21 outubro 2024

MATÉRIA RELACIONADA AO LIVRO "CEM ANOS DE SOLIDÃO"

 

Massacre das Bananeiras: conheça história real que inspirou “Cem Anos de Solidão

O governo colombiano, para proteger uma empresa dos EUA, ordenou o massacre de 2.000 trabalhadores.

 

Eduardo Lima

  

Um carregamento de bananas da United Fruit Company, na Costa Rica, em 1915

Gabriel García Márquez, vencedor do Nobel de Literatura de 1982, publicou Cem Anos de Solidão em 1967. O livro conta a história de diferentes gerações da família Buendía e da cidade que eles fundaram, Macondo.

         O escritor e jornalista se inspirou na história da Colômbia para escrever passagens que parecem fantasiosas, mas que tem um pé na realidade. A Guerra dos Mil Dias, por exemplo, aconteceu entre 1899 e 1902, colocando conservadores contra liberais e devastando o país. É nesse conflito real que a guerra civil retratada em Cem Anos de Solidão se inspira.

         Outro evento que inspirou García Márquez a escrever foi o Massacre das Bananeiras, ocorrido em 1928. Nesse sombrio episódio da história colombiana, o maior movimento trabalhista da história do país até então acabou com a morte de até dois mil trabalhadores, assassinados pelo exército da Colômbia para proteger os interesses de uma empresa americana.

O que foi o Massacre das Bananeiras

No livro, García Márquez conta a história de uma companhia bananeira que, para não reconhecer as reivindicações dos trabalhadores colombianos, fez um complexo malabarismo jurídico para dizer que, na verdade, não empregava trabalhador nenhum. Depois disso, “a grande greve estourou. Os cultivos ficaram pelo meio, a fruta apodreceu no pé e os trens de cento e vinte vagões ficaram parados nos desvios”, escreve.

         A greve de verdade, ocorrida na cidade de Ciénaga, começou com reivindicações de condições dignas de trabalho. Os trabalhadores passaram semanas tentando negociar com a United Fruit Company, empresa dos EUA que era a dona do maior latifúndio da Colômbia.

         Eles queriam ser reconhecidos como trabalhadores da UFC, além de compensação por acidentes no trabalho, uma jornada de trabalho de seis dias (com um dia de descanso remunerado), aumento nos salários e o fim do pagamento em cupons em vez de dinheiro. Tudo isso seguia a lei colombiana da época, diga-se.

         No dia 12 de novembro, pelo menos 25 mil pessoas pararam de trabalhar para que suas reivindicações fossem ouvidas. Depois de quase um mês, no dia 5 de dezembro, a empresa ainda não havia demonstrado interesse em negociar.

         Foi nesse dia que 700 soldados do exército colombiano chegaram em Ciénaga para controlar a situação. Eles foram enviados pelo governo de Miguel Abadia Méndez, representado pela figura do general Cortés Vargas. Mas os militares não estavam ali para defender os trabalhadores colombianos.

         Funcionários do governo dos Estados Unidos na Colômbia e da United Fruit (que continua existindo até hoje, mas com o nome de Chiquita Brands) mandaram telegramas para o Secretário de Estado dos EUA pintando os trabalhadores como comunistas subversivos. O governo colombiano tinha medo de não agradar os americanos e perder os mercados de banana dos EUA e da Europa.

         Os trabalhadores ficaram esperando um pronunciamento do governador na praça da cidade, ao lado da estação de trem de onde as bananas eram transportadas. Os homens e suas famílias, incluindo as crianças, tinham acabado de sair da missa quando ouviram o decreto oficial, que dizia que “os homens de força pública” poderiam castigar os trabalhadores “com armas”.

         Tanto no livro quanto na realidade, eles receberam o aviso de que deveriam sair da praça em cinco minutos. Depois disso, os soldados atiraram contra a multidão que ficou. O general assumiu responsabilidade por 47 mortes. Os outros corpos sumiram, e até hoje ninguém sabe com certeza quantas pessoas foram mortas. Algumas estimativas falam em cerca de 2.000 vítimas.

         Em Cem Anos de Solidão, o massacre é esquecido por todas as pessoas de forma mágica. “Não houve mortos” é o refrão que a população repete para o personagem José Arcádio Segundo, o único que parece se lembrar do episódio sombrio.

         Na vida real, o massacre também ficou esquecido, mas porque foi encoberto pelo governo desde o primeiro dia. Como escreveu o jornalista uruguaio Eduardo Galeano, “não houve necessidade de editar nenhum decreto para apagar a matança da memória oficial do país”. Anos depois, a literatura ajudou a preservar a memória do país que o governo tentou apagar.

 

Adaptado de: https://super.abril.com.br/historia/massacre-das-bananeiras-conheca-historia-real-que-inspirou-cem-anos-de-solidao





20 outubro 2024

SE EU FOSSE SHERLOCK HOLMES

 Se eu fosse Sherlock Holmes 

Os romances de Conan Doyle me deram o desejo de empreender alguma façanha no gênero das de Sherlock Holmes. Pareceu-me que deles se concluía que tudo estava em prestar atenção aos fatos mínimos. Destes, por uma série de raciocínios lógicos, era sempre possível subir até o autor do crime.

Quando acabara a leitura do último dos livros de Conan Doyle, meu amigo Alves Calado teve a oportuna nomeação de delegado auxiliar. Íntimos, como éramos, vivendo juntos, como vivíamos, na mesma pensão, tendo até escritório comum de advocacia, eu lhe tinha várias vezes exposto minhas ideias de “detetive”. [...]

Passei dias esperando por algum acontecimento trágico, em que pudesse revelar minha sagacidade. Creio que fiz mais do que esperar: cheguei a desejar.

Uma noite, fui convidado por Madame Guimarães para uma pequena reunião familiar. Em geral, o que ela chamava “pequenas reuniões” eram reuniões de vinte a trinta pessoas, da melhor sociedade. Dançava-se, ouvia-se boa música e quase sempre ela exibia algum “número” curioso: artistas de teatro, de “music hall” ou de circo, que contratava para esse fim. O melhor, porém, era talvez a palestra que então se fazia, porque era mulher muito inteligente e só convidava gente de espírito. Fazia disso questão.

A noite em que eu lá estive entrou bem nessa regra.

Em certo momento, quando ela estava cercada por uma boa roda, apareceu Sinhazinha Ramos. Sinhazinha era sobrinha de Madame Guimarães; casara-se pouco antes com um médico de grande clínica. Vindo só, todos lhe perguntaram:

– Como vai seu marido?

– Tem trabalhado por toda a noite, com uma cliente. [...]

O embaraço dele se dissipou, porque Madame Guimarães perguntou à sobrinha:

– Onde deixaste tua capa?

– No meu automóvel. Não quis ter a maçada de subir.

A casa era de dois andares e Madame Guimarães, nos dias de festas, tomava a si arrumar capas e chapéus femininos no seu quarto:

– Serviço de vestiário é exclusivamente comigo. Não quero confusões. [...]

Nisto, uma das senhoras presentes veio despedir-se de Madame Guimarães. Precisava de seu chapéu. A dona da casa, que, para evitar trocas e desarrumações, era a única a penetrar no quarto que transformara em vestiário, levantou-se e subiu para ir buscar o chapéu da visita, que desejava partir.

Não se demorou muito tempo. Voltou com a fisionomia transtornada:

– Roubaram-me. Roubaram o meu anel de brilhantes...

Todos se reuniram em torno dela. Como era? Como não era? Não havia, aliás, nenhuma senhora que não o conhecesse: um anel com três grandes brilhantes de um certo mau gosto espetaculoso, mas que valia de 60 a 80 contos.

Sherlock Holmes gritou dentro de mim: “Mostra o teu talento, rapaz!”.

Sugeri logo que ninguém entrasse no quarto. Ninguém. Era preciso que a polícia pudesse tomar as marcas digitais que por acaso houvesse na mesa de cabeceira de Madame Guimarães. Porque era lá que tinha estado a joia.

Saltei ao telefone, toquei para o Alves Calado, que se achava de serviço nessa noite, e preveni-o do que havia, recomendando-lhe que trouxesse alguém, perito em datiloscopia.

Ele respondeu de lá com a sua troça habitual:

– Vais afinal entrar em cena com a tua alta polícia científica?

Objetou-me, porém, que a essa hora não podia achar nenhum perito. Aprovou, entretanto, que eu não consentisse ninguém entrar no quarto. Subi então com todo o grupo para fecharmos a porta a chave. Antes de se fechar, era, porém, necessário que Madame Guimarães tirasse as capas que estavam no seu leito. Todos ficaram no corredor, mirando, comentando. Eu fui o único que entrei, mas com um cuidado extremo, um cuidado um tanto cômico de não tocar em coisa alguma. Como olhasse para o teto e para o assoalho, uma das senhoras me perguntou se estava jogando “o carneirinho-carneirão, olhai p’ra o céu, olhai p’ra o chão”.

Retiradas as capas, o zum-zum das conversas continuava. Ninguém tinha entrado no quarto fatídico. Todos o diziam e repetiam.

Foi no meio dessas conversas que Sherlock Holmes cresceu dentro de mim. Anunciei:

– Já sei quem furtou o anel.

De todos os lados surgiam exclamações. Algumas pessoas se limitavam a interjeições: Ah!”, “Oh!”. Outras perguntavam quem tinha sido.

Sherlock Holmes disse o que ia fazer, indicando um gabinete próximo:

– Eu vou para aquele gabinete. Cada uma das senhoras aqui presentes fecha-se ali em minha companhia por cinco minutos.

– Por cinco minutos? – indagou o Dr. Caldas.

– Porque eu quero estar o mesmo tempo com cada uma, para não se poder concluir da maior demora com qualquer delas que essa foi a culpada. Serão para cada uma cinco minutos cronométricos. [...]

E a cerimônia começou. Cada uma das senhoras esteve trancada comigo justamente os cinco minutos que eu marcara.

Quando a última partiu, saiu do gabinete, achei à porta, ansiosa, Madame Guimarães:

– Venha comigo – disse-lhe eu.

Aproximei-me do telefone, chamei o Alves Calado e disse-lhe que não precisava mais tomar providência alguma, porque o anel fora achado.

Voltando-me para Madame Guimarães entreguei-o então. Ela estava tão nervosa que me abraçou e até beijou freneticamente. Quando, porém, quis saber quem fora a ladra, não me arrancou nem uma palavra.

No quarto, ao ver Sinhazinha Ramos entrar, tínhamos tido, mais ou menos, a seguinte conversa:

– Eu não vou deitar verdes para colher maduros, não vou armar cilada alguma. Sei que foi a senhora que tirou a joia de sua tia.

Ela ficou lívida. Podia ser medo. Podia ser cólera. Mas respondeu firmemente:

– Insolente! É assim que o senhor está fazendo com todas, para descobrir a culpada?

– Está enganada. Com as outras converso apenas, conto-lhes anedotas. Com a senhora, não; exijo que me entregue o anel.

Mostrei-lhe o relógio para que visse que o tempo estava passando.

– Note – disse eu – que tenho uma prova. Posso fazê-la ver a todos.

Ela se traiu, pedindo:

– Dê sua palavra de honra que tem essa prova!

Dei. Mas o meu sorriso lhe mostrou que ela, sem dar por isso, confessara indiretamente o fato.

– E já agora – acrescentei – dou-lhe também a minha palavra de honra que nunca ninguém saberá por mim o que fez.

Ela tremia toda.

– Veja que falta um minuto. Não chore. Lembre-se de que precisa sair daqui com uma fisionomia jovial. Diga que estivemos falando de modas.

Ela tirou a joia do seio, deu-me e perguntou:

– Qual é a prova?

– Esta – disse-lhe eu apontando para uma esplêndida rosa-chá que ela trazia. – É a única pessoa, esta noite, que tem aqui uma rosa amarela. Quando foi ao quarto de sua tia, teve a infelicidade de deixar cair duas pétalas dela. Estão junto da mesa de cabeceira.

Abri a porta. Sinhazinha compôs magicamente, imediatamente, o mais encantador, o mais natural dos sorrisos e saiu dizendo:

– Se este Sherlock fez com todas o mesmo que comigo, vai ser um fiasco absoluto.

Não foi fiasco, mas foi pior.

Quando Sinhazinha chegara, subira logo. Graças à intimidade que tinha na casa, onde vivera até a data do casamento, podia fazer isso naturalmente. Ia só para deixar a sua capa dentro de um armário. Mas, à procura de um alfinete, abriu a mesinha de cabeceira, viu o anel, sentiu a tentação de roubá-lo e assim o fez. Lembrou-se de que tinha de ir para a Europa daí a um mês. Lá venderia a joia. Desceu então novamente com a capa e mandou pô-la no automóvel. E como ninguém a tinha visto subir, pôde afirmar que não fora ao andar superior.

Eu estraguei tudo.

Mas a mulherzinha se vingou: a todos insinuou que provavelmente o ladrão tinha sido eu mesmo, e, vendo o caso descoberto antes da minha retirada, armara aquela encenação para atribuir a outrem o meu crime.

O que sei é que Madame Guimarães, que sempre me convidava para as suas recepções, não me convidou para a de ontem... Terá talvez sido a primeira a acreditar na sobrinha.


MEDEIROS e ALBUQUERQUE, José Joaquim de Campos da Costa de. Se eu fosse Sherlock Holmes. In: PAES, José Paulo (org.). Histórias de detetive. São Paulo: Ática, 1993. (Para gostar de ler, v. 12).

 

 


 


 

1. O título do conto remete ao famoso personagem dos contos de detetive.

a) Que características de Sherlock Holmes inspiraram o narrador?

b) Quais traços do narrador-personagem permitem associá-lo ao detetive inglês?

2. Em determinado momento do conto, o narrador-personagem sugere que o próprio Sherlock Holmes participa da investigação com ele. Leia os trechos em que isso ocorre.

Trecho 1 – Sherlock Holmes gritou dentro de mim: [...]

Trecho 2 – Foi no meio dessas conversas que Sherlock Holmes cresceu dentro de mim. [...]

Trecho 3 – Sherlock Holmes disse o que ia fazer, indicando um gabinete próximo [...]

É possível afirmar que o narrador atua na investigação de maneira semelhante a Sherlock Holmes? Justifique.

3. O conto permite ao leitor identificar a época em que a história acontece, por meio da caracterização das personagens e dos costumes mencionados. Cite esses elementos.

4. A sagacidade do narrador o levou a fazer algumas deduções e a elucidar o caso antes mesmo de convocar as mulheres.

a) O que ele observou que foi fundamental para a elucidação do caso?

b) Como o narrador mostra ao leitor que encontrou algo no quarto?

c) Por que dados que revelam descobertas importantes sobre o crime não são apresentados claramente ao leitor no início do texto?

5. A partir do momento em que o narrador anuncia que já sabe quem era o autor do crime, a história começa a ficar parecida com os filmes de investigação policial.

a) O que ajuda a causar essa impressão?

b) A frase “E a cerimônia começou” contribui para a impressão de que o narrador seguirá as regras de uma investigação, como ouvir todos os presentes, ou agirá sem segui-las?

c) Que aspectos da condução da investigação e da elucidação do caso remetem à história de detetives, como as de Sherlock Holmes?

6. No conto de enigma, o leitor participa, com o detetive, do jogo de desvendar do crime.

a) Quais fatos apresentados antes do anúncio do sumiço do anel tornam Sinhazinha a principal suspeita do furto? Justifique.

b) Que informações parecem ser pistas falsas, ao sugerir outras pessoas como suspeitas?

c) O que a apresentação dessas informações pretende provocar no leitor?

7. O final do conto busca surpreender o leitor.

a) Como a personagem considera sua atuação no caso? Por quê?

b) Você esperava esse desfecho? Após ler o conto, como você avalia a situação da personagem?

8. No conto, ao privilegiar a discrição e não revelar a autoria do furto, o narrador-personagem reflete valores culturais que vigoravam na época retratada.

a) Qual foi a provável preocupação dele ao tomar essa decisão? O que essa atitude do narrador-personagem revela sobre os valores da época em que se passa o conto?

b) Em sua opinião, caso o conto fosse ambientado nos dias atuais, como seria o desfecho dessa história?

ONDE ESTÁ A SUA BICICLETA?

 




1. Por que o autor do artigo de opinião considera necessário discutir o uso da bicicleta como meio de transporte no Brasil, principalmente em relação às grandes metrópoles?

2. No artigo de opinião, o autor afirma que a bicicleta deve ser mais uma alternativa de transporte nas grandes cidades. De acordo com ele, quais benefícios o uso da bicicleta traz para esses locais?

3. O texto publicado no portal Pensamento Verde tem como sobretítulo (ou chapéu) o termo sustentabilidade, que significa o uso consciente dos recursos naturais sem comprometer sua disponibilidade para as futuras gerações.

a) Que relação é possível estabelecer entre o conceito de sustentabilidade e o assunto discutido no artigo?

b) Qual é a importância de se apresentar esse assunto em um artigo de opinião?

4. Os artigos de opinião são acompanhados do nome de quem os escreve. Em sua opinião, por que isso acontece?

5. Geralmente, o autor de um artigo de opinião é uma autoridade no assunto discutido no texto.

Com base nas informações apresentadas sobre o autor Leonardo Lorentz, o que o autoriza a se posicionar sobre o tema? Copie a alternativa mais adequada para responder a essa pergunta.

a) A opinião pessoal do autor sobre o assunto abordado.

b) A atuação profissional do autor em uma empresa de iniciativa sustentável.

c) A paixão do autor pelo ciclismo.

d) O conhecimento que o autor adquiriu ao ler textos sobre o assunto.

6. Qual dos trechos a seguir expressa apenas a opinião do autor sobre o assunto do texto? Copie apenas a alternativa correta.

a) [...] Para a ONU, a bicicleta é o transporte mais sustentável do mundo. [...]

b) Pedalar faz bem para o planeta, para o bolso e para a saúde, além de aproximar as pessoas. Duvida?

c) O uso da bicicleta é uma tendência mundial e alguns locais já estão bem desenvolvidos em relação às ciclovias. [...]

d) [...] Para distâncias de até cinco quilômetros nas áreas urbanas mais densas das cidades, há pesquisas que constatam que a bicicleta é o modal mais rápido, podendo chegar a uma velocidade entre 12 e 15 km/h.

7. Releia este trecho do artigo de opinião.

Engana-se quem acha que a introdução da ‘cultura da bicicleta’ deve ser construída prioritariamente pelos órgãos públicos. [...]

a) De acordo com a opinião do articulista, a quem cabe a responsabilidade de introduzir a “cultura da bicicleta”?

b) Você concorda com a opinião do articulista sobre quem são os responsáveis por introduzir a “cultura da bicicleta” ou discorda dela? Por quê?

c) Em sua opinião, que atitudes, mudanças e comportamentos precisam ser incentivados e implementados pelos responsáveis por introduzir a “cultura da bicicleta” nas cidades brasileiras?

8. O autor do artigo de opinião conclui o texto afirmando que o ato de pedalar traz diversos benefícios. Depois de você ter feito a leitura desse texto, o articulista convenceu você de que o uso da bicicleta no dia a dia faz bem para a saúde e o meio ambiente?

9. Para você, a leitura de um artigo de opinião pode mudar ou reforçar o ponto de vista dos leitores sobre o assunto que ele apresenta? Por quê?







14 outubro 2024

TEORIAS DA GRAMÁTICA

Acepção etimológica

(Lyons, 1979): o termo gramática provém, por meio do latim, de uma palavra grega que se pode traduzir como “a arte de escrever”, mas logo “esta palavra adquiriu um sentido muito mais extenso e acabou abrangendo todo o estudo da língua” (p. 139).

Conforme a perspectiva teórica, o termo sofre alterações. Então, vejamos:

Acepções dicionarizadas (Aurélio eletrônico, 1999)

1. A arte de falar e de escrever bem em uma língua.

2. E. Ling. Estudo ou tratado que expõe as regras da língua-padrão.

3. Obra em que se expõem essas regras.

4. Exemplar de uma dessas obras.

5. E. Ling. Estudo da morfologia e da sintaxe de uma língua.

6. E. Ling. Conhecimento internalizado dos princípios e regras de uma língua particular.

7. E. Ling. Estudo sistemático desse conhecimento.

8. E. Ling. Estudo dos morfemas gramaticais de uma língua, como artigos, preposições, conjunções, desinências.

 

1. Gramática descritiva. E. Ling.

Estudo da gramática que visa a descrever os padrões contidos num corpus falado ou escrito.

2. Gramática gerativa. E. Ling.

Teoria linguística que procura estabelecer, com base em princípios universais, um modelo geral de gramática, do qual derivariam as gramáticas de cada língua em particular; gramática gerativo-transformacional, gramática transformacional.

3. Gramática histórica. E. Ling

Estudo da evolução das línguas; linguística histórica.

4. Gramática normativa. E. Ling.

Aquela que prescreve as normas do bem falar e escrever, i.e., a que estabelece o padrão vigente; gramática prescritiva.

5. Gramática pedagógica. E. Ling

Obra destinada ao ensino de língua materna ou de uma língua estrangeira.

6. Gramática tradicional. E. Ling

Todo o estudo de cunho gramatical que segue os princípios impostos pela tradição anterior ao advento da ciência linguística.

7. Gramática universal. E. Ling.

Conjunto de pnncípios que restringe a forma e o funcionamento de qualquer gramática.


Acepções linguísticas

1. Gramática internalizada

* “Conjunto de regras que é dominado pelos falantes e que lhes permite o uso normal da língua” (Travaglia, 1997, p. 32)

* Corresponde a um conhecimento implícito da língua, altamente complexo e elaborado, que o falante possui e do qual lança mão ao falar;

* Sei fazer, mas não sei explicar (andar, comer...);

* Independente do grau de escolarização;

* Adquirida de forma espontânea e natural por meios das interações conversacionais

Exemplos:

A) Dona Chica fez um doce de dar água na boca.

B) *Um água boca dona de fez na doce dar Chica.

C) Dormiu profundamente.

D) *Dormiu exatamente.

E) Quero que façam uma narração.

F) *Roque que çamfa uma çãonarra.

 

2. Gramática descritiva

* Conhecimento explícito: “Conjunto de regras que o cientista encontra nos dados que analisa, à luz de determinada teoria e método.” (Neder, 1992, p. 49, apud Travaglia, 1996, p. 27)

* “É um sistema de noções mediante as quais se descrevem os fatos de uma língua, permitindo associar a cada expressão dessa língua uma descrição estrutural e estabelecer suas regras de uso, de modo a separar o que gramatical do que não é gramatical.” (Franchi, 1991, p. 52-3, apud Travaglia, 1996, p. 27)

* Descreve estrutura e funcionamento da língua, de sua forma e função.

Exemplos:

A) Eu vi ele ontem.

B) Os menino saiu correndo.

C) Me empresta seu livro.

D) Vende-se frangos.

E) Nóis trabaia pros homi das fazenda.

 

3. Gramática normativa

* “Gramática é o conjunto sistemático de normas para bem falar e escrever, estabelecidas pelos especialistas, com base no uso da língua consagrado pelos bons escritores.” (Franchi 1991, apud Travaglia, 1996, p. 24)

* Saber gramática significa conhecer tais normas e dominá-las tanto nocional quanto operacionalmente.

* Trata da variedade padrão como “certa” em contraposição aos desvios, erros, degenerações e deformações das demais variedades.

Exemplos: (Agramaticalidades)

A) Ela falou menas vezes que eu.

B) Daniela tava meia triste.

C) A gente compramos muito quiabo.

D) O chicrete exprodiu na cara dela.

E) As menina falaro do pobrema da Laura.

Questões:

1. Por que o termo gramática náo é mais concebido apenas como gramática tradicional?

2. Que teorias linguísticas sustentaram tais mudanças de concepção?

3. Como tais teorias mudaram os rumos do ensino de língua materna?

 

Teorias Linguísticas e suas concepções de Gramática

1. Estruturalismo

* Manuais de história da linguística: Ferdinand de Saussure (1857-1913) pai da linguística moderna, ou seja, estudos sincrônicos (séc. XX) em oposição aos diacrônicos (séc. XIX).

* Impacto do “Curso de Linguística Geral” (1916) se deu no fim da década de 1920 (Roman Jakobson e Nikolai Troubetzkoy).

* Os sincronistas passaram a ocupar mais espaço acadêmico na área dos estudos linguísticos, sem que os diacronistas perdessem força, pois a linguística, nas universidades, prosseguia como disciplina histórica.

* No século XIX, a Linguística, entendida como ciência, tinha cunho comparativista e histórico, desenvolvendo um método de manipulação de dados linguísticos enquanto dados linguísticos, resumido assim por Franz Bopp (1791-1867) no prefácio de sua Gramática Comparada: “As línguas de que trata esta obra são estudadas por si mesmas, ou seja, como objeto, e não como meio de conhecimento”.

 

2. Estruturalismo Europeu

* Segundo Lyons (1979, p. 51), “o estruturalismo considera cada língua como um sistema de relações – mais precisamente, como uma série de sistemas interrelacionados cujos elementos (fonemas, palavras, etc.) não são válidos fora das relações de equivalência e de oposição existente entre eles”.

 

3. Gramática segundo Saussurre

* A Linguística estática ou descrição de um estado de língua pode ser chamada de Gramática, no sentido muito preciso e ademais usual que se encontra em expressões como ‘gramática do jogo de xadrez’, ’gramática da Bolsa’, etc., em que se trata um objeto complexo e sistemático, que põe em jogo valores coexistentes. A Gramática estuda a língua como um sistema de meios de expressão; quem diz gramatical diz sincrônico e significativo, e como nenhum sistema está a cavaleiro de várias épocas ao mesmo tempo, não existe, para nós, “Gramática histórica’; aquilo a que se tal nome não é, na realidade, mais que a Lingüística diacrônica” (Saussure, 1916, p. 156)

 

Dicotomias saussurianas (I)

Sincronia – estudo que leva em consideraşão as relações existentes entre fatos coexistentes num sistema línguístico, tal como elas se apresentam num dado momento, fazendo abstração de qualquer noção de tempo.

Diacronia – estudo que leva em consideração as relações que um fenômeno qualquer, localizado ao longo de uma linha evolutiva (de tempo), mantém para com os fenômenos que o precedem ou que o seguem na linha da continuidade histórica.

 

Dicotomias saussurianas (II)

Langue (língua) – social em sua essência e independente do indivíduo (estudo é unicamente psíquico)

objeto autônomo definido dentro dos fatos da linguagem;

parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que por si não pode nem criá-la nem modificá-la (língua como fato social);

contrato estabelecído entre os homens (convenção);

não se constitui uma função do falante; é produto que o indivíduo registra passivamente.

“Se pudéssemos abarcar a totalidade das imagens verbais armazenadas em todos os indivíduos, atingiríamos o liame social que constitui a língua. Trata-se de um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros dum conjunto de indivíduos, pois a língua não está completa em nenhum, é na massa ela existe de modo completo.” (Saussure,1913, p. 21)

Parole (fala) - parte individual da linguagem (Fonação - psicofísica):

– combinações individuais, dependentes da vontade dos que a falam;

atos de fonação igualmente voluntários, necessários para a execução dessas combinações.

 

Dicotomias saussurianas (III)

Para Saussure, a unidade linguística é uma coisa dupla, constituída da união de dois termos. Para o linguista, o signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito (SIGNIFICADO) a uma imagem acústica (SIGNIFICANTE o termo imagem acústica parecerá, talvez, muito estreito, pois, ao lado da representação dos sons de uma palavra, existe também de sua articulação, a imagem muscular do ato fonatório). Imagem acústica não é o som material, mas a impressão psíquica desse som, a representação dele nos dá o testemunho de nossos sentidos; tal imagem é sensorial e, se chegamos a chamá-la “material”, é somente neste sentido, e por oposição a conceito, geralmente mais abstrato.

 

4. Funcionalismo

O programa saussuriano de investigação lingüística deixou herdeiros como:

Escola Linguística de Praga (República Checa, hoje):

Harmonizou os ensinamos de Saussure com os do psicólogo vienense Karl Bühler. Representantes: Nikolay Troubetzkoy (Princípios de fonologia), Roman Jakobson (Teses do Círculo Linguístico de Praga) e Wilhelm Mathesius (Língua, Cultura e Literatura). Juntos estabeleceram a “perspectiva funcional da sentença”. Para Saussure, na comunicação, os interlocutores têm pleno controle sobre os elementos pertinentes dos signos, mediante os quais se comunicam. Os falantes usam os signos linguisticos, reconhecendo traços pertinentes que permitem identificá-los.

Estende-se essa pertinência como algo que estabelece oposição significativa em termos linguísticos, como fonema e morfema. Por outro lado, essa forma de pensar esclarece pouco ou quase nada sobre o que acontece quando interpretamos signos linguísticos. Para Mathesius, por exemplo, a comunicação afeta dinamicamente nossos conhecimentos e nossa consciência das situações. Segundo ele, o dinamismo comunicativo se distribuiu desigualmente nos enunciados (unidade de comunicação verbal), ora mais ora menos dinâmicos. Conforme Mathesius, os enunciados comportam:

Tema: menos dinâmico; baixa informatividade; referência já estabelecida ou facilmente recuperável; dado; entidade sobre a qual se faz comentário (rema).

Rema: mais dinâmico; alta informatividade; novo; comentário; não-referencial.

Ex.: Ontem aconteceu um acidente perto da minha casa.

um acidente (tema)                aconteceu por volta das duas da tarde. (rema)

 

Função: papel de uma palavra em uma oração; relação entre forma, significado e contexto; valor desempenhado. Numa língua, relação que se dá entre duas formas, entre forma e significado ou entre um sistema de formas e o seu contexto.

Tais aspectos da teoria de Mathesius foram, mais tarde, retomados por outros linguistas como Halliday. A Escola Linguística de Praga demonstrou interesse pelas funções da linguagem, estabelecidas por Roman Jakobson:

>> Função emotiva (ou expressiva) centralizada no emissor, revelando sua opinião, sua emoção. Nela prevalece a 1a pessoa do singular, interjeições e exclamações. É a linguagem das biografias, memórias, poesias líricas e cartas de amor.

>> Função referencial (ou denotativa) centralizada no referente, quando o emissor procura oferecer informações da realidade. Objetiva, direta, denotativa, prevalecendo a 3a pessoa do singular. Linguagem usada nas notícias de jornal e livros científicos.

>> Função apelativa (ou conativa) centraliza-se no receptor; o emissor procura influenciar o comportamento do receptor. Como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o nome da pessoa, além dos vocativos e imperativo. Usada nos discursos, sermões e propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor.

>> Função fática: centralizada no canal, tendo como objetivo prolongar ou não o contato com o receptor, ou testar a eficiência do canal. Linguagem das falas telefônicas, saudações e similares

>> Função poética: centralizada na mensagem, revelando recursos imaginativos criados pelo emissor. Afetiva, sugestiva, conotativa, ela é metafórica. Valorizam- se as palavras, suas combinações. E a linguagem figurada apresentada em obras literárias, letras de música, em algumas propagandas etc.

>> Função metalinguística: centralizada no código, usando a linguagem para falar dela mesma. A poesia que fala da poesia, da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto. Principalmente os dicionários são repositórios de metalinguagem.

 

- Gramática para o funcionalismo

“Por gramática funcional entende-se, em geral, uma teoria da organizaçáo gramatical das línguas naturais que procura integrar-se em uma teoria global da interação social. Trata-se de uma teoria que assenta que as relações entre as unidades e as funções das unidades têm prioridade sobre seus limites e sua posição, e que entende a gramática como acessível às pressões do uso.

Quando se diz que a gramática funcional considera a competência comunicativa, diz-se exatamente que o que ela considera é a capacidade que os indivíduos têm não apenas de codificar e decodificar expressões, mas também de usar e interpretar essas expressões de uma maneira interacionalmente mais satisfatória”. (Moura Neves, 1997, p. 15)

 

ESTRUTURALISMO AMERICANO

* Entre os interesses que marcaram o estruturalismo americano costuma-se incluir o projeto dos linguistas desse período de descrever as línguas indígenas do continente. Esse orientação correspondia à crença de que cada língua apresenta sua gramática própria, o que foi reforçado nos anos 1950 pelas teses “relativistas” de Benjamin Lee Whorf, segundo as quais as diferenças linguísticas determinam diferenças no modo como as várias culturas representam a realidade. Os estruturalistas americanos não se reconheciam como saussurianos, mas bloomfieldianos (Leonard Bloomfield, autor de “Language”, 1933). Para ele, as únicas generalizações úteis a respeito de linguagem são de ordem indutiva.

* Indução: raciocínio cujas premissas têm caráter mais particular e a conclusão é geral.

* Dedução: raciocínio cujas premissas têm caráter mais geral e a conclusão é particular.

* Segundo Bloomfield, o sentido (mental e, portanto, faz parte da psicologia individual) não poderia ser estudado cientificamente. Recomendou adiamento do estudo da semântica até que a ciência tivesse produzido uma descrição exaustiva do mundo. Por isso, a exclusão da semântica por décadas significou um atraso nas reflexões a respeito do sentido. Então, a linguística estruturalista americana foi avessa ao estudo do sentido. Para reforçar o raciocínio indutivo, recorriam à constituição de um corpus de linguagem para propor generalizações.

 

Gramática Gerativa

>> Noam Chomsky, pai da Linguística Gerativa, inova a ciência da linguagem por associar o evento linguístico à mente em termos psicológicos ao propor a Gramática Gerativa ou Gramática Transformacional, o que muito contribuiu para a mudança de foco teórico e metodológico da Lingüística do século XX.

>> Saussure criou a dicotomia Língua e Fala, e Chomsky, a dicotomia Competência e Desempenho, já no plano mental ou cognitivo.

>> Competência: conhecimento subjacente e intemalizado que o falante tem de sua língua (semelhante à língua de Saussure).

>> Desempenho: uso que o falante faz de sua língua (semelhante à fala de Saussure)

 

Diferença entre competência/desempenho e língua/fala: para Chomsky, o conhecimento linguístico de um falante ultrapassa qualquer corpus. É que os falantes têm conhecimento ilimitado de sua língua ao criarem e reconhecerem (por meio de regras internalizadas) enunciados completamente novos eao serem capazes de identificar erros de desempenho. Entáo, a intuição do falante é que define se as sentenças são bem ou mal-formadas.

Ex.: Coisa para sofre menos de alemão pior atrasou*. - (agramatical)

Eu viajei daqui a um mês*. (agramatical)

O menino estava brincando na rua. (gramatical)

Eles foi tudo dizer que os político roubou de nóis. (gramatical)

 

Segundo Chomsky, o homem possui um aparato genético um Faculdade de Linguagem (inata, então), alocada no cérebro, o que marca a diferença entre ele e os outros seres do planeta. O linguista postula que a mente é modular, isto é, composta de módulos ou “órgãos” responsáveis por diferentes atividades, “o que equivale a dizer que a parte do cérebro/mente que lida com a língua tem especificidades frente àquela que lida, digamos, com a música”.

Afirma-se, então, que a Faculdade de Linguagem não é parte da inteligência como um todo, mas é específica, com um desenho especial para lidar com os elementos presentes nas língua naturais e não outros quaisquer. O próprio órgão de linguagem teria, então, sob-módulos. Tudo isso leva a crer que todas as línguas do mundo são idênticas, já que todo ser humano nasce com a Faculdade da Linguagem. No entanto, sabemos da diversidade de línguas que há no mundo. Ao todo, são cerca de 6.700 línguas no planeta. Para dar conta disso, Chomsky estabeleceu a teoria dos Princípios e Parâmetros:

>> Princípios:  A Faculdade da Linguagem é composta por princípios, que são leis gerais válidas para todas as línguas naturais,

>> Parâmetros: - e por parâmetros, que são propriedades que uma língua pode ou não exibir e que são responsáveis pela diferença entre as línguas.

 

Podemos introduzir então o conceito de Gramática Universal (GU), que é o estágio inicial de um falante que está adquirindo uma língua. A GU se constitui de princípios e parâmetros, estes sem valores ainda fixados. À medida que os valores vão sendo fixados, vão se constituindo as gramáticas da línguas. Ex.: línguas SVO, SOV, etc.

Chomsky define, então, uma teoria capaz de dar conta da criatividade do falante, de sua capacidade de emitir e de compreender frases inéditas. A gramática é um mecanismo finito que permite gerar um conjunto infinito de frases gramaticais (bem-formadas). Por isso, deu-se o nome de Gramática Gerativa. Dessa forma, também, a Gramática Gerativa se apresenta como um grande modelo teórico focado na sintaxe, embora contemple aspectos fonéticos,fonológicos e semânticos.

TEORIAS DE CUNHO ESTRUTURALISTA DÃO RELEVÂNCIA À FORMA (INTERNA DA LÍNGUA), CONSIDERANDO QUE AS PALAVRAS PORTAM SIGNIF ICADO.

O que é Gramática para Chomsky

Uma gramática é entendida como ’um sistema de regras que urte os sinais fonéticos às interpretações semânticas’ (Chomsky, 1966: 12) ou, como Chomsky vai repetir em outros lugares, “um sistema de unir sons a significados” (Borges Neto, 2004, p. 112-3)

 

Sociolinguística

VARIAÇÃO

* Concepção de língua, segundo William Labov (1968)

* Os procedimentos da linguística descritiva se baseiam no entendimento de que a língua é um conjunto estruturado de normas. No passado, foi útil considerar que tais normas eram invariantes e compartilhadas por todos os membros da comunidade linguística. Todavia, as análises do contexto social em que a língua é utilizada vieram demonstrar que muitos elementos da estrutura linguística estão implicados na variação sistemática que reflete tanto na mudança no tempo quanto os processos sociais extralinguísticos.

* Mollica (1994) - Sociolinguística: espaço de investigação interdisciplinar, atuando nas fronteiras entre língua e sociedade. Reconhece que as línguas são heterogêneas por natureza. Seu objeto de estudo é a variação, entendendo-a como princípio universal e geral, passível de ser descrito e analisado. Toda variação é motivada, ou seja, controlada por fatores de maneira tal que a heterogeneidade se delineia sistemática e previsível. As mudanças não são aleatórias.

Segundo Mollica, variantes são equivalentes semanticamente que ocorrem num dado estado de tempo. Podem se manter estáveis por um período ou podem encontrar-se em estágio de mutação. Neste caso, uma das formas tende a desaparecer e é substituída por outra. “A Sociolinguística investiga o grau de estabilidade ou de mutabilidade da variação, diagnosticando as variáveis que contextualizam as variantes e descrevendo seu comportamento preditivo”


* Segundo Beline (2005), há variação das línguas:

>> No sentido amplo de que existem diferentes linguas do mundo (no Brasil, na época da conquista, havia 1.273; hoje, além do português, são l80 línguas indígenas, segundo estimativa do pesquisador Aryon Rodrigues)

>> No sentido estrito, quando se pensa, por exemplo, nos dialetos brasileiros, isto é, os falares baiano, carioca, mineiro, amazonense, bem como falares de classes socias distintas e também em           siuações  mais ou  menos formas,  etc.

* Estudos variacionistas em sociolinguística:

>> Perspectiva quantitativa: tenta desvendar como a heterogeneidade se organiza, de que modo a variação é regulada;

>> Perspectiva dialetológica: tenta estabelecer as fronteiras entre falares de uma língua, ou seja, investiga os modos de falar de acordo com a regiãó geográfica (variação diatópica), com a situação de fala ou registro (variação diafásica) e com o nível socioeconômico do falante (variação diastrática).

Variação pode se dar no eixo:

> Diatópico: alternâncias se expressam regionalmente, considerando-se limites físico-geográficos.

Variações lexicais: abóbora/jerimum, jabá/came seca, aipim/mandioca/macaxeira, bisnaga/bengala, tu/você

Variação fonética: “mesmo” em JF e “mesmo”, no Rio de Janeiro; “alô(r)” no Triângulo Mineiro e  “alô” na Zona da Mata Mineira.

> Diastrático: manifesta-se de acordo com os diferentes extratos sociais, levando-se em conta fronteiras sociais:

Variação Morfossintática: Eles estudam inglês/ Eles estuda inglês.

Variação fonétíca: Framengo/  flamengo.

> Diafásico: ocorre conforme a situação, mais ou menos formal, em que se está falando.

Variação morfolóqica: andá/andar; falá/falar; “tá”/”está";

Variacão Morfossintática: Eu vi ele ontem/Eu o vi ontem

Tais exemplos ilustram a variabilidade interna da Língua Portuguesa, com equivalência semântica.

“A variável linguística é, portanto, um conjunto de duas ou mais variantes. Estas, por sua vez, sáo diferentes formas linguísticas que veiculam um mesmo sentido”. (Beline, 2005, p. 122)

 

Mas será que veiculam o mesmo sentido?

Ex.: Olha, eu não vou sair agora.../ Olha, eu náo vou sair agora não...


Estamos diante de duas variantes na sintaxe da negação, cujos sentidos são os mesmos? Ou diante de construções distintas? Podemos dizer que sinônimos perfeitos? As sentenças ou as palavras são mesmo intercambiáveis?

Beijar/oscular, Comer/mastigar, Roubar/furtar, Andar/caminhar

Exemplo sem classificação (variação sintática): Você acredita isso? /Você acredita nisso?

Gramática das Construções (Fillmore e Kay, 1990, 1993; Fillmore, 1988; Goldberg, 1995): muda a forma, muda o sentido.

 

MUDANÇA

Como já foi visto, para os sociolinguistas e primeiramente para Labov, toda língua apresenta variação, o que é potencialmente um desencadeador de mudança. Por isso, variação e mudança estáo estreitamente relácionadas.

Por que as línguas mudam?

Coseriu (1979): a língua nunca está pronta; é algo por refazer; a cada geração, a cada situação de fala, cada falante está recriando a língua. Por isso, a língua está sujeita a alterações graduais. No entanto, é preciso respeitar em certa medida a tradição. “Há então um delicado jogo de continuidade e de inovações, estas sempre em número menor” (Chagas, 2005, p. 150)

Como se origina uma mudança linguística? Duas circunstâncias:

>> Externa: ação de um ou mais elementos externos à língua e à sociedade em que ela se insere. É o que ocorre quando uma língua entra em contato com a outra. Ex.: latim e demais línguas com as quais romanos entraram em contato.

>> Interna: o latim possuía ordem vocabular livre e, a partir do momento em que a língua passou a perder sons finais, vão desaparecendo as desinências de caso. Há a necessidade de uma ordem vocabular mais rígida a fim de marcar papéis sintáticos. Tudo isso conduz a uma mudança por fatores internos à língua.

Ex.: Debemus iram uitare. (Sêneca) / Devemos evitar a ira.

 

Sociocognitivismo

O que é Linguística (Socio)Cognitiva?

Segundo Croft e Cruse (2004), a Linguística Cognitiva (LC), como uma das abordagens de estudo da linguagem, fundamenta-se em três hipóteses principais:

Hipótese 1. a Iinguagem não é uma faculdade cognitiva autônoma

* Em oposição às ideas chomskyanas, que defendem a línguagemc omo uma faculdade inata ou um módulo cognitivo autônomo, separado das outras habilidades cognitivas.

A) conhecimento linguístico é estrutura conceptual (ato de conceber ou criar mentalmente, de formar idéias, especialmente abstrações);

B) os processos cognitivos que governam o uso da linguagem são os mesmos que governam outras habilidades cognitivas (percepção visual, raciocínio e habilidade motora).

Hipótese 2: a gramática é conceptualização

* Oposta à semântica de condições de verdade.

* Tarski (1944): “A neve é branca” é verdadeiro e se somente se a neve é branca.

* Conceptualização da experiência a ser comunicada.

Hipótese 3: o conhecimento da linguagem emerge do uso da linguagem

Oposta às noções da Gramática Gerativa e da semântica de condições de verdade, que não privilegiam fenômenos semânticos, por exemplo.

“Categorias e estruturas na semântica, sintaxe, morfologia e fonologia são constiidasa pahirde nossoconhecmento deemissõesespecfcassobre ocasiões específicas de uso" (Croft e Cruse, 2004).

 

*Inatismo relativizado

Inatismo não é a principal preocupação da LC, embora se reconheça que haja componentes inatos para gerar habilidades cognitivas humanas. A LC preocupa-se, fundamentalmente, em demonstrar o papel das habilidades cognitivas gerais na linguagem.

Premissas básicas segundo Fauconnier (1997) e Salomão (1999):

1. A escassez do significante:

* significante subdetermina significado;

* não sentido literal (sentido literal de “prova”?);

* “periferia está no centro”, ou seja, semiose clássica (expressão gramatical e lexical) age em paralelo com outras semioses (prosódia, gestos, olhares, etc).

2. A semiologização do contexto:

* premissa correlata à anterior;

* o contexto ou circunstância em torno da produção do sentido tem atuação decisiva;

* dinamismo contextual;

* “Isso aqui é assim mesmo”;

* “Boa prova” (Salomão, 1999)

* MODELOS COGNITIVOS IDEALIZADOS (MCls): A polícia invadiu o bordel/. Elas saíram correndo sua afora. (Marcuschi, 1998, 1999)

> Contexto > Linguagem > Contexto > Linguagem >...

“Onde termina a linguagem? Onde começa o contexto? Dentro da perspectiva que adotamos, o mundo (para nós que o percebemos ou o conceptualizamos) é também sinal, há, poranto, uma continuidade essencial entre linguagem, conhecimento e realidade” (Salomão, 1999, p. 71)

3. O drama das representações:

* Segundo Salomão (1999), interpretar é representar, no sentido dramático de representaçáo;

* “Fazer sentido (ou interpretar) é necessariamente uma operação social na medida em que o sujeito nunca constrói o sentido em si, mas sempre para alguém (ainda que este alguém seja si mesmo)” (Salomão, 1999);

Segundo Clark (1996), a linguagem é usada para se fazer coisas. O uso da linguagem, para ele, é uma forma de ação conjunta, levada a cabo por pessoas que atuam em coordenaçáo umas com as outras, como uma valsa, em que os passos individuais são dados em nome do conjunto. Esse uso comporta, então, um acordo mútuo entre processos individuais e sociais.

* FAUC ONNIER, G. Mappings in thought and language. Cambridge: Cambridge, 1997.

* “É dificil ser o zoólogo e o elefante ao mesmo tempo” (Fauconnier, 1997, p. 32)

 

HIPÓTESE CENTRAL:

AS CORRESPONDÊNCIAS (“MAPEAMENTOS”) ENTRE DOMÍNIOS ESTÃO NO CORAÇÃO DA FACULDADE COGNITIVA HUMANA EXCLUSIVA DE PRODUZIR, TRANSFERIR E PROCESSAR SIGNIFICAÇÃO.

 

CORRESPONDÊNCIA = MAPPING (no sentido matemático, mapping é uma correspondência entre dois conjuntos que atribui para cada elemento do primeiro conjunto uma contraparte no segundo)


* A estrutura e o uso da linguagem fornecem pistas para a existência dessas correspondências e domínios subjacentes. lsso é parte de um empreendimento cognitivo mais geral que considera modelos sócio-culturais, aprendizagem, desenvolvimento psicológico e correspondência neurobiológica.

* A construção da significação exige operações altamente complexas que atuam dentro e através dos domínios quando pensamos, agimos e comunicamos. Tais domínios são mentais, os quais incluem base cognitiva e modelos mentais localmente (nessa área) introduzidos por espaços mentais, de estrutura parcial.

* Então, a principal meta da Linguística Cognitiva (LC) é especificar a construção da significação: suas operações, seus domínios e como isso está refletido na linguagem. Quais esquemas estão por trás da gramática do dia a dia?

* Para Fauconnier (1997, p. 1), A LINGUAGEM VISÍVEL É APENAS A PONTA DO ICEBERG DA CONSTRUÇÃO INVIS ÍVEL DA SIGNIFICAÇÃO, QUE ACONTECE QUANDO FALAMOS E PENSAMOS. Segundo ele, a cognição define nossa vida mental e social. A CONSTRUÇÃO DA SIGNIFICAÇÃO É A PEDRA FUNDAMENTAL DA CIÊNCIA COGNITIVA.

 

A importância da construção da significação

> Paradoxo: Conhecemos mais sobre galáxias distantes do que sobre o centro de nosso próprio planeta. Sabemos mais sobre o mundo em nossa volta do que sobre nossas mentes e cérebros (Fauconnier, 1997).

> A pesquisa científica começa por observar o mundo externo, antes de se debruçar sobre o mundo interno (corpo, cérebro, mente, sociedade...). Física e Química precederam a Biologia, que precedeu a Ciência Cognitiva e a Sociologia.

> A partir das Ciências Cognitivas, como de outras ciências, podemos inferir uma estrutura rica e complexa com base em dados parciais e precários.

> “EMBORA OS CÉREBROS ESTEJAM FISICAMENTE PRÓXIMOS E ACESSÍVEIS, MUITO DO QUE IMAGINAMOS SOBRE SUA ORGANIZAÇÃO, NO NÍVEL NEUROBIOLÓGICO FUNDAMENTAL, OU EM ALGUM NÍVEL MAIS ABSTRATO DE COGNIÇÃO, É APREENDIDO INDIRETAMENTE, OBSERVANDO-SE VÁRIOS TIPOS DE ENTRADAS (INPUT) E SAÍDAS (OUTPUT). NO CASO DE MENTE/CÉREBRO HUMANOS, UM TIPO DE SINAL É ESPECIALMENTE PENETRANTE E LIVREMENTE ACESSÍVEL, QUE É A LINGUAGEM. QUE SABEMOS QUE A LINGUAGEM ESTÁ INTIMAME NTE CONECTADA A ALGUNS PROCESSOS MENTAIS IMPORTANTES, TEMOS EM PRINCÍPIO UMA RICA E VIRTUALMENTE INESGOTÁVEL FONTE DE DADOS PARA INVESTIGAR ALGUNS ASPECTOS DOS PROCESSOS MENTAIS” (Fauconnier, 1997, p. 2-3)

* Quando se esudam estrelas e componentes do átomo, as teorias que os cercam são mantidas à parte. Com a linguagem isso não acontece. COM RELAÇÃO À LINGUAGEM E O PENSAMENTO, ISSO OCORRE DE FORMA DISTINTA. NÓS, ESTUDIOSOS DA LINGUAGEM E DO PENSAMENTO, USAMOS A LINGUAGEM E O PENSAMENTO PARA REFLETIR SOBRE LINGUAGEM E PENSAMENTO. “AS ESTRELAS E O TELECÓPIO SÃO CONFUNDIDOS: LINGUAGEM E PENSAMENTO PODEM SER NSTRUMENTOS PARA ANALISAR LINGUAGEM E PENSAMENTO?” (Fauconnier, 1997, p. 3)

* Mistério da linguagem: os sinais linguísticos provenientes da mente são comparados a sinais recebidos de galáxias distintas ou a sinais de átomos. Tais sinais nos autorizam a hipotetizar sobre estruturas subjacentes e princípios organizacionais que não podemos apreender diretamente. 











1. Porque, de acordo com ele, as metrópoles são as maiores produtoras de poluição, devido ao trânsito congestionado e à quantidade de veículos automotores, e porque a maioria de seus habitantes (60%), segundo um estudo, gostaria de usar esse modal para se locomover até o trabalho.

2. O uso da bicicleta contribui para uma cidade mais inclusiva, com qualidade de vida e com benefícios para o meio ambiente, como redução dos congestionamentos e do barulho, melhoria na segurança viária e diminuição significativa da poluição do ar e nas emissões de gases de efeito estufa.

3.

a) Como a bicicleta é um meio de transporte que não polui o meio ambiente, usá-la como alternativa de transporte é uma atitude sustentável.

b) Promover a reflexão e a conscientização dos leitores diante de um tema atual e, geralmente, de interesse da sociedade.

4. Por se tratar da opinião da pessoa que escreve o texto, é ela quem se responsabiliza publicamente pelo posicionamento que defende no artigo.

5. B.

6. B.

7. a) A responsabilidade deve ser de toda a sociedade: órgãos públicos, cidadãos e empresas que adotam transporte em duas rodas, como as de serviços de entrega de alimentos e as farmácias.








1. a) A observação atenta aos fatos, o raciocínio lógico e a perspicácia, ou seja, a capacidade de perceber e de entender os acontecimentos da trama com facilidade.

b) Ter conhecimento dos métodos de investigação do detetive inglês e ter a capacidade de depreender algo pelos pequenos sinais do ambiente e do comportamento das pessoas.

2. Sim, porque o narrador emprega os mesmos métodos do detetive inglês, ao prestar atenção aos mínimos detalhes e fatos e, a partir deles, fazer deduções lógicas.

3. Vários elementos indicam a época: o vestuário usado pelas mulheres (capas e chapéus); as festas com apresentações de teatro, circo e palestras para entreter os convidados; e a expressão contos [de réis] para mencionar a moeda usada no período, o Real brasileiro, ao mencionar o valor do anel.

4. a) As pétalas amarelas de rosa-chá encontradas no aposento da tia eram da mesma espécie de flor usada por Sinhazinha em um enfeite comum na época.

b) De maneira indireta, ao dizer que ficou olhando para o teto e para o assoalho (como na canção citada por uma senhora), momento em que provavelmente estava verificando de onde poderiam ter vindo as pétalas.

c) Para compor o clima de mistério da trama e surpreender o leitor ao final da narrativa, quando são revelados o criminoso e o raciocínio dedutivo que desvenda o crime.

5. a) A partir daí, começa a investigação e a personagem assume o papel de Sherlock Holmes.

b) A expressão indica que ele irá seguir as regras de uma investigação policial.

c) O modo imprevisível e inusitado como o narrador investiga e soluciona o caso é uma estratégia que se assemelha

às das investigações em filmes, como isolar a área do crime, colher pistas no local, ouvir testemunhas e suspeitos.

6. a) Primeiro, quando Madame Guimarães pergunta a Sinhazinha onde colocou sua capa e ela responde que a deixou no automóvel, para não ter de subir ao quarto da tia; e, em seguida, quando Madame Guimarães comenta com os convidados que ela era a responsável por guardar as peças de vestuário (das convidadas) em seu quarto, isto é, a única pessoa a entrar nele durante o evento.

b) A informação de que havia um grande número de convidados, assim como o fato de que o marido de Sinhazinha não estava com ela, o que poderia levar o leitor a suspeitar de que ele teria entrado escondido na casa e furtado o anel.

c) Pretende fazer o leitor desconfiar de que o criminoso pode ser qualquer uma das personagens ou alguém relacionado a elas.

7. a) Ela considera pior do que um fiasco. Porque, ao atuar na investigação buscando proteger a identidade de Sinhazinha, possibilitou que ela a apontasse como suspeito ou responsável pelo furto.

8. a) Provavelmente, preocupou-se com a reputação de Sinhazinha, uma vez que, caso os convidados soubessem, ela perderia o respeito de todos, pois seria considerada uma criminosa. Essa atitude revela valores culturais e éticos como honestidade e respeito pelo outro.

b) O contexto histórico determina, ou ao menos revela, comportamentos e valores. Nos dias de hoje, a responsável pelo furto seria revelada e punida.


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