmente da peça Calabar (banida pela censura no início
dos anos 70), ganhou vida própria na voz insinuante e melindrosa de Ney
Matogrosso, como tema da novela Pecado Rasgado, da TV Globo, em 1978. Tempos de
diástole. Anos mais tarde, voltei a tropeçar nela. Curiosamente, a máxima
aparecia em nota de rodapé de Raízes do Brasil (1936), obra-prima do
historiador paulista (e pai de Chico) Sérgio Buarque de Holanda:
“Corria
na Europa, durante o século 17, a crença de que aquém da linha do Equador não
existe nenhum pecado: Ultra aequinoxialem non peccari. Barlaeus, que
menciona o ditado, comenta-o, dizendo: ‘Como se a linha que divide o mundo em
dois hemisférios também separasse a virtude do vício’”. [...]
Mas
o que despertou o meu interesse pela máxima seiscentista não foi a mera paixão
de antiquário – a curiosidade ociosa que impele o historiador de ideias ao
encalço, por vezes febril, de uma genealogia recôndita1. Foi a
súbita percepção do uso diametralmente oposto que pai e filho – historiador e
poeta – fizeram dela. [...]
Onde o historiador lamenta, o compositor festeja. A canção de Chico e Guerra nos convida a desfrutar o instante – “ubi bene, ibi patria” (“onde se está bem, aí é a pátria”) – e faz a celebração dionisíaca do excesso e da libidinagem.
Eduardo Giannetti, economista, professor,
Folha de S.Paulo, 4 de março de 1999
recôndita:
escondida, oculta.
Na frase: “A primeira vez que deparei com a
máxima que encabeça este artigo”, o uso do pronome demonstrativo “este” se deve
ao fato de:
a) referir-se ao elemento mais próximo (“artigo”) em
oposição ao mais distante (“máxima”).
b) tratar-se de um assunto (“artigo”) que ainda vai ser
dito ou mencionado.
c) tratar-se de um assunto (“artigo”) que já foi dito ou
mencionado.
d) o elemento a que se refere (“máxima”) estar próximo da
primeira pessoa, próximo do emissor, no caso, o autor do texto.
e) elemento a que se refere (“artigo”) estar próximo da
segunda pessoa, próximo do receptor, no caso, o leitor.
QUESTÃO 10
Há casais que jogam com os sonhos como se
jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. O jogo de tênis
é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo como bolha de
sabão. O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui,
quem ganha, sempre perde.
Já no frescobol é diferente. O sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois sabe-se que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. Assim cresce o amor. Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim […].
ALVES, R. Tênis X Frescobol. As melhores
crônicas de Rubem Alves. Campinas: Papirus, 2012.
O texto de Rubem Alves faz uma analogia entre
dois jogos que utilizam raquetes e as diferentes formas de as pessoas se
relacionarem afetivamente, de modo que
a) o tênis indica um jogo em que a cooperação predomina, o
que representa o distanciamento na relação entre as pessoas.
b) o tênis indica um jogo em que a competição é
predominante, o que representa um sonho comum no relacionamento entre pessoas.
c) o frescobol indica um jogo em que a cooperação
prevalece, o que simboliza o compartilhamento de sonhos entre as pessoas no
relacionamento.
d) o frescobol indica um jogo em que a competição
prevalece, o que simboliza um relacionamento em que uma pessoa busca destruir o
sonho da outra.
e) o frescobol e o tênis indicam, respectivamente, situações
de competição e cooperação, o que ilustra os diferentes sonhos das pessoas no
relacionamento.
QUESTÃO 11
Seixas era homem honesto; mas ao atrito da
secretaria e ao calor das salas, sua honestidade havia tomado essa têmpera
flexível da cera que se molda às fantasias da vaidade e aos reclamos da
ambição.
Era
incapaz de apropriar-se do alheio, ou de praticar um abuso de confiança; mas
professava a moral fácil e cômoda, tão cultivada atualmente em nossa sociedade.
Segundo essa doutrina, tudo é permitido em matéria de amor; e o interesse próprio tem plena liberdade, desde que se transija com a lei e evite o escândalo.
ALENCAR, J. Senhora. Disponível em:
www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 out. 2015.
A literatura romântica reproduziu valores
sociais em sintonia com seu contexto de mudanças. No fragmento de Senhora, as
concepções românticas do narrador repercutem a
a) resistência à relativização dos parâmetros éticos.
b) idealização de personagens pela nobreza de atitudes.
c) crítica aos modelos de austeridade dos espaços
coletivos.
d) defesa da importância da família na formação moral do
indivíduo.
e) representação do amor como fator de aperfeiçoamento do
espírito.
QUESTÃO 12
Leia a posteridade, ó pátrio Rio,
Em meus versos teu nome celebrado,
Por que vejas uma hora despertado
O sono vil do esquecimento frio:
Não vês nas tuas margens o sombrio,
Fresco assento de um álamo copado;
Não vês ninfa cantar, pastar o gado
Na tarde clara do calmoso estio.
Turvo banhando as pálidas areias
Nas porções do riquíssimo tesouro
O vasto campo da ambição recreias.
Que de seus raios o planeta louro
Enriquecendo o influxo em tuas veias,
Quanto em chamas fecunda, brota em ouro.
COSTA, C. M. Obras poéticas de Glauceste
Satúrnio. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br.
A concepção árcade de Cláudio Manuel da Costa
registra sinais de seu contexto histórico, refletidos no soneto por um eu
lírico que
a) busca o seu reconhecimento literário entre as gerações
futuras.
b) contempla com sentimento de cumplicidade a natureza e o
pastoreio.
c) lamenta os efeitos produzidos pelos atos de cobiça e
pela indiferença.
d) encontra na simplicidade das imagens a expressão do
equilíbrio e da razão.
e) recorre a elementos mitológicos da cultura clássica como
símbolos da terra.
QUESTÃO 13
O laço de fita
Não sabes, criança? 'Stou louco de amores...
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.
Na selva sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos de moça bonita,
Fingindo a serpente qu’enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de fita. [...]
Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova... formosa Pepita!
Ao
menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c’roa...
Teu laço de fita.
ALVES, C. Espumas flutuantes. Disponível em:
www.dominiopublico.gov.br.
Exemplo da lírica de temática amorosa de
Castro Alves, o poema constrói imagens caras ao Romantismo. Nesse fragmento, o
lirismo romântico se expressa na
a) representação infantilizada da figura feminina.
b) criatividade inspirada em elementos da natureza.
c) opção pela morte como solução para as frustrações.
d) ansiedade com as atitudes de indiferença da mulher.
e) fixação por signos de fusão simbólica com o ser amado.
QUESTÃO 14
Largo em sentir, em respirar sucinto,
Peno, e calo, tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.
O mal, que fora encubro, ou que desminto,
Dentro no coração é que o sustento:
Com que, para penar é sentimento,
Para não se entender, é labirinto.
Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;
Da tempestade é o estrondo efeito:
Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.
Mas oh do meu segredo alto conceito!
Pois não me chegam a vir à boca os tiros
Dos combates que vão dentro no peito.
Gregório de Matos e Guerra
No soneto, o eu lírico:
a) Expressa um conflito que confirma a imagem pública do
poeta, conhecido pelo epíteto de “o Boca do Inferno”.
b) Opta por sufocar a própria voz como estratégia
apaziguadora de suas perturbações de foro íntimo.
c) Explora a censura que o autor sofreu em sua época, ao
ser impedido de dar expressão aos seus sentimentos.
d) Estabelece, nos tercetos, um contraponto semântico entre
as metáforas da natureza e da guerra.
e) Revela-se como um ser atormentado, ao mesmo tempo que
omite a natureza de seu sofrimento.
QUESTÃO 15
Leia o
diálogo entre um adolescente e seus pais:
- Achamos que você passa tempo demais batendo
papo na internet...
- naum eh verdade >:-(
Na linguagem do filho, constata-se
a) a falta de comunicação entre os personagens.
b) uma linguagem acessível a todos e de fácil compreensão.
c) uma linguagem de mídia, comprovando o comentário dos
pais.
d) uma linguagem adequada do filho consoante as normas da
língua.
e) o exagero da mãe na observação sobre o tempo de uso do
filho na internet.
QUESTÃO 16
A obra Paisagem italiana (1805), do pintor alemão Jakob Philipp Hackert (1737-1807), remete, sobretudo, ao ideário doa) Realismo.
b) Romantismo.
c) Arcadismo.
d) Barroco.
e) Naturalismo.
QUESTÃO 17
Leia o trecho abaixo, retirado de I-Juca
Pirama, obra de Gonçalves Dias.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
sou filho do norte,
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Trata-se de um(a):
a) poema lírico.
b) poema épico.
c) cantiga de amigo.
d) novela de cavalaria.
e) auto de fundo religioso.
QUESTÃO 18
Leia o fragmento e observe a imagem para
responder à questão.
É ela! é ela! – murmurei tremendo,
e o eco ao longe murmurou – é ela!
Eu a vi... minha fada aérea e pura –
a minha lavadeira na janela.
Dessas águas furtadas onde eu moro
eu a vejo estendendo no telhado
os vestidos de chita, as saias brancas;
eu a vejo e suspiro enamorado!
Esta noite eu ousei mais atrevido,
nas telhas que estalavam nos meus passos,
ir espiar seu venturoso sono,
vê-la mais bela de Morfeu nos braços!
Como dormia! que profundo sono!...
Tinha na mão o ferro do engomado...
Como roncava maviosa e pura!...
Quase caí na rua desmaiado!
AZEVEDO, Álvares de. É ela! É ela! É ela! É
ela. In: Álvares de Azevedo. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 44.
Tanto a pintura quanto o excerto apresentados pertencem ao Romantismo. A diferença entre ambos, porém, diz respeito ao fato de que
a) no fragmento verifica-se o retrato de um ser idealizado,
ao passo que no quadro tem-se uma figura retratada de modo pejorativo.
b) na pintura tem-se o retrato de uma mulher de feições
austeras, ao passo que no poema nota-se a descrição de uma mulher sofisticada.
c) no excerto tem-se a descrição realista e não idealizada
de uma mulher, ao passo que na pintura retrata-se uma mulher idealizada.
d) na imagem tem-se uma moça cuja caracterização é
abstrata, ao passo que no poema tem-se uma mulher cujo aspecto é burguês e
requintado.
e) no quadro constata-se a imagem de uma moça simplória, ao
passo que no poema nota-se a caracterização de uma donzela de vida airada.
QUESTÃO 19
Leia o diálogo:
-
Detesto anglicismos, isso é coisa de loser
-
Fora que é totalmente out.
Nas falas, o efeito de humor é conseguido por
meio
a) da alteração do sentido de termos estrangeiros.
b) da utilização de um texto construído em português
castiço.
c) da incoerência entre o conteúdo da fala e a escolha
lexical.
d) de uma escolha lexical que evidencia a erudição
linguística.
e) de uma postura preconceituosa em relação ao uso de
coloquialismos.
QUESTÃO 20
Amor na escola
Duas da madrugada. O casal que discute no andar de baixo está tentando aprender. Eles pensavam que era só vestir branco, caprichar na decoração e fazer os convites chegarem a tempo. Mas não. Na escola, até logaritmo nos foi ensinado. Decoramos a tabela periódica. Nos empurraram química orgânica. Mas nada nos foi dito sobre o amor
GUERRA, C. Disponível em:
http://vejabh.abriI.com.br.
Qual é o recurso que identifica esse texto
como uma crônica?
a) A referência a um fato do cotidiano na vida de um casal.
b) A marcação do tempo em “Duas da madrugada”.
c) A descrição do espaço em “andar de baixo”.
d) A enumeração de conteúdos escolares.
e) A utilização dupla da conjunção “mas”.
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